O povo brasileiro tem sido vítima dos delinquentes da política há tempos. Não é de hoje que crimes como peculato, termo jurídico que define a prática de rachadinha, são cometidos com naturalidade e desenvoltura nos corredores de Brasília. O advento da Lava Jato tornou-se um marco para o brasileiro comum, que viu, pela primeira vez, os poderosos e até então intocáveis donos do poder, serem condenados e encarcerados por desviar dinheiro público. O sistema, contudo, preparava seu contra-ataque.
Em pouco tempo a Lava Jato foi extinta, corruptos foram soltos e o centrão voltou ao núcleo do poder, comandando estatais, indicando dirigentes e controlando a máquina pública. A reação foi além, com leis sendo revistas, penas abrandadas ou extintas, e os sistemas de controle sendo enfraquecidos. Aquele que havia sido eleito para combater o mecanismo, acabou mostrando-se seu mais ardoroso defensor. Mais um caso típico de estelionato eleitoral.
Diante dos graves desacertos na economia e uma pandemia que ainda não forneceu qualquer trégua para nossa população, tudo leva a crer que o brasileiro se esqueceu que o combate à corrupção havia se tornado uma bandeira inegociável levantada por nosso povo. Com problemas como a fome, desemprego e um vírus que não escolhe vítimas, tudo leva a crer que a gravidade das dificuldades que enfrentamos mudaram as preocupações de patamar para complicações mais urgentes.
Infelizmente, isto é um grave equívoco, pois a contaminação do sistema pela corrupção é a principal causa de nossas mazelas, geradoras de desemprego, inflação, fome, violência e inclusive mortes durante esta pandemia. Para consertarmos os problemas do país, precisamos resgatar a ética como elemento essencial das relações políticas com a certeza que as leis estejam sendo aplicadas e os órgãos de controle em funcionamento.
Esta eleição pode promover este reencontro ético que nosso país tanta necessita. Por várias vezes defendi que a polarização que vivemos é geradora de um sistema perverso que retroalimenta dois grupos que representam um mesmo modelo falido de governo. Temos, mais uma vez, a chance de romper com as práticas que levaram nosso país ao fundo do poço moral e fiscal, com arroubos de inflação e práticas de corrupção.
A memória do brasileiro não pode ser subestimada. Pode estar adormecida, porém jamais esquecida. O repúdio ao modelo petista de governar ainda está presente em forma de trauma para a maioria dos brasileiros. Tudo indica que um projeto alternativo ao caos bolsonarista e a corrupção petista pode se encaixar nos anseios de um povo que cansou dos extremos e deseja apenas um país estável, com mais segurança e emprego.
A lembrança de um período em que o cidadão médio enxergava a construção de um novo país, quando a lei valia para todos e finalmente a corrupção era punida, ainda vive na mente de grande parte dos brasileiros. Precisamos de pessoas comprometidas com este projeto, um desenho de nação soberano, longe dos erros do passado e da raiva do presente, focados em construir um país onde a força da lei valha mais do que a vontade dos homens de terno que circulam entre rachadinhas, mensalões e petrolões.
Márcio Coimbra é Presidente da Fundação da Liberdade Econômica e Coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília. Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal
Sobre a FLE
A Fundação da Liberdade Econômica (FLE) é um centro de pensamento, produção de conhecimento e formação de lideranças políticas. É baseada nos pilares da defesa do liberalismo econômico e do conservadorismo como forma de gestão. Criada em 2018, a entidade defende fomentar o crescimento econômico, dando oportunidades a todos. Nesse sentido, investe em programas para a formação acadêmica, como centro de pensamento e desenvolvimento de ideias. Ao mesmo tempo, atua como instituição de treinamento para capacitar brasileiros ao debate e à disputa política.