Pilotos da FAB (Força Aérea Brasileira) decolaram nesta tarde de quarta (6) com os dois primeiros caças Gripen E para uso operacional no Brasil.
As duas aeronaves haviam chegado na noite de sexta (1º) a Navegantes, porto em Santa Catarina, trazidos de navios da Suécia, onde são fabricados pela empresa Saab na cidade de Linköping (pronuncia-se linchóping).
Após terem os trens de pouso configurados, foram rebocados pelas ruas da cidade até o aeroporto local, onde passaram por testes e foram preparados para os voos nesta quarta. A primeira aeronave levantou voo às 15h08, sendo seguida pela segunda.
Ambas, já com a pintura definitiva cinza da base em que ficarão em Anápolis (GO) e com o a designação da FAB (F-39E) no estabilizador vertical da cauda, demoraram cerca de 50 minutos para chegar a Gavião Peixoto (SP).
A cidade é a base do centro de ensaios do Gripen no Brasil, uma parceria entre a Saab e a brasileira Embraer, que tem no local linha de produção e pista de testes. Quando forem fabricados no Brasil, o que deve acontecer talvez com os últimos 14 de seus 36 exemplares comprados, os Gripen serão feitos lá.
“A chegada das aeronaves é resultado de um projeto que, desde o início, buscou o incremento de nossas capacidades dissuasórias, bem como tinha o objetivo de ser um estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento industrial do Brasil”, disse o comandante da FAB, Carlos de Almeida Baptista Junior.
Os pilotos brasileiros haviam sido treinados na Suécia com modelos da geração anterior do Gripen, a C/D, e com o avião da campanha de testes da família E/F que está no Brasil desde setembro de 2020.
As novas aeronaves farão parte da fase de chamada Certificação de Tipo Militar, a licença para operação na FAB e em outras Aeronáuticas —o processo é conduzido pelo órgão regulador sueco. A expectativa da Força é de tê-los em ação até o fim do ano, talvez com outros quatro exemplares que devem chegar da Suécia.
“O Brasil participa ativamente do desenvolvimento, da campanha de ensaios em voo e da produção dos caças”, disse o vice-presidente sênior e chefe da unidade de negócios aeronáuticos da Saab, Jonas Hjelm.
Chamou a atenção o fato de que ambos os aviões não vieram equipados com o IRST, sistema de rastreamento de alvos com infravermelho, uma pequena esfera à frente da cabine do caça. Em sua apresentação na Suécia, no ano passado, eles aparentavam já tê-la.
O equipamento será instalado posteriormente, segundo pessoas com familiaridade do tema disseram, em Gavião Peixoto. O IRST é fundamental na guerra aérea moderna para não só dar precisão a ataques, mas para coordená-los com outros caças aliados numa ação —que podem usar outros meios de detecção, como o radar, e contramedidas eletrônicas para dissimular a posição do grupo.
O Brasil comprou os 36 Gripen, 8 deles no modelo F de dois lugares, em 2014 por 39,5 bilhões de coroas suecas (R$ 19,6 bilhões nesta quarta). Os aviões devem ser entregues até 2026, se não houver atrasos orçamentários como já ocorreram no passado.
A FAB já comprou seus mísseis e diz querer mais 30 aparelhos numa segunda leva.
O Gripen E/F tem sofrido em competições internacionais, tendo perdido a venda de 64 aviões para a Finlândia e 88, para o Canadá. Na América Latina, está na mira da Colômbia (15 unidades). Um complicador é que, com a guerra na Ucrânia, os EUA têm se colocado agressivamente no mercado de armas, tendo fechado vendas do seu F-35 para alemães e canadenses após o ataque de Vladimir Putin.