Eleito em 2018 com uma campanha que surfou na internet e custou – pelo menos oficialmente – R$ 2,8 milhões, Bolsonaro ainda ocupa o posto de candidato mais mencionado na esfera virtual pelos internautas, informa Malu Gaspar, em sua coluna no jornal O Globo.
Apesar de aparecer em desvantagem nas pesquisas de intenção de voto, o chefe do Executivo vive uma espécie de “realidade paralela” entre os usuários das redes, onde acumula mais menções positivas que negativas.
É o que mostra um levantamento exclusivo feito pela empresa de consultoria Quaest a pedido da equipe da coluna.
O mapeamento foi feito com base em de 36,4 milhões postagens com menções aos principais candidatos ao Palácio do Planalto escritas entre 1º de fevereiro e 29 de abril deste ano por usuários do Twitter, Instagram e Facebook.
O principal objetivo era medir o sentimento dos internautas em relação aos pré-candidatos à presidência, já que o fato de ter muitas menções nas redes sociais não é necessariamente bom.
O estudo mostrou que nesse quesito estão os maiores desafios para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avançar na arena das redes sociais.
Isso porque, segundo a Quaest, as redes ainda são um território dominado pelo presidente Jair Bolsonaro e sua estridente militância.
O levantamento da consultoria concluiu de acordo com Malu Gaspar, que as menções a Lula são 36% negativas, 25% positivas e 39% neutras. Bolsonaro, por outro lado, conta com 32% de menções negativas, 26% positivas e 42% neutras. Ou seja, Bolsonaro tem uma leve vantagem, com mais menções positivas e menos negativas que o seu principal adversário nas urnas.
A situação é pior para Doria: 41% das menções ao tucano nas redes são negativas, o índice mais alto do universo de candidatos pesquisados. Já as referências positivas são de 26% e as neutras, 33%. O ex-governador sofre rejeição tanto de bolsonaristas quanto de lulistas, além de sofrer pressão dentro do próprio PSDB para abrir mão da candidatura.
O mapeamento dos assuntos que dominaram o debate virtual mostra como Bolsonaro tem conseguido manter o engajamento nas redes.
No foco dos internautas estavam pautas insufladas pelo bolsonarismo, em torno do deputado bolsonarista Daniel Silveira (PTB-RJ) e do ministro Alexandre de Moraes, algoz do parlamentar. Menções a “dinheiro público” também apareceram em vários momentos.
Nesse contexto, não estranha que Bolsonaro tenha concentrado 58% das menções feitas no universo mapeado, ante 32% de Lula e 6% do ex-ministro Ciro Gomes (PT). A terceira via repete no levantamento o fiasco das sondagens de voto: o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) foi lembrado em apenas 4% das menções; a senadora Simone Tebet (MDB), em 0,33%.
“O que chama atenção é que os dois candidatos que polarizam a disputa também polarizam a conversa digital. Mas o PT ainda tem dificuldade de disputar com Bolsonaro nessa arena”, avalia o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest.
Ao longo das últimas semanas, Lula cometeu gafes e se desgastou com uma série de declarações desastrosas e temas espinhosos, como ao defender o aborto, responsabilizar a Ucrânia pela guerra e dizer que Bolsonaro “não gosta de gente, gosta de policial”.
Neste sábado (7), o partido buscou utilizar o lançamento da candidatura de Lula, em São Paulo, como forma de impulsionar o engajamento.
Durante o discurso, palavras e expressões relacionadas à campanha lulista figuraram nos trending topics do Twitter. A hashtag #VamosjuntospeloBrasil chegou a liderar o ranking, com mais de 108 mil tuítes até as 15h15 deste sábado.
Somando os canais de Lula e do PT no Youtube, no Facebook e no Instagram, o número de visualizações havia alcançado a marca de 230 mil visualizações até as 13h15 deste sábado. É menos que as 618 mil visualizações da última live de Bolsonaro, em que o presidente disse que o lucro da Petrobras é um “estupro, um absurdo”.
“O bolsonarismo é, desde 2018, dependente das redes sociais. Então os acontecimentos que tiram foco da ação de Bolsonaro como presidente – como, por exemplo, a crise artificial criada por ele e Daniel Silveira contra o STF – são bons para seus eleitores, pois assim eles têm um ‘reforço positivo’ de que sua escolha eleitoral é ‘correta’”, analisa o cientista político Sérgio Praça, da Fundação Getulio Vargas.
Já o PT, aponta Praça, faz campanha como se ainda estivesse nos anos 1990. “Isso não necessariamente será mortal para a candidatura Lula, mas é óbvio que Bolsonaro está aproveitando um espaço deixado em branco por Lula. E isso vai piorar muito ainda, à medida que a campanha se desenrolar e os bolsonaristas lembrarem de todas as acusações de corrupção contra o petista e seu partido.”