Eleição entre procuradores mantém críticos de Aras em conselho do MPF

Colégio de Procuradores da República elegeu nesta semana os subprocuradores Mario Bonsaglia e Luiza Frischeisen para duas vagas no Conselho Superior do MPF (Ministério Público Federal). Críticos da gestão Augusto Aras, ambos os subprocuradores estavam na lista tríplice elaborada pela categoria no ano passado e ignorada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

O Conselho Superior do MPF é o órgão máximo da Procuradoria-Geral da República, responsável por editar normas internas e conduzir sindicâncias. Foi em uma das sessões do colegiado que Aras discutiu com o subprocurador Nívio de Freitas e avançou contra o colega, sendo impedido por seguranças.

A eleição desta semana reconduz Mario Bonsaglia ao colegiado. O subprocurador foi eleito ao grupo em 2020, desbancando nomes ligados a Aras. A subprocuradora Luiza Frischeisen, por sua vez, assumirá a vaga de Nicolau Dino, que também integrou a lista tríplice ignorada pelo Planalto.

Segundo o Conselho, Bonsaglia recebeu 657 votos; Luiza recebeu 642. A eleição registrou 119 votos em branco.

Na próxima semana, uma nova votação será feita, agora restrita à categoria de subprocuradores-gerais, para as vagas dos subprocuradores José Bonifácio de Andrada e Maria Caetana Cintra Santos. Ambos são vistos internamente como mais “neutros” na relação com o PGR.

Discussão quase terminou em briga

No último dia 24, uma discussão entre Aras e o subprocurador Nívio de Freitas quase terminou em briga no Conselho Superior do MPF. O bate-boca começou durante o debate sobre os critérios para a eleição dos membros das câmaras temáticas da PGR, responsáveis por orientações sobre casos que vão de combate à corrupção, direito indígena e meio ambiente.

Nívio discordou das regras apresentadas por Aras, e interrompeu a fala do PGR.

“Eu gostaria que Vossa Excelência respeitasse a direção dos trabalhos. O conselheiro Nicolao está falando. Eu estou ouvindo. Vossa Excelência, respeite a direção dos trabalhos”, disse Aras, apontando o dedo para Freitas.

Na sequência, o subprocurador Nicolao Dino pede a palavra.

“Pode, eu só não posso admitir essa bagunça que o colega?”, responde Aras, que é interrompido por Nívio.

“Bagunça? Mas Vossa Excelência também interferiu quando o colega estava falando! Então, se Vossa Excelência quer respeito, que me respeite também”, disse.

Aras se irritou e rebateu o colega. “Vossa Excelência não é digno de respeito!”. Freitas então responde Aras e diz que “digo o mesmo de Vossa Excelência”.

Nesse momento, Aras bateu na mesa, se levantou e partiu para cima do colega. A transmissão da sessão foi interrompida, mas é possível ouvir Nívio de Freitas dizer: “Não chegue perto de mim!”. Antes do corte, observa-se que outros integrantes da sessão se levantaram também.

Reservadamente, subprocuradores relataram ao UOL que, embora o clima dentro do Conselho Superior do MPF seja sempre um pouco “tenso”, o episódio de hoje foi considerado “incomum” e alguns integrantes demonstraram preocupação com a reação de Aras. “Extrapolação completa”, disse um integrante da PGR.

O gabinete de Aras disse que não comentaria o episódio.