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segunda-feira 24 de janeiro de 2022 às 05:47h

Pesquisas eleitorais: o que são margem de erro e amostragem

CURIOSIDADES, NOTÍCIAS, POLÍTICA


Com a aproximação das próximas eleições, aumentam a frequência e o volume de pesquisas eleitorais divulgadas com a intenção de medir a opinião dos eleitores em relação aos candidatos —ou possíveis candidatos, já que o registro pelos partidos pode ser feito até 5 de julho de 2022.

Com isso, também crescem os questionamentos aos resultados apresentados, à validade dos métodos usados ou simplesmente aos conceitos repetidos, como margem de erro e amostragem. A seguir, o UOL explicar aqui alguns desses termos.

O que são amostragens e como funcionam?

Uma analogia muito usada para explicar o conceito de amostragem em pesquisas de opinião vem da culinária. Para medir se a quantidade de sal em uma sopa está boa, por exemplo, é necessário provar apenas uma colherada, e não a sopa inteira.

Da mesma forma, é possível tirar certas conclusões sobre uma população analisando apenas uma parcela representativa dela, porém muito menor. Por isso muitas pessoas nunca foram, nem serão, entrevistadas para uma pesquisa eleitoral, mas isso não significa que elas não sejam válidas.

Alinne Veiga, pesquisadora da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), explica que, no Brasil, as pesquisas de intenção de voto usam amostras não probabilísticas, em que são selecionadas cotas proporcionais da população —ou seja, grupos que representam o perfil do universo pesquisado (no caso, os milhões de eleitores brasileiros). Já uma amostra probabilística é quando os entrevistados são sorteados de forma completamente aleatória.

A representatividade da amostra é formada a partir do que se sabe sobre o eleitorado brasileiro, de acordo com dados públicos do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e do IBGE sobre renda, gênero, idade etc.

Já o número total de pessoas a serem entrevistadas é definido a partir de uma equação que leva em conta o tamanho do universo pesquisado e a precisão esperada do resultado.

Por fim, depois de definida uma amostra, as entrevistas podem ser coletadas de diferentes formas, como em pontos de fluxo, áreas contínuas, domicílios ou por telefone.

Qual é a diferença entre pesquisas feitas presencialmente ou por telefone?

A forma de acessar as pessoas que participarão de uma pesquisa tem impacto nos resultados.

Não há um consenso entre especialistas sobre a melhor forma de realizar uma abordagem. O método geralmente é escolhido de acordo com o tempo, o orçamento e os objetivos do levantamento. Condições específicas também podem influenciar nessa escolha, como a pandemia, por exemplo, que limitou deslocamentos em geral e contatos presenciais.

As chamadas pesquisas em pontos de fluxo são realizadas em locais movimentados, como shoppings e rodoviárias. Os pesquisadores vão até esses lugares e abordam os transeuntes que estejam dentro dos perfis desejados.

“O problema nesses casos é eliminar a possibilidade de certas pessoas participarem da pesquisa, porque, se eu nunca passo no ponto de fluxo, eu nunca vou ser contemplada”, diz Veiga.

Outro tipo de pesquisa feita presencialmente são as domiciliares, quando pesquisadores vão até comunidades, casas e condomínios para falar com os moradores.

“As pesquisas domiciliares são consideradas o padrão de ouro hoje no Brasil, mas são caras e demoradas, além de terem o problema de porteiro: os questionadores não conseguem entrar em condomínios de luxo nem em comunidades muito pobres”, diz o estatístico Neale El-Dash, criador do site Polling Data.

Por fim, há as pesquisas feitas por telefone, mais rápidas e baratas, mas que também trazem limitações, como a dificuldade de acesso a pessoas, em particular de baixa renda, e a de não poder apresentar todas as opções de uma única vez ao eleitor, o que pode influenciar sua resposta.

O que é margem de erro?

Apesar de amostragens funcionarem, elas são sujeitas a erros. É aí que entra a margem de erro, valor calculado a partir de uma equação matemática e que mostra o quão precisa é uma estimativa.

No geral, quanto maior é uma amostra, menor é a margem de erro e portanto mais preciso é o resultado. Porém essa conta não é diretamente proporcional.

“Conforme aumentamos a amostra, a margem de erro cai exponencialmente, até chegar a um tamanho em que aumentar a quantidade de pessoas entrevistadas quase não afeta mais esse valor”, explica El-Dash.

“A partir de 2.000 entrevistados, a margem de erro pouco varia, então não muda muito entrevistar mais gente do que isso. Portanto esse tamanho de amostragem costuma ser aceitável.”

A margem de erro é essencialmente a insegurança que os pesquisadores estão dispostos a assumir no resultado da pesquisa, explica Veiga. O tamanho da amostra é selecionado levando em consideração esse valor —no Brasil, costuma variar entre dois e quatro pontos percentuais, para mais ou para menos.

Na prática, significa que a porcentagem de intenção de votos mostrada por um candidato pode oscilar para cima ou para baixo dentro dessa janela.

“É como se fosse o erro tolerável, mas considerando a estimativa única gerada para aquela pesquisa em questão”, diz Veiga.

Ela ressalta, no entanto, que o cálculo da margem de erro não é tão preciso para pesquisas não probabilísticas, como as feitas no Brasil, o que atrapalha a interpretação dos dados.

O que significa empate técnico?

O empate técnico acontece quando se considera a possibilidade de a intenção de voto em dois candidatos estar no limite da margem de erro.

Por exemplo, suponha que um candidato A tenha 15% das intenções de voto em uma pesquisa cuja margem de erro é de dois pontos percentuais. Seu rival, o candidato B, tem 11% das intenções.

Considerando a margem de erro, ambos poderiam ter 13% das intenções, de forma que estariam empatados. Vale ressaltar, no entanto, que esse cenário é menos provável do que o cenário em que o candidato A está de fato à frente do B, porque ambos os postulantes teriam de estar no limite da margem de erro para estarem empatados.

O que são os erros não amostrais?

Segundo Neale El-Dash, há diversos outros tipos de erros derivados do uso de amostragem, mas que não são tão facilmente mensuráveis.

“Pode haver dificuldade em localizar as pessoas, o pesquisador pode ligar e o entrevistado não atender, ou ter vergonha de responder à determinada indagação. Não há uma conta matemática que calcule como esses aspectos afetam o resultado da pesquisa, mas é necessário prestar atenção a eles”, diz.

Em pesquisas feitas em