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domingo 9 de dezembro de 2018 às 14:03h

Deputado do PSL se articula para presidir Câmara

POLÍTICA


E o que ele tem que outros candidatos, como o atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o calouro Kim Kataguiri (DEM-SP), não têm?

João Campos (PRB-GO), deputado reeleito para o quinto mandato, entrou na corrida para presidir a Câmara no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro (PSL-RJ).

Campos, 55 anos, é pastor evangélico e delegado civil aposentado. Já teve papéis de liderança em dois terços da chamada bancada BBB, de Boi (ruralista), Bala (segurança pública) e Bíblia (evangélica), uma tríplice aliança que saiu fortalecida com o triunfo bolsonarista.

Acredita, portanto, que o espírito dos tempos o favorecerá. Nos bastidores, o PSL de Bolsonaro racha: uma ala respalda a recondução de Maia, outra se inclina a Campos.

Em entrevista  ao GloboNews, o senador eleito e primogênito de Bolsonaro, Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), defendeu um “presidente inédito” na Casa e apontou que a bancada do Rio tem reticências com o atual titular.

Para Campos, nem é uma questão de declarar “alinhamento puro e simples” ao presidente eleito. “Se você for pegar o que defendo e o que Bolsonaro defende, são coisas que a maioria da sociedade já decidiu, é uma pauta muito convergente”, diz à reportagem.

E sua agenda prioritária, como a de tantos colegas que zelam pelo conservadorismo no Congresso, vai da “família natural” (casais de homem e mulher) ao endurecimento de políticas de segurança pública.

Campos conta que anos atrás leu pela primeira vez a expressão “bancada BBB” na Folha de S.Paulo e achou “uma ideia maravilhosa”. “No mesmo dia, me reuni com gente da frente parlamentar da agricultura e da segurança: ‘Olha, temos que dialogar mais. É uma chance de passarmos a ser mais expressivos do que antes”, diz.

Ele chegou a ser, simultaneamente, presidente do bloco “da Bíblia” (ficou até 2017) e vice-presidente do “da Bala” (até hoje). Boa parte dos projetos e resoluções que apresentou em seus 16 anos na Câmara tem a ver com essas áreas.

Convocou sessões solenes na Casa pelos dias da Bíblia, da Reforma Protestante, da Proclamação do Evangelho e da Valorização da Família, e isso só em 2018. Em junho, sugeriu ao governo Michel Temer que o Brasil transferisse sua embaixada em Israel para Jerusalém, uma promessa eleitoral de Bolsonaro.

Em 2012, propôs seu projeto de lei que mais deu o que falar, apelidado de “cura gay”. Então à frente da bancada evangélica, queria derrubar a norma do Conselho Federal de Psicologia que proíbe profissionais de tratar a homossexualidade como um transtorno.

Acabou desistindo do projeto porque, diz agora, a cúpula do PSDB (seu partido à época) soltou uma nota contrária a ele “sem nenhum diálogo”.

Para ele, o texto “garantia a cidadania plena da pessoa homossexual, que poderia decidir por ela, que tem 18 anos, se quer procurar psicólogo”.

O certame volta a 1990, quando militantes LGBTI passaram a denunciar os autointitulados psicólogos cristãos, que prometiam curar homossexuais. Sua orientação sexual, diziam, não era doença para ser tratada -em consonância com a Organização Mundial da Saúde, que retirou a homossexualidade de seu rol de doenças mentais naquele ano.

O texto de Campos encontrou resistência no próprio partido e em pleno governo petista (de Dilma Rousseff). Agora que ventos conservadores sopram no país, poderia reapresentá-lo, claro, mas afirma que descarta a ideia.

Diz que sua relação com a comunidade LGBTI “foi sempre de muito respeito” e que “quem assume posições com certa acidez são os militantes”.

O ex-tucano migrou para o PRB, costela política da Igreja Universal do Reino de Deus, em 2016. Ele próprio é pastor em outra igreja com cacife político, a Assembleia de Deus -Ministério Madureira- para onde políticos costumam correr na temporada eleitoral, de João Doria a Eduardo Cunha.

Campos acha “muito positivo” que evangélicos tenham acordado para a vida política. “Há duas décadas, quase não participavam da questão partidária, compreendiam que a política era algo do diabo.”

Se o deputado reeleito Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho de Jair, defende que o modus operandi do próximo presidente da Câmara seja “tratorar” a oposição de esquerda, o candidato opta por um discurso mais pacificador.

Eduardo só usou uma “força de expressão”, disse, reproduzindo expediente de aliados ao se referir a falas polêmicas da família Bolsonaro.

“Tenho o sentimento que o Parlamento só funciona se a gente respeitar as regras. Pode até atropelar uma vez, mas na segunda, terceira, o plenário não vai aceitar”, afirma.

Descarta o disse-me-disse em Brasília sobre o PRB fechar um acordo com Maia e rifá-lo. “Possibilidade zero.”

Se eleito para suceder o colega do DEM, diz que sua prioridade será ajudar o novo governo a aprovar as reformas tributária e da Previdência.

Para amealhar votos, promete conversar com os 512 colegas da próxima legislatura, sejam esquerda, sejam direita.

Um deles terá sua atenção especial: o xará João Campos (PSB-PE), filho do ex-governador Eduardo Campos, morto em acidente de avião quando disputava a Presidência, em 2014. No último dia 14, aliás, achou prudente já requerer à Câmara “preferência na escolha do nome parlamentar em virtude da eleição de outro parlamentar homônimo”.

Nada pessoal, claro. “Ao contrário, quero até o voto dele.” Imagina o papelão que seria uma manchete “João Campos vota contra João Campos”?

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