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Alain Delon sofreu um AVC em 2019 e seu filho divulgou desejo do pai de colocar fim à própria vida por meio de suicídio assistido - AFP
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quinta-feira 31 de março de 2022 às 08:49h

A jornada de Alain Delon até optar por suicídio assistido

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Aos 86 anos, o ator francês Alain Delon inspirou a carreira de muitos que seguiram a profissão e estrelou grandes sucessos, como “O sol por Testemunha” (1959) e “Cidadão Klein” (1976).

Recentemente, conforme ao canal BBC, seu filho Anthony divulgou o desejo do pai em colocar fim à própria vida por meio de suicídio assistido. No país onde o ator vivia, a Suíça, a prática é permitida – diferentemente da eutanásia, considerada ilegal.

“No suicídio assistido ou morte assistida, é a própria pessoa, auxiliada por terceiros, que toma a atitude final, ingerindo uma cápsula que contenha substância letal, por exemplo. Na eutanásia, é outra pessoa que executa, a pedido do paciente, geralmente através de uma injeção letal”, esclarece Rodolfo Moraes, médico paliativista que atua no Hospital do Câncer de Franca (SP).

A carreira do ator que viveu seu auge nos anos 60 e 70

Anos antes de se tornar ator, Alain Fabien Maurice Marcel Delon, nascido em 8 de novembro de 1935, em Sceaux, Hauts-de-Seine, na França, começou a trabalhar como aprendiz de açougueiro ao lado de seu pai.

Depois, alistou-se como fuzileiro naval e em 1953 foi enviado para o sudeste asiático. Após sua dispensa em 1955, ele fez vários tipos de trabalhos temporários e tornou-se amigo de alguns atores de cinema – com os quais compareceu ao festival de cinema de Cannes de 1957.

Lá, Delon atraiu a atenção de um caçador de talentos do produtor americano David Selznick, que ofereceu a ele um contrato se aprendesse a falar inglês. No entanto, em contato também com o diretor francês Yves Allégret, Alain decidiu seguir carreira na França.

O ator francês Alain Delon no set de Mercado Negro, filme de 1959 dirigido por Michel Boisrond

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,Alain era considerado um galã do cinema entre os anos 1960 e 1970

Alain era considerado um galã do cinema entre os anos 1960 e 1970, e chegou a fazer aparições em mais de 80 produções cinematográficas.

A decisão do suicídio assistido

Em 25 de março, o perfil oficial de Alain Delon no Instagram publicou o que foi lido pelos fãs como uma mensagem de despedida.

“Eu gostaria de agradecer a todos que me acompanharam ao longo dos anos e me deram grande apoio. Espero que os futuros atores possam encontrar em mim um exemplo não só no campo do trabalho, mas na vida cotidiana entre vitórias e derrotas. Obrigado, Alain Delon.”

A conta na rede social foi apagada.

Alain sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) em 2019 e mencionou algumas vezes a possibilidade de recorrer ao suicídio assistido, ao acompanhar o sofrimento de sua esposa, Nathalie Delon, que tinha a mesma intenção e faleceu em 2021 por câncer de pâncreas antes de conseguir as autorizações necessárias.

“O AVC por si só não dá base para o pedido de suicídio assistido, mas toda pessoa que sofre o quadro tem a possibilidade de desenvolver outros – por exemplo, a demência vascular, que causa declínio cognitivo e funcional”, explica Priscilla Mussi, geriatra e coordenadora de Geriatria do Hospital Santa Lúcia, de Brasília, que dá assistência a casos paliativos.

A médica explica que, para ser respeitada pelas autoridades, basta que a decisão tenha sido tomada quando o ator estava lúcido e que ele tenha sido acompanhado como determina a regulamentação do país.

Alain Delon andando com ajuda de uma muleta durante o funeral do também ator Jean-Paul Belmondo em Paris, setembro de 2021

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,Alain Delon andando com ajuda de uma muleta durante o funeral do também ator Jean-Paul Belmondo em Paris, setembro de 2021

Países onde o suicídio assistido ou a eutanásia são permitidos

A eutanásia voluntária, assim como o suicídio assistido, são legais na Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Colômbia e Espanha.

Já o suicídio assistido é permitido na Suíça, Alemanha, Canadá, África do Sul e em alguns estados dos Estados Unidos, entre eles: Oregon, Colorado, Havaí, Vermont, Washington, Califórnia e Nova Jersey — com regras específicas em cada local.

Já a eutanásia involuntária é ilegal em todos os países do mundo e comumente considerada homicídio. Mesmo nos países em que a eutanásia voluntária é legal, continua a ser considerada crime de homicídio se não forem cumpridas determinadas condições.

“É um processo meticuloso e longo, geralmente feito com acompanhamento médico, psicológico e psiquiátrico. O paciente precisa estar com uma doença grave e exposto a um grande sofrimento. Na Suíça, onde o ator morava, requere-se acompanhar o ‘candidato'”, aponta o médico paliativista Rodolfo Moraes.

De acordo com o médico, quem faz o pedido também precisa estar com o desejo persistente de encerrar a vida. “Isso é exigido para evitar que a pessoa queira ter sua vida abreviada no momento de decepção, por exemplo, que pode afetar a capacidade da pessoa de fazer escolhas.”

No Brasil, nenhuma das práticas é aceita legalmente e pratica-se somente a ortotanásia (morte natural, sem interferência da ciência).

“Consiste em não aumentar a chance de morte, mas também não impedi-la. É não usar, por exemplo, meios artificiais, como máquinas, para prolongar a vida de uma pessoa que possui uma doença grave e incurável. Mas também apoia o paciente e dá o máximo de conforto e de qualidade de vida que ele pode ter. O que importa nesses casos é a qualidade de dias vivos, não o número de dias vivos”, diz a geriatra Priscilla Mussi.

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