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Mecânico trabalha em um sistema antiaéreo móvel Gepard na fábrica Krauss-Maffei Wegmann em Munique, 27 de abril de 2022. (Felix Schmitt/The New York Times)
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quarta-feira 18 de maio de 2022 às 16:31h

A indústria militar da Alemanha se prepara para reabastecer as forças do país

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Escassez de trajes de proteção. Rádios tão antiquados que são alvo de piadas de outros soldados da Otan. Um sistema de aquisição disfuncional que leva anos apenas para adquirir insígnias e distintivos.

Segundo o The New York Times, após décadas de cortes orçamentários, os militares alemães estão lamentavelmente aquém dos suprimentos básicos, seja em munição, seja em mochilas. Mas, com a invasão russa da Ucrânia, o chanceler Olaf Scholz prometeu gastar cem bilhões de euros (US$ 105 bilhões) para modernizar a força, quase triplicando os gastos militares do ano anterior.

O grande aumento nos gastos com armas “está muito atrasado”, disse Wolfgang Richter, coronel aposentado do Exército alemão que agora está no Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança em Berlim.

A lista de desejos dos militares inclui novos navios, novos helicópteros e mais tanques e outros veículos blindados. Contudo, talvez sejam necessários alguns anos para usar o dinheiro e fazer do Exército alemão, com 184 mil soldados, uma força efetiva para conter a Rússia, segundo especialistas.

Não é por falta de uma indústria alemã de armamentos, incluindo grandes fabricantes como a Rheinmetall, que produz blindados, e a Rohde & Schwarz, que fornece equipamento de comunicação militar. A unidade Traton da Volkswagen tem uma joint venture com a Rheinmetall para fabricar veículos militares.

E há a Krauss-Maffei Wegmann, que manteve sua fábrica em Munique ocupada vendendo tanques Leopard 2 para numerosos exércitos estrangeiros. Na verdade, os alemães exportam quase o mesmo número de armas que vendem para os militares do próprio país.

Nos corredores do tamanho de hangares de aviões, mecânicos e técnicos da Krauss-Maffei Wegmann atualmente têm apenas um turno flexível, atualizando e reparando tanques e veículos blindados usados pelas forças armadas de 19 países.

Ralf Ketzel, ex-oficial de artilharia que é CEO da Krauss-Maffei Wegmann, informou que a empresa não levaria mais de dois anos para começar a entregar as várias centenas de Leopard 2 e Pumas – uma espécie de combinação de tanque e transportador blindado de tropas – de que as três divisões de combate da Alemanha precisam. “A situação não é tão sombria como às vezes é retratada.”

O rearmamento da Alemanha equivale a uma espécie de programa de estímulo econômico em uma escala mais ampla, porque as fabricantes alemãs compram suprimentos de todo o continente, e os militares compram diretamente de empresas europeias e americanas. O Ministério da Defesa declarou que quer encomendar caças F-35 fabricados pela Lockheed Martin para substituir os velhos caças Tornado.

Carl Jonasson, CEO da Snigel Design, fabricante sueca de mochilas, mantos de camuflagem e outras peças de vestuário de combate, ficou surpreso ao receber uma encomenda da Alemanha recentemente. “São números alucinantes, pelo menos para os padrões europeus”, afirmou ele sobre os cem bilhões de euros em gastos militares alemães.

Por mais impressionante que essa quantia pareça, não será suficiente para a Alemanha compensar anos de gastos inadequados, de acordo com o Instituto Ifo, organização de pesquisa econômica em Munique. Para cumprir sua cota da Otan no longo prazo, o país precisa investir outros 25 bilhões de euros por ano, escreveram economistas do instituto em um relatório recente.

Scholz prometeu que os gastos militares nos próximos anos equivaleriam a mais de dois por cento da produção nacional, o mínimo acordado pelos membros da Otan. Sua declaração foi saudada como um “Zeitenwende”, momento de mudança histórico.

Em outra indicação da mudança da situação política, em abril o parlamento alemão concordou em fornecer armas e sistemas de defesa à Ucrânia, superando a relutância dos alemães pós-Segunda Guerra Mundial de se envolver em conflitos armados. Fabricantes alemães enviaram ao governo listas de armas, veículos blindados e sistemas de defesa que poderiam fornecer rapidamente ao exército ucraniano.

Mas a capacidade da Alemanha de ajudar a Ucrânia é limitada porque os próprios militares não têm todos os equipamentos modernos de que precisam. Muito do que a Alemanha está oferecendo à Ucrânia são equipamentos mais antigos que foram armazenados e precisam ser reformados e modernizados.

Além disso, várias empresas de defesa, acostumadas a reduzir gastos, limitaram a capacidade de fabricação e vão precisar de alguns anos para aumentar sua produção. Os fornecedores podem não ser capazes de garantir as peças necessárias a tempo ou podem ter falido.

E, em geral, o sistema de compras da Alemanha é agonizantemente lento. A entrega de um novo rifle de assalto fabricado pela Heckler & Koch, que também abastece o Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, está sete anos atrasada por causa de uma lei alemã que permite ao licitante perdedor de um contrato de defesa contestar a decisão no tribunal.

Pouco depois que Scholz anunciou o aumento dos gastos, o Ministério da Defesa convocou para Berlim executivos de grandes fabricantes. Uma das mensagens: parem de processar um ao outro e trabalhem em equipe, segundo três pessoas com conhecimento do encontro. O Ministério da Defesa não quis comentar.

A Alemanha há muito tem uma relação ambivalente com seus militares por causa de sua associação com as atrocidades nazistas na Segunda Guerra Mundial. Durante a Guerra Fria, o país estava na linha de frente. A Alemanha Ocidental estava com a Otan, enquanto a Oriental era aliada da União Soviética. Ambas tinham um exército formidável.

Ao mesmo tempo, uma forte tensão pacifista influenciou a política da Alemanha Ocidental. Depois da reunificação e do colapso da União Soviética, houve pouco apoio para a manutenção de um grande exército. O Exército alemão foi destacado internacionalmente para o Kosovo ou o Afeganistão, e não para a defesa nacional.

“Esperávamos que, depois da Guerra Fria e a queda do Muro de Berlim, houvesse uma paz duradoura na Europa e que pudéssemos estabelecer uma ordem europeia de paz em conjunto com a Rússia. Essa crença foi brutalmente despedaçada e, consequentemente, agora há um novo apreço pela necessidade dos militares”, observou Eva Högl, legisladora do partido de Scholz, o Social-Democrata, que atua como comissária das Forças Armadas no parlamento.

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