A disputa eleitoral pelo Senado no Distrito Federal abriu um racha entre aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL), que passaram a se dividir entre as ex-ministras Flávia Arruda (PL) e Damares Alves (Republicanos).
As duas ex-ministras se lançaram pré-candidatas ao Senado, num movimento que ameaça dividir o eleitorado bolsonarista no DF e a base política do governador Ibaneis Rocha (MDB). Ambos os partidos apoiam o emedebista, que deve contar ainda com o endosso de Bolsonaro.
Segundo a Folha, Ibaneis declarou apoio a Flávia e busca resolver o impasse, sob pena de a própria candidatura à reeleição ser impactada.
“Eu e Flávia estamos juntos. A Damares é uma questão do Republicanos”, disse o governador à Folha. Os dois almoçaram na última semana e reafirmaram a aliança.
“[O Republicanos é da base] e vai continuar sendo. A questão da suplência [da vaga para o Senado] será tratada pelos partidos da base sentados à mesa. Vou me reunir com eles para tentar conciliar nas próximas semanas. Mas a minha candidata ao senado será a Flávia”, prosseguiu.
Integrantes do Republicanos no DF têm cargos no governo local e querem emplacar a primeira suplência de Flávia, o que não será possível caso Damares mantenha sua candidatura. Segundo interlocutores, faltou articulação para contemplar todas as legendas alinhadas a Ibaneis.
Até o início do ano, o acerto na campanha de Bolsonaro era que Flávia seria o nome do bolsonarismo na corrida pelo Senado no DF.
Mas Damares foi lançada como pré-candidata ao Senado no final de março, surpreendendo sua então colega de Esplanada. Antes, Damares flertou com uma candidatura ao Senado pelo Amapá, mas o projeto foi abandonado.
Quando anunciou a decisão de tentar ser senadora pelo Distrito Federal, disse amar sua amiga Flávia. Mas completou que a “cadeira” do Senado era sua.
“O presidente [Bolsonaro] entende que é um direito meu me lançar pré-candidata. O presidente tem agora duas pré-candidatas ao Senado [no DF]. Nós temos a mesma pauta, nós somos muito amigas”, disse Damares na ocasião.
“Eu tenho um recado para a imprensa: eu não tenho inimiga nem adversária, eu tenho concorrentes. Mas a cadeira é nossa.”
O racha vai além do cenário local porque cada ex-ministra é apoiada por um importante aliado de Bolsonaro no plano nacional: o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, trabalha por sua correligionária, enquanto Damares tem o endosso, nos bastidores, do titular da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP).
Interlocutores de Valdemar afirmam que Flávia é a opção de Bolsonaro e que o mandatário deve escolher o nome de quem vai ocupar a suplência da ex-ministra.
Segundo quem trabalha por Flávia, o Republicanos estaria insistindo na candidatura de Damares para ao fim lançá-la a deputada federal, abocanhando também a suplência de Flávia.
Outros aliados de Bolsonaro, porém, garantem que o presidente expressa apoio a Damares e a incentivou a entrar no páreo.
A preferência de Ciro Nogueira por Damares ocorre após um desentendimento entre o chefe da Casa Civil e Flávia sobre o pagamento de emendas —responsabilidade da Secretaria de Governo.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, não liberou todos os recursos que tinham sido prometidos, abrindo uma crise da articulação política com a base. Flávia foi apontada como uma das responsáveis pela situação.
Outro motivo apontado por aliados para Nogueira apoiar Damares é o interesse do PP pela suplência da vaga ao Senado da ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
O nome que circula hoje para o posto é o do empresário Fernando Marques, dono do laboratório União Química, que tentou emplacar no Brasil a vacina russa Sputnik contra a Covid-19.
À Folha ele diz ser pré-candidato ao Senado pelo PP e nega conversas sobre suplência, o que chamou de “especulações”.
Em 2018, Marques postulou o mesmo cargo pelo Solidariedade, mas não conseguiu se eleger. Foi o candidato mais rico nas eleições daquele ano em todo o Brasil, segundo o TSE (Tribunal Superior eleitoral).
Interlocutores de Flávia Arruda dizem que Bolsonaro deve adotar no DF a mesma postura que teve com o Rio Grande do Norte, onde dois de seus ministros —Fábio Faria (Comunicações) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional)— tentaram se viabilizar para uma candidatura ao Senado.
O presidente determinou que eles se resolvessem. Marinho seguiu com a candidatura e Faria permaneceu na Esplanada, justamente com o argumento de que não era possível dividir o eleitorado bolsonarista no estado.
Aliados de Flávia pontuam que hoje ela está à frente nas pesquisas de intenção de voto e dão como certa a sua eleição para o Senado.
Enquanto o assunto não é resolvido, lideranças políticas no DF estão preocupadas com o imbróglio.
O deputado distrital Rodrigo Delmasso (Republicanos) defende que o impasse seja superado o quanto antes, sob pena de nenhuma das duas ex-ministras serem eleitas.
“A direita dividida favorece a esquerda, que tem nomes fortes que podem sair ao Senado”, diz.
O ex-governador Rodrigo Rollemberg (DF) é pré-candidato a deputado federal pelo PSB, mas parlamentares do DF não duvidam que, caso a disputa entre Damares e Flávia perdure, ele tente se lançar ao Senado.
O PT ainda não definiu quem será candidato ao Senado no DF. O ex-deputado Geraldo Magela e a sindicalista Rosilene Corrêa almejam disputar o governo da capital, mas, caso não se viabilizem, podem pleitear uma vaga de senador.