Não é trivial medir essa riqueza: o banco de dados do TSE com as declarações de patrimônio de pessoas que disputam eleições – única base de informações consolidadas sobre a riqueza dos políticos – é um instrumento incompleto, visto que está sujeito a erros e omissões dos candidatos e à não-atualização dos valores.
Ou seja: como as regras tributárias da Receita Federal permitem que uma pessoa declare parte de seus bens (como imóveis) de acordo com o valor pago na aquisição, não existe obrigatoriedade de corrigir esse patrimônio pelos valores de mercado até a data de sua venda, o que pode gerar grandes defasagens, como bem apontaram reportagens da Folha de S. Paulo e da Carta Capital. Fora isso, a imprensa já divulgou amplamente os casos de candidatos “falsos milionários”, que erram nos zeros quando preenchem a declaração de bens. Matéria é de André Spigariol (spotniks.com)
1. Lirio Parisotto
Eleito como segundo suplente de senador, na chapa do amazonense Eduardo Braga, Lirio Parisotto entrou para a política em 2010, como financiador da campanha. Prática tradicional da política brasileira, milionários costumam chegar ao Senado como suplentes, onde fazem um acordo com seus candidatos para exercerem parte do mandato sem que precisem batalhar por votos.
No entanto, esse não é o caso de Parisotto, que ainda não teve chance de assumir o mandato. Isso porque a primeira suplente da aliança é Sandra Braga, esposa de Eduardo. Ela ocupou a cadeira em 2015 e 2016, no período em que o titular esteve no Ministério de Minas e Energia do governo Dilma.
A fortuna de Lirio Parisotto (estimada em US$ 2 bilhão pela Forbes ou R$ 11 bilhões ) começou a se formar quando, em 1988, ele fundou a Videolar, que viria a se tornar uma das maiores empresas da indústria fonográfica brasileira. Em 2002, entrou para o setor petroquímico, inaugurando a primeira indústria do segmento na Região Norte dedicada à produção de poliestireno, um material plástico usado como matéria prima pela Videolar e diversas indústrias instaladas no Polo Industrial de Manaus.
Atualmente, o mercado petroquímico é o foco de atuação da Videolar-Innova, nome que a empresa passou a utilizar após a compra da Innova Petroquímica em 2014. A firma opera quatro instalações industriais de alta tecnologia: três no Polo de Manaus e um no Polo de Triunfo (RS).
Enquanto isso, Parisotto vem multiplicando sua fortuna no mercado de ações: seu portfolio inclui papéis de bancos, mineradoras, companhias de energia, siderúrgicas e corporações que pagam altos dividendos. Além disso, possui títulos do Tesouro Nacional e imóveis por todo o Brasil.
2. Blairo Maggi
Conhecido como “Rei da Soja” e homem mais poderoso do agronegócio brasileiro, o atual ministro da Agricultura elegeu-se senador pelo PR em 2010, quando declarou à Justiça Eleitoral ser dono de um patrimônio R$ 1o bilhões. Multiplicando a cifra apenas pela inflação acumulada no período, são mais de 239,7 milhões de reais em valores atuais. Além de senador e ministro, Blairo foi governador do Mato Grosso entre 2003 e 2010. Em 2005, venceu o inglório troféu “Motosserra de Ouro” do Greenpeace, tornando-se também o “rei do desmatamento”.
Em 2015, Maggi alcançou pela primeira vez a lista de bilionários da revista Forbes, com fortuna da ordem de 1,2 bilhão de dólares. Fundador do Grupo Amaggi, atua nas áreas de sementes, insumos para plantio de soja, produção agrícola (algodão e milho, além de soja), pecuária, fertilizantes e químicos, processamento de soja, transporte fluvial, administração de portos e produção de energia.
