Protagonistas de praticamente todas as disputas eleitorais pelo governo de Minas Gerais desde o início dos anos 2000, PSDB e PT caminham de acordo com matéria do jornal O Tempo, para serem coadjuvantes no pleito de outubro. A tendência é que os dois partidos não lancem candidatos próprios e apoiem as candidaturas do governador Romeu Zema (Novo) e do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD).
As articulações estão a pleno vapor, mas pelo desenho neste momento petistas e tucanos podem sequer ocupar lugares de destaque nas chapas e indicar membros para o cargo de vice ou senador.
No caso de Zema, o favorito para ocupar a posição de vice é o secretário geral de Estado, Mateus Simões (Novo), em disputa com o deputado federal Marcelo Aro (PP). Quem também briga por uma das vagas é o ex-ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio, que está de saída do União Brasil para se filiar ao PL, sigla de Bolsonaro.
Aliado de Zema desde o início de 2019, o PSDB corre por fora. São dois os tucanos aventados: o vice-governador Paulo Brant (PSDB) – ele foi eleito pelo Novo, mas deixou o partido após Zema vetar parte do reajuste para as Forças de Segurança – e o vice-presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Antônio Carlos Arantes (PSDB).
“A minha expectativa é que o PSDB esteja, sim, na chapa. Por que não com a vice ou com a candidatura ao Senado? Tenho que defender os interesses da minha agremiação partidária, mas acima de tudo colocando o interesse da população”, disse o líder do governo Zema na ALMG, Gustavo Valadares (PSDB), em entrevista à Band Minas no início de fevereiro.
Nos bastidores, tucanos afirmam que o mais provável é que o partido esteja na coligação de Zema. Caso essa possibilidade se concretize, será a primeira vez que a sigla não estará na cabeça de chapa na disputa pelo governo de Minas desde 1990, na primeira eleição estadual após a redemocratização. Oficialmente, o PSDB diz que dois caminhos estão em discussão: apoiar a reeleição do governador ou lançar candidatura própria.
Análise específica
Em relação ao PT, o presidente do partido em Minas, Cristiano Silveira, discorda no jornal O Tempo, que o partido será coadjuvante no pleito de outubro. “Nós estamos falando de cinco eleições: deputado estadual, que estamos com uma boa chapa; deputado federal, que o Lula tem pedido prioridade; temos um candidato ao Senado, Reginaldo Lopes, que é competitivo; Lula lidera com 43% a 45% em Minas; e temos a questão do governo” (de Minas), disse.
“Como dizer que o PT não é protagonista? É uma análise específica (restrita à disputa pelo Palácio Tiradentes), não uma análise global. Vamos ser muito protagonistas”, afirmou.
Assim como o PSDB, o PT lançou candidato próprio ao governo estadual em todas as eleições desde 1990. A única exceção foi 2010, quando indicou Patrus Ananias para ser o vice na chapa de Hélio Costa (MDB).
PT prefere Kalil, mas tem candidatura como plano B
A posição preferencial do PT para a eleição estadual é formar uma aliança ampla, para tentar “derrotar Zema e Bolsonaro ao mesmo tempo”, segundo Cristiano Silveira. No entanto, a sigla tem como plano B, caso a articulação não avance, lançar um candidato petista ao governo de Minas.
O candidato mais cotado para fechar uma aliança com o PT é Alexandre Kalil. Além de ser o segundo colocado nas pesquisas, atrás somente do atual governador, ele seria o palanque de Lula em um Estado que pode ser decisivo na escolha do próximo presidente.
Silveira coloca três premissas para que o partido apoie Kalil, nesta ordem de prioridade: a primeira é o apoio a Lula; a segunda é aceitar incorporar propostas petistas no programa de governo; e a terceira é integrar a chapa.
“Não dá para o Kalil querer ter o apoio do PT, como dizem na política, com a igreja cheia. Então, ele vai precisar falar conosco sobre isso”, disse. “Caso Kalil ou o PT não queiram, não temos dificuldade em sair com candidatura própria, não. Temos dois nomes pré-colocados: o prefeito de Teófilo Otoni, Daniel Sucupira, e o ex-prefeito de Betim Jésus Lima”, completou Silveira.
Derrota em 2018 desarticulou legendas
Para o professor Carlos Ranulfo, do Departamento de Ciência Política da UFMG, o posicionamento de PSDB e PT em 2022 é reflexo da derrota que ambos os partidos sofreram em 2018 para Zema. “A derrota do Pimentel era esperada, mas a do Anastasia, não. Essas duas derrotas desarticularam os dois partidos, que não conseguiram se recompor. O Anastasia, inclusive, mudou de partido”, avaliou.
Desde então, os partidos não conseguiram produzir novas lideranças que sejam capazes de angariar votos em todas as regiões, embora Ranulfo ressalte que o PT elege deputados no interior e tem boa votação no Estado.
“Mas não tem liderança estadual. E sem liderança estadual o partido não é competitivo na eleição para governador. Não adianta apenas a sigla, é preciso um nome forte para puxar, o que nenhum dos dois partidos tem hoje”, acrescentou.
Sobre o PSDB, ele afirma que a sigla não tem um candidato competitivo para o Planalto e pode perder o governo de São Paulo. “O candidato do Bolsonaro (Tarcísio de Freitas) parece ser competitivo, e a esquerda tem três nomes fortes. O PSDB vai sair dessa eleição menor do que entrou”, concluiu.