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Eleição de outubro pode ter chapas formadas por ex-candidatos a presidente da República - Foto: Reprodução
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segunda-feira 24 de janeiro de 2022 às 06:03h

Lula-Alckmin e Ciro-Marina: chapas de ex-presidenciáveis são incomuns

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Algo incomum nas eleições brasileiras pode acontecer no pleito de outubro: uma chapa formada por políticos segundo o portal UOL, que já haviam tentado a Presidência antes, os chamados ex-presidenciáveis.

Desde a redemocratização após a ditadura militar, isso aconteceu em apenas três vezes. Duas foram na eleição de 1998: Luiz Inácio Lula da Silva (PT) junto com Leonel Brizola (PDT), e Ciro Gomes (então no PPS, hoje Cidadania) com Roberto Freire (PPS). Em 2018, Marina Silva (Rede) e Eduardo Jorge (PV) também formaram uma parceria de ex-presidenciáveis.

Para a disputa deste ano, ao menos uma já é tida como mais provável: a do ex-presidente Lula com o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (sem partido, ex-PSDB).

A interlocutores, Alckmin disse recentemente que agora tem 100% de chances de ser vice do petista, antigo adversário político com quem disputou o segundo turno presidencial em 2006, vencido por Lula.

Em paralelo, a equipe de Ciro (hoje no PDT) —que pretende disputar a Presidência pela quarta vez— tenta atrair Marina Silva para uma composição de chapa. As conversas ainda são iniciais e o cenário é visto como difícil para hoje, tendo em vista que a Rede quer, primeiro, resolver se fará ou não federação com o PSOL —o que implica em outros problemas a serem resolvidos.

Contexto explica

A conjuntura brasileira explica por que ex-presidenciáveis estão se juntando. Em comum, todos eles são críticos do governo de Jair Bolsonaro (PL).

“Nosso contexto político atual que está levando a essa articulação. Porque, até então, ela não era necessária. Cada um por si, cada um com seu partido, seu recurso”, diz Flávia Babireski, doutora em Ciência Política pela UFPR (Universidade Federal do Paraná). “Bolsonaro, antipetismo, questão econômica, pandemia estão fazendo com que essas figuras sentem e conversem.”

O cientista político Lucas Câmara também ressalta que é a primeira vez que um presidente em mandato “parece tão frágil”. Bolsonaro foi o primeiro a não liderar as pesquisas no marco de um ano para a disputa da reeleição.

Integrante de uma chapa de ex-presidenciáveis em 2018, Eduardo Jorge —que foi cabeça de chapa em 2014— avalia que a união entre Lula e Alckmin é “uma questão tática eleitoral”. “Lula mudou sua posição messiânica e a postura de considerar os adversários como inimigos. Alckmin entraria como uma tática eleitoral do Lula.”

Com Alckmin, Lula vai tentar fazer voto útil já no primeiro turno
Eduardo Jorge (PV), candidato a presidente em 2014 e a vice de Marina em 2018

Por isso, ex-presidenciáveis aparecem como opção para auxiliar na disputa. “São figuras públicas com capital político, seja eleitoral, seja na elite política, mas que não têm mais muita viabilidade como cabeça de chapa. É o caso de Marina e Alckmin”, diz Câmara.

Chapa para atingir outros públicos

Para a eleição de outubro, Lula é apontado como favorito pelas pesquisas. Em algumas delas, há a indicação até da possibilidade de vitória em primeiro turno. Babireski aponta que essa é uma diferença em relação às outras chapas de ex-presidenciáveis, que não apareciam com chances de vitória.

“E faz toda a diferença ter esse segundo nome, o vice, com alguém já conhecido e com peso como Alckmin”, diz. “Alckmin disputou de fato, já teve essa chance de conseguir se eleger. É uma figura conhecida.” A doutora complementa indicando pesquisas que apontam que a presença de Alckmin na chapa ajuda no desempenho de Lula em alguns setores.

Outro ponto é que Alckmin pode ser uma figura para minimizar o antipetismo, ainda forte em setores da sociedade. “A gente tem uma rejeição ao PT muito forte, o que faz que, na hora, o antipetismo leve as pessoas a votarem no Bolsonaro”, diz Babireski.

Agrega

A chapa Ciro-Marina tem a torcida de Eduardo Jorge. Mas a Babireski aponta um problema em relação à chapa Lula-Alckmin. “Eles agregam menos pessoas porque eles agradam o mesmo grupo. Eles têm uma área de interseção maior do que Lula e Alckmin. Na hora de somar, não tem ganhos tão grandes quanto Lula e Alckmin.”

No caso de Lula, Alckmin, recém-saído do PSDB, ainda pode ajudar na articulação política, “por ser um nome mais moderado, mais para o centro, que conhece o jogo político”, na avaliação de Babireski, que ressalta a mensagem que a presença de duas figuras, até então, opostas, sentadas em uma mesma mesa. “Isso que a política é. Ela não é feita de extremos. É feita de conversa.”

Câmara avalia que, no cenário atual, o ex-governador “parece ter um apelo que é para o mercado e para o sistema político”. “Alckmin também tem entrada em setores conservadores, principalmente em São Paulo, onde Lula e o PT não têm tido entrada. Então esse ex-presidenciável significa outra coisa: um avalista para garantir governabilidade, tranquilidade dos mercados.”

E depois?

Para Lula e Alckmin, duas figuras que já comandaram os principais cargos do Poder Executivo nacional, o problema pode vir depois da eleição caso vençam a disputa.

“Não tenho a menor condição de dizer se isso vai ter reflexo durante o governo, se vai se refletir na questão programática porque o PT tem uma tendência hegemonista”, diz Eduardo Jorge. “Alckmin não tem nenhuma segurança, se vencer a eleição, no governo. Como tática eleitoral, não há dúvida que é forte.”

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