A presidente do PSB na Bahia, Lídice da Mata, quebrou o silêncio em entrevista ao jornal Tribuna da Bahia, e falou sobre o rompimento do deputado federal Marcelo Nilo (PSB) com a base do governador Rui Costa (PT) e do senador Jaques Wagner (PT). Nos bastidores, são cada vez mais fortes os rumores de que ele deve integrar a chapa majoritária do pré-candidato ao Governo da Bahia, ACM Neto (DEM). Ainda na entrevista ao Tribuna, a veterana da política baiana fez um balanço da cena nacional e fez projeções para o partido.
Confira entrevista abaixo:
Tribuna – Em 2021, a gente teve uma disparada da inflação, com alta nos preços de alimentos e combustíveis. Apesar disso, a senhora acha que 2021, no aspecto econômico e político, foi melhor ou pior do que 2020? Qual a sua avaliação?
Lídice – Pelos dados que eu tenho, 2021 parece ter superado 2020. Você teve o impacto da primeira ponta da pandemia e agora em 2021 houve uma certa recuperação. Inclusive uma recuperação do setor de serviços que, embora viva num momento de grande segurança, porque abre e fecha toda hora, mas ele tem um impacto muito rápido na economia. Esses últimos meses tiveram um impacto na retomada do emprego. Teve uma queda do desemprego, mas ao mesmo tempo aumentou a inflação. Entramos em 2022 com inflação de dois dígitos. Agora aumentou a taxa Selic, portanto aumentou os juros no Brasil, que volta a ser um dos mais altos do mundo. 12 milhões de desempregados e a gasolina e o gás de cozinha subindo extraordinariamente. Na Região Metropolitana de Salvador bate R$ 120 num gás de cozinha. Então, o que tem de perspectiva é que ainda que cresça ou que se supere algum dado da economia brasileira, esses dados essenciais vão demorar a desaparecer. Juros altos, inflação, salários baixos e desemprego alto. Então, 2022 não promete ser um ano de grande crescimento.
Tribuna – Sobre os problemas que atingem principalmente os mais pobres, de alguma forma, a senhora acredita que vão prejudicar a tentativa do presidente Jair Bolsonaro de se reeleger?
Lídice – Eu acho que a economia tem grande influência na política. Porém eu acho que o presidente da República não tem só os dados da economia, embora eles sejam muito importantes. Ele tem desprezo pela vida do povo, como vimos na péssima administração da pandemia. Devo lembrar que foram quatro ministros da saúde. Só esse último se estabilizou aí, fazendo uma mediação entre o pensamento do presidente da República e, em alguns momentos, até se desmoralizando com o profissional. E, em outros, compreendendo a importância da vacina. É o caso agora, por exemplo, que ele deu a declaração de que era indispensável tomar a terceira dose da vacina, que era necessário ampliar a vacinação no Brasil. Ele vai respondendo para os dois lados. Aquela que foi a bandeira principal do presidente da República, que foi contra a vacinação, nós conseguimos mostrar que estávamos absolutamente certos. A vacina salvou e continua salvando vidas em nosso país. Além disso tudo que o presidente, para responder ao seu microambiente, é capaz de fazer. Como agora durante as chuvas que destruíram uma parte das cidades baianas, o presidente permanecia em férias demonstrando nenhum interesse pela situação que o povo baiano vivia.
Tribuna da Bahia – A senhora ainda vai ter alguma conversa formal com o deputado Marcelo Nilo para tratar das decisões que ele tomou e anunciou nessa semana, como deixar a base e o PSB?
Lídice da Mata – Vou sim. O deputado Marcelo Nilo me pediu para conversar e eu estou inteiramente à disposição dele pra que nós possamos ter essa conversa.
Tribuna – Tem alguma data marcada para essa conversa acontecer?
Lídice – Marcamos semana passada, não foi possível. Espero logo até o início da semana ter resolvido essa questão dessa conversa.
Tribuna – A senhora lamenta a decisão dele de sair da base? Acha que vai ser uma perda, considerando a trajetória que ele tem? Qual foi a sua avaliação?
Lídice – É claro que eu lamento que Marcelo saia da base. Claro que eu lamento, mas acho que ele é maior de idade e tem o seu próprio pensamento. Tem o direito de fazer o que achar melhor. No entanto, o PSB tem um posicionamento político e obviamente que eu apelo e apelarei a Marcelo para que ele siga o posicionamento político do PSB.
Tribuna – Ele comunicou oficialmente para a senhora que vai deixar o partido ou ele vai deixar isso para mais para frente?
Lídice – Ele não me comunicou nada disso. Não tivemos ainda essa conversa, que se torna indispensável.
Tribuna – Na semana passada, a deputada Tabata Amaral visitou Salvador e se encontrou com algumas lideranças, inclusive da oposição, aqui no estado – incluindo o ex-prefeito ACM Neto. Houve algum tipo de incômodo no partido por conta dessa visita?