Segundo o BNDES, desde 2008 empresas do Grupo Amaggi já captaram mais de R$ 288 milhões em empréstimos públicos para financiar seus investimentos. Em 2016, a revista Exame considerou a Amaggi a 39ª maior corporação do Brasil em volume de vendas líquidas.
Como governador, Maggi formou a base de apoio do segundo governo Lula. No Senado, continuou apoiando o PT, principalmente no primeiro mandato de Dilma Rousseff. No entanto, após a reeleição da presidente, passou a criticar o governo e engrossou o coro pelo impeachment.
3. Newton Cardoso
Ex-governador de Minas Gerais e ex-deputado federal, Newton Cardoso é um dos políticos mais conhecidos de seu estado, um dos principais nomes do MDB. Está na política desde 1973, quando assumiu a prefeitura de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Sua ascensão está intimamente ligada ao grupo Magnesita, no qual trabalhou desde jovem até se tornar sócio da companhia. Para os donos da mineradora, “Newtão” era praticamente um filho adotivo.
Seu patrimônio sempre foi assunto de muita especulação na imprensa, mas pouco comentado pelo empresário até 2002. Desde então, passou a construir publicamente uma narrativa de empreendedor de sucesso, numa tentativa de justificar seu enriquecimento de supostamente mais de R$ 8 bilhões.
4. Marcelo Beltrão de Almeida
Tendo declarado ao TSE ser dono de um patrimônio de R$ 740,4 milhões em 2014, quando fracassou na tentativa de se eleger senador pelo MDB do Paraná, Marcelo Almeida é figura frequente na lista dos candidatos mais ricos das eleições. Exerceu o cargo de vereador em Curitiba por dois mandatos e, na condição de suplente, alcançou uma vaga na bancada paranaense da Câmara dos Deputados nas duas últimas legislaturas. Engenheiro civil, filiado atualmente ao PV, o político é filho de Cecilio do Rego Almeida (falecido em 2008), fundador do grupo CR Almeida.
Criada nos anos 1950, a CR Almeida chegou a ser considerada uma das quatro maiores empreiteiras do país, responsável pela execução de grandes obras de rodovias e ferrovias durante o regime militar. O episódio mais conhecido de Cecilio envolve a apropriação irregular de uma fazenda de 4,5 milhões de hectares de terras públicas no Pará, o maior caso de grilagem do mundo. O terreno, equivalente ao tamanho de Bélgica e Holanda juntas, era ocupado irregularmente por uma das empresas do Grupo CR Almeida. Em 2011, a matrícula da chamada Fazenda Curuá foi anulada pela Justiça Federal. Fortuna estimada em mais de R$ 6 bilhões.
5. João Claudino Fernandes
Ele foi o segundo suplente do Senador Ciro Nogueira (PP-PI), “Seu João” é um dos homens mais ricos e conhecidos do Piauí, estado onde construiu sua fortuna antes de entrar no PRTB de Levy Fidelix para concorrer na chapa de Nogueira em 2010. O empresário é dono do Grupo João Claudino, um dos maiores conglomerados do país. Seu portfólio de atuação vai desde lojas de departamentos a fábricas de colchões e bicicletas. Ao todo, são 16 firmas sediadas em Teresina. Em 2010, Claudino declarou ao TSE que era dono de R$ 623,5 milhões. De acordo com a declaração, 96% da fortuna se concentra em ações ou cotas de capital de empresas ligadas ao Grupo Claudino.
O empresário é pai do ex-senador João Vicente Claudino (PTB-PI), candidato derrotado ao governo do Piauí em 2010. A fortuna estaria atualmente entre R$ 5 e R$ 5,5 bilhões.
6. Ronaldo Cezar Coelho
Nas bases de dados do Tribunal Superior Eleitoral, há uma presença constante no topo da lista de candidatos mais endinheirados. Sempre que se candidata, o banqueiro carioca Ronaldo Cezar Coelho aparece com patrimônio vistoso e sempre declarado de maneira detalhada. Entre ações, obras de arte e investimentos no exterior, o irmão do comentarista Arnaldo Cezar Coelho era detentor de uma fortuna de R$ 553,3 milhões em 2014, quando era o primeiro suplente da chapa de Cesar Maia para o Senado.
Forte de dinheiro, mas fraco de campanha, Coelho ocupou uma cadeira na Câmara dos Deputados em quatro legislaturas; seu último ano de mandato foi em 2007. Foi constituinte pelo PMDB e, depois, ajudou a fundar o PSDB, pelo qual se elegeu outras três vezes. Para compor a chapa com Maia, o magnata trocou o tucanato pelo PSD.
Sua fortuna estaria entre R$3,8 e R$4 bilhões.
7. Tasso Jereissati
Senador pelo PSDB do Ceará, Tasso é o ilustre representante de uma das famílias mais ricas do nordeste brasileiro. Em 2014, seu patrimônio era de R$ 389 milhões, o maior entre os eleitos para o Senado naquele ano. Do total, mais de 82% da fortuna se concentra em ações, sendo que mais da metade dos bens estava reunida em papéis de duas empresas: a Calila Investimentos e a Calila Participações.
A Calila Investimentos é uma das acionistas da Renosa, controladora da Solar BR, a segunda maior fabricante do grupo Coca-Cola no Brasil. Em 2016, a Renosa teve lucro de R$ 387 milhões e seu patrimônio líquido consolidado era de R$ 4,2 bilhões. Neste mesmo ano, a companhia teve uma Ebitda (lucro antes de impostos, juros, depreciações e amortizações) de R$ 892,9 milhões. Para efeito de comparação, a distribuidora da Coca-Cola na região sul foi comprada pela FEMSA por R$ 3,5 bilhões, tendo registrado Ebitda de R$ 335 milhões naquele ano.
Além da Coca-Cola, Tasso tem parte de sua fortuna construída no ramo imobiliário, através do Grupo Jereissati. O senador possui participação em shoppings centers administrados pela Jereissati Centros Comerciais, com destaque para o Iguatemi de Fortaleza (CE). Em 2015, a JCC declarou lucro de R$ 140 milhões e patrimônio líquido na casa de R$ 476 mi.
Para sua campanha de 2014, Tasso arrecadou R$ 8,7 milhões em doações, sendo R$ 2,6 mi oriundos de seu patrimônio próprio, diretamente ou através das empresas que possui. Com R$ 1 milhão, a Contax foi a segunda maior doadora; à época, a companhia tinha participação acionária de Carlos Francisco Jereissati (irmão do senador), que foi um dos donos da Oi e é sócio da rede de shoppings Iguatemi.
Conduta vedada a parlamentares, Tasso é também proprietário de duas emissoras: a TV Jangadeiro, afiliada ao Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) no Ceará, e a FM Jangadeiro, rádio FM de Fortaleza. Fortuna estaria entre R$ 3,7 bilhões.
8. Otaviano Olavo Pivetta
Outra figurinha carimbada na lista dos políticos milionários é Otaviano Olavo Pivetta (PSB), ex-prefeito de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, que governou a cidade em dois períodos: 1997-2004 e 2013-2016. Em 2016, concorreu à reeleição, mas foi derrotado por Luiz Binotti (PSD) por 242 votos. Fundador do grupo Terra Santa Agro, um dos maiores produtores de grãos do Brasil, Pivetta chegou a ser o maior acionista individual da companhia e membro do conselho de administração. Em fevereiro do ano passado, ele vendeu todas as suas ações da corporação. De acordo com o TSE, seu patrimônio é de R$ 359,6 milhões.
Seu nome é relacionado no quadro de sócios e administradores de outras 12 empresas no Brasil. Segundo sua declaração de bens, seu maior patrimônio está na Agropecuária Margarida, localizada em Nova Mutum (MT). Ele teria R$ 3 bilhões.