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sábado 21 de maio de 2022 às 07:31h

Renda dos caminhoneiros encolheu 11% em seis anos e o frete subiu, aponta estudo

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Em seis anos, a renda média dos caminhoneiros no Brasil caiu 11%, passou de R$ 3.600, em 2015, para R$ 3.200, em 2021. O dado é de um estudo organizado pela Childhood Brasil em parceria com a Universidade Federal de Sergipe. Segundo a TV Record, a perda de renda é ainda mais grave na comparação com o valor do salário mínimo.

Em 2010, por exemplo, a renda média dos caminhoneiros era de 5,7 salários mínimos. Em 2015, passou a 4,5 e, em 2021, representa 2,9 salários. O que significa que, em 11 anos, o motorista de transporte de cargas profissional perdeu quase três salários mínimos no período.

O preço do diesel e dos derivados do petróleo é apontado como um dos grandes vilões da categoria. Quem está na rua afirma que não consegue rodar ou manter a frota com o preço atual. Na última segunda-feira (9), a Petrobras fez um novo reajuste no preço do combustível para as distribuidoras, que passará de R$ 4,51 para R$ 4,91 o litro.

Wallace Landim, conhecido como Chorão, e presidente da Abrava (Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores), é categórico ao afirmar que o abastecimento no Brasil está ameaçado. Em 12 meses, até abril, o óleo diesel acumula alta de 53,58%, segundo o último balanço do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na quarta-feira (11).

“A gente caminha para o colapso. Mais de 45% dos caminhões estão parados por não ter condições de rodar, então a falta de abastecimento é natural e isso reflete no bolso de toda a sociedade. Hoje você vai ao supermercado e o quilo da cenoura passa dos R$ 10, isso também tem a ver com o custo do transporte. Está insustentável”, diz Chorão, que foi um dos líderes da categoria durante as manifestações dos caminhoneiros em 2018.

Outro dado apontado pela pesquisa é que a possibilidade de ter e manter um caminhão próprio é cada vez menor. No estudo anterior, de 2015, 53% dos entrevistados eram donos do automóvel que dirigiam. Porém, o percentual caiu para 22,8% em 2021. Segundo a série histórica, esse é o menor percentual desde 2005, quando a pesquisa começou a ser feita.

Para Chorão, esse dado também está diretamente ligado ao aumento dos combustíveis. “A conta não fecha, além de precisar do diesel para rodar, toda a nossa manutenção está ligada a derivados de petróleo, óleo lubrificante e pneu, por exemplo, esses são os insumos que mais consumem a nossa renda. Em um trecho de mil quilômetros, a gente perde, em média, R$ 300”, comenta.

Esse custo impacta diretamente nos preços de produtos e serviços. Comerciante no Ceasa do Distrito Federal, Francinildo Rocha conta que o nos últimos 15 dias precisou aumentar R$ 0,50 centavos no preço do quilo da banana. “Nas últimas duas semanas, o frete, que já tinha subido muito, aumentou mais R$ 400 para nós. Não temos como segurar o preço porque o caminhão não roda sem diesel. Então toda vez que o governo aumenta o valor do combustível, repassamos o custo”, diz.

Na última quinta-feira (12), o presidente Jair Bolsonaro disse que vai recorrer à Justiça para baixar o valor dos combustíveis no Brasil. Ele não deu detalhes do que pretende apresentar, mas comentou que é necessário “tomar alguma atitude” para impedir a escalada dos preços. Além disso, reclamou da Petrobras e disse que a empresa precisa ter responsabilidade com a população.

Caminhões velhos, custo alto
Carlos Alberto Litti Dahmer, diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística da CUT, destaca que a maioria dos caminhoneiros têm veículos velhos, com idade média de 21 anos, que consomem 20% a mais de óleo diesel se comparados a caminhões novos, com tecnologia mais avançada. “Esse [trabalhador] é o primeiro de uma lista que vai ser atacado por mais um aumento”, diz o dirigente.

No total, entre veículos de autônomos e de transportadoras, segundo Litti Dahmer, rodam pelas estradas brasileiras cerca de um milhão de veículos mais velhos. Ele ressaltou que as pequenas e médias empresas de transporte também terão dificuldades.

O diretor explica que o custo para manter um caminhão novo, de até sete anos, é, em média, 40% do rendimento do caminhoneiro. Já um veículo com 20 anos de uso custa 60% da renda do profissional.

Esse é o caso do motorista de caminhão Zevaldo Queiroz de Oliveira. Nas estradas há 17 anos ele conta que, apesar de gostar da profissão, viu as condições de trabalho se deteriorarem para a categoria. “Eu mesmo, se tivesse um caminhão próprio, não conseguria manter. Os gastos são muito altos, tudo está muito caro. A cada aumento dos combustíveis, os caminhoneiros perdem mais renda”, comenta.

Em maio do ano passado, o governo federal chegou a fazer um aceno ao setor com o lançamento do Programa Gigantes do Asfalto, com a oferta de linhas de crédito especiais para a categoria adquirir caminhões ou fazer manutenções. No entanto, para Litti Dahmer, a ação é pouco efetiva. “Não tem como fazer um financiamento para trocar o caminhão se não conseguimos nem dar manutenção na frota. Não há mágica que faça ter melhoria nas condições de trabalho, estamos com dificuldades até para pagar as contas de casa”, comenta.

Diante do cenário, os caminhoneiros voltaram a discutir uma paralisação nacional. Em vídeos que viralizam nas redes sociais, os trabalhadores aparecem em postos, abastecendo seus tanques. “A insatisfação é geral e a categoria está conversando [sobre a possibilidade de greve nacional]”, finalizou.

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