Lídice – Olha, Tabata veio tratar de uma agenda com uma amiga dela, do Movimento Renova – que integra a Prefeitura de Salvador e que tem um cargo na prefeitura, mas que tem uma articulação política com ela a partir do Renova. E essa moça fez aqui um movimento de inauguração de um centro cultural. E organizou o lançamento do livro de Tabata – que é um livro que, essencialmente, defende a participação das mulheres na política. Nesse movimento, no momento de almoço, houve a presença do ex-prefeito ACM Neto. Claro que não é o mais agradável para o PSB a deputada ter participado de um evento com um dos principais adversários do campo que nós estamos. Mas não temos nenhuma censura. Ela também se encontrou comigo, me convidou para ir para o lançamento do seu livro. Infelizmente, como o convite chegou em cima da hora eu tive dificuldade de participar. Eu não acho que a deputada Tabata veio para a Bahia com intenção de se envolver com a política baiana. Ela veio com a intenção de participar realmente do lançamento do livro dela. E ela me falou que pretende lançar aqui, em Pernambuco e em São Paulo. Ainda me disse que era a última viagem que ela fazia para fora de São Paulo no período eleitoral. Eu acho que é claro que a militância reclama. Mas acho que é coisa pequena demais para que a gente possa se preocupar.
Tribuna – O PSB reafirma o apoio à pré-candidatura do senador Jaques Wagner ao Governo da Bahia?
Lídice – Estamos firmes. Nós estamos do lado que sempre estivemos, que é o lado daquilo que acreditamos: que a esquerda na Bahia possa representar a continuidade do desenvolvimento econômico do nosso estado, da inclusão social e econômica e racial da nossa população. Esta é a posição, volto a dizer, do PSB do Estado da Bahia e do PSB nacional. O Presidente do PSB nacional tem usado a Bahia como exemplo de lugar em que o PSB já apoia o PT para buscar a contrapartida ou a reciprocidade do PT.
Tribuna – E quais são os planos do PSB para eleições de deputados federais e estaduais nessas eleições? Quais são as metas do partido?
Lídice – Nossa meta, nos dois sentidos, é crescer nossa bancada no futuro. Eleger os que temos e ampliar a bancada. É claro que tudo isso estará relacionado com a metodologia que for disponível. Ou seja, pelo sistema que a gente for disputar. Se for federação é um; se for sem federação, é outro. Mas o nosso esforço nesse momento é conversar e planejar no pior cenário para poder ter, digamos, folga no melhor cenário.
Tribuna – Como estão as discussões do PSB para a construção da federação partidária? Avançaram? Existe perspectiva de se concretizar?
Lídice – As discussões se dão num ambiente dos 4 partidos que integrariam a federação, não é? Que 4 partidos são esses? O PT, PSB, PCdoB e PV. Eu acho que as regras da federação são muito burocratizadas. Isso leva necessariamente a que tenhamos que parar para debater essas regras. O PSB se dedicou a isso e tem conseguido contribuir muito com os outros partidos que também estão empenhados. O PT está empenhado. O PCdoB também e tem uma experiência também grande nisso. O PV também tem participado com muito interesse desse debate. E a nossa preocupação é que a federação possa ser um espaço com igualdade de condições de participação para os partidos que integram a federação. Nós temos trabalhado. O PT tem sido sensível a essas ideias e tem incorporado ideias do PSB. Por exemplo, o PSB propôs que nas eleições municipais, aqueles que são prefeitos, sejam consideradas candidaturas natas – ou seja, não se passará para discutir quem será o candidato da federação no lugar em que você já tem um prefeito de um dos partidos que compõem a federação. Não são chamadas as candidaturas, nada. Isso não existia como regra do regimento da nossa federação e que nós propusemos e o PT concordou integralmente. Uma outra ideia que foi do PSB foi a ideia de que a gente pudesse consolidar a federação com a composição que está agora em 2018. Se não, a gente vai mudando: muda em 2022, muda em 2024… De fato, isso não é o melhor caminho. Então, um dos pontos que nós estamos debatendo agora é a ideia de como vai se dar o processo de decisão interna. É claro que a primeira ideia básica é que as decisões devem ser tomadas por consenso. Mas caso haja uma necessidade grande de se sair de um impasse, que nós possamos ter a decisão tomada por 4/5. Ou seja, 85%. Quem fizer 85% decide. São detalhes. Nós estamos decidindo sobre uma federação que tem necessidade de conviver durante 4 anos.
Tribuna – E qual a perspectiva para a retomada da CPMI das Fake News?
Lídice – O senador Angelo Coronel, já nessa próxima semana, entrará em contato com presidente do Senado, para que diga claramente o que pretende com a CPMI. Só ele pode instalar a CPMI. Eu acho e acredito que seja bom para o Brasil nós aprofundarmos as investigações com retorno dos seus trabalhos. Mas também compreendo que muito do que nós estávamos investigando já se avançou após os dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal. Já se avançou muito no desvendar desses fatos. Tendo acesso aos resultados desta investigação, temos condição de compor rapidamente um relatório ouvindo as pessoas que participaram dessa investigação e aqueles que foram acusados. Acho que nós podemos complementar esse trabalho.
Tribuna – O TSE firmou uma parceria com as redes sociais para combater as fake news nas eleições. A senhora acha que as medidas serão suficientes para combater a desinformação?
Lídice – Não há nenhuma medida única que possa impedir a disseminação de fake news. O que o TSE está fazendo é muito bom e bem-vindo. Ele conseguiu pela primeira vez que as plataformas colaborassem com as autoridades brasileiras e ajudassem a formar uma inteligência com o TSE, com os profissionais relacionados ao direito eleitoral e aos funcionários do tribunal, para qualificar mais a ação do TSE no combate à fake news. É o combate à fake news, não o extermínio às fake news, porque todo crime – mesmo aquele que é muito claro, com punição prevista no Código Penal – não deixa de acontecer. A punição só não é capaz de impedir que o crime ocorra. O crime ocorre por uma série de outras razões da sociedade.