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sexta-feira 11 de março de 2022 às 10:11h

Eleição para governador na Bahia vira laboratório da disputa nacional

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A disputa pelo governo da Bahia se transformou conforme o jornal O Estado de S. Paulo, em laboratório do que pode ocorrer no cenário nacional, com um jogo de traições entre partidos do Centrão, além de divórcios na seara do PT. O vice-governador da Bahia, João Leão (Progressistas), está disposto a romper com o PT de Luiz Inácio Lula da Silva e se aliar ao ex-prefeito de Salvador ACM Neto, candidato ao Palácio de Ondina pelo União Brasil e favorito nas pesquisas.

Apesar dos apelos do senador Jaques Wagner (PT-BA), que chegou a pedir desculpas a Leão por ter anunciado uma composição na Bahia sem levar em conta o interesse do antigo aliado de ficar os últimos nove meses do ano à frente do governo, não houve acordo. “Leãozinho, me desculpe. Estou aqui para conversar”, disse Wagner.

Foram várias as negociações a portas fechadas, no Palácio do Planalto e no Congresso, mas não houve sinal de fumaça para o PT de Lula. Pela estratégia definida no gabinete do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira – coordenador da campanha do presidente Jair Bolsonaro à reeleição -, Leão deve ser candidato ao Senado pelo Progressistas, na chapa de ACM Neto.

Lula e o governador da Bahia, Rui Costa (PT), ainda vão tentar demovê-lo da ideia, nos próximos dias. No Planalto, porém, a separação é tratada como favas contadas. Se assim se confirmar, o partido de Ciro Nogueira e do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), ficará com Bolsonaro – e não com Lula – na Bahia. Trata-se do quarto maior colégio eleitoral do Brasil, só perdendo para São Paulo, Minas e Rio.

O movimento não para aí. Pré-candidato ao governo baiano, o ministro da Cidadania, João Roma, está a um passo de se desfiliar do Republicanos, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, para ingressar no PL de Bolsonaro. A estratégia foi discutida em gabinetes do Planalto, na esteira de uma articulação política que prevê a construção de palanque para o presidente enfrentar Lula na Bahia.

Apoio

Mesmo com importante ala do Centrão indo na sua direção, ACM Neto se recusa a dar apoio explícito a Bolsonaro, uma vez que Lula lidera todos os levantamentos de intenção de voto e tem seu melhor desempenho no Nordeste. “Nós teremos um palanque aberto na Bahia porque contamos com o apoio de vários partidos”, desconversou o deputado Elmar Nascimento (BA), líder do União Brasil na Câmara e aliado de Neto.

Na outra ponta, o problema para Roma e para Bolsonaro é que o Republicanos não pretende apoiar oficialmente nenhum candidato à Presidência. Até agora, tudo caminha para que o partido libere diretórios regionais na campanha e invista na eleição dos deputados federais. Não sem motivo: a divisão do dinheiro dos fundos Partidário e de financiamento eleitoral leva em conta o tamanho das bancadas na Câmara.

Diante desse cenário, a alternativa para o impasse é a filiação de Roma ao PL, comandado por Valdemar Costa Neto. As tratativas já provocaram divergências entre aliados do governo porque a cúpula do Republicanos se sente desprestigiada na Esplanada e avalia que sofre ataque especulativo, por parte do PL, sob orientação do presidente.

Como efeito colateral dessas idas e vindas, o presidente do PL na Bahia, José Carlos Araújo, não só renunciou ao cargo como entregou sua carta de desfiliação. Argumentou que o partido havia garantido a aliança com ACM Neto e descartou a possibilidade de trair o compromisso para apoiar Roma no PL e dar palanque a Bolsonaro.

Roma foi chefe de gabinete de ACM Neto na prefeitura de Salvador, entre 2013 e 2018. Elegeu-se deputado com o aval de Neto, mas se distanciou do padrinho político após ser nomeado ministro da Cidadania, há um ano.

Imbróglio

No Palácio de Ondina, a ira de João Leão chegou às redes sociais, provocou impacto na chapa do PT e pode ter reflexos na campanha de Lula. O imbróglio ocorreu porque Jaques Wagner desistiu da candidatura ao governo e fez um arranjo pelo qual Rui Costa sairá para concorrer ao Senado, como previsto, ficando o governo da Bahia com Leão.

A confusão teve início após Otto Alencar (PSD) se recusar a ser candidato ao governo da Bahia, com respaldo do PT, no rastro da desistência de Wagner. Otto é ‘concorrente’ de Leão e pretendia disputar novo mandato no Senado.

A equação para a montagem das alianças na Bahia ainda pode causar estragos ao PT, que planeja lançar o secretário da Educação, Jerônimo Rodrigues, ao Palácio de Ondina. “Quando o Lula desembarcar na Bahia, acaba essa falsa novela”, amenizou Wagner. “É por isso que o ACM Neto quer que o Lula mande um beijinho para ele.”

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