O que Jair Bolsonaro (PL), João Doria (PSDB), Claudio Castro (PL), Ricardo Nunes (MDB) e Eduardo Paes (PSD) têm em comum? A pergunta foi feita por Matheus Pichonelli em seu artigo no Yahoo Notícias.
Segundo o Datafolha, nenhum desses nomes possui mais de 50% de aprovação por seus trabalhos, respectivamente, à frente do governo federal, dos governos de São Paulo e Rio de Janeiro e das prefeituras das duas maiores cidades do país.
Longe disso.
No último levantamento do instituto, apenas 25% dos eleitores avaliavam positivamente o presidente da República, enquanto sua reprovação era de 46%.
João Doria, um dos seus desafiantes na corrida pela sucessão, largou em desvantagem, e não somente nas pesquisas de intenção de voto. Se a ideia era fazer do governo de São Paulo uma vitrine para sua campanha presidencial, essa vitrine está trincada.
O tucano deixou o Palácio dos Bandeirantes com apenas 23% de aprovação, número baixo para quem precisava transformar o maior colégio do país em mola propulsora para voos mais altos. Sua reprovação é de 36%.
No Rio, Cláudio Castro, que tentará a reeleição, tem apenas 18% de ótimo/bom. Quatro em cada dez eleitores consideram seu governo ruim ou péssimo.
Situação um pouco melhor é a do prefeito Eduardo Paes, que é aprovado por 21% e reprovado por 36%. Ainda assim, a perda de capital político chama a atenção.
Há um ano e meio, ele conseguiu 37% dos votos no primeiro turno. Venceu a disputa contra Marcelo Crivella (Republicanos) por 64% dos votos válidos. Esse potencial de apoio se derreteu ao longo da gestão.
Já Ricardo Nunes, que assumiu a prefeitura de São Paulo após a morte de Bruno Covas (PSDB), tem apenas 12% de aprovação e 30% de reprovação em pouco mais de um ano de governo.
Os números indicam uma realidade dura para gestores nas diversas esferas da administração pública, não só a federal —a vitrine principal de um país empobrecido e impactado pela pandemia.
Na segunda metade da década passada, ficou escancarado o descasamento entre a classe política e o eleitorado em tempos de mudanças aceleradas, muito em razão das novas demandas possibilitadas pela revolução digital, sobretudo no trabalho. A inserção nas redes sociais parecia ser o segredo do sucesso para políticos que buscavam se (re)conectar com a população.
Não foi bem assim.
Se assim fosse, Ciro Gomes (PDT), que criou até mesmo uma live chamada Ciro Games para emular os programas de entrevistas que fazem sucesso no YouTube e nas plataformas de podcast, estaria liderando a corrida presidencial. Ou mesmo fazendo cócegas para os dois candidatos do pelotão de frente. Não está nem perto disso.
Dados sobre popularidade digital não se convertem automaticamente em popularidade real. Jair Bolsonaro que o diga. Ele fez das plataformas digitais um grande palanque para se comunicar com o público e se eleger em 2018.
Ao assumir a Presidência, tornou sagrada a gravação de lives às quintas-feiras para, em tese, seguir conectado com os eleitores. Mas desde que a realidade, aquela que dói no bolso e tem consequências nas portas dos hospitais, se impôs como desafio, ele jamais conseguiu fazer jus à expectativa criada em torno de seu governo nos primeiros dias.
Hoje, para seus aliados, 30% de aprovação e rejeição menor do que 50% já é razão para soltar fogos. Eles sabem que qualquer desafiante não é nem de longe uma unanimidade.
A distância entre rejeição e aprovação, comum ao presidente e aos gestores estaduais e municipais de Rio e São Paulo, mostra que em tempos de crise econômica, a bronca com a classe política, a quem foi dado um voto de confiança na última eleição, é quase ampla, geral e irrestrita. Talvez, e só talvez, esta não seja uma crise de imagem ou de comunicação.
Em maior ou menor medida, a distância entre expectativa dos eleitores e a realidade aponta que, com ou sem inserção nas redes sociais, a classe política ainda está longe de compreender as disposições de uma sociedade que segue se transformando em ritmo acelerado. Muitos tentam elaborar respostas com narrativas mitológicas ou com as ferramentas do passado –inócuas diante dos desafios do presente e do futuro.
Um exemplo dessa desconexão é que, enquanto o mundo, atento ao colapso ambiental, se descarboniza e contesta a dependência dos grandes centros da produção energética e industrial, aqui vemos a mineração em terra indígena como saída para a crise e a pujança econômica. Nunca foi.
O mundo, nunca é demais lembrar, não é o mesmo de 2016. E o mundo de 2016 já não era o mesmo de 2010 e por aí vai.
Com ou sem caras novas, o enfrentamento dessa realidade, ainda a ser compreendida, tenderá a ser um fiasco quanto mais os modelos do passado são aplicados para gerenciar as perspectivas do futuro em temas como sustentabilidade, estresse climático, desigualdade, acesso a saúde pública. O enfrentamento dessas mudanças começa nas pequenas e grandes cidades. Eis uma contradição em tempos em que os Estados nacionais parecem ter tão poucos recursos à disposição para enfrentar os turbilhões globais.
Vai ver é por isso que quanto mais corremos para o futuro, mais consagramos a palavra “retrocesso”. Ele se revela nos índices raquíticos de popularidade a quem parece longe de se apresentar à altura do desafio desses tempos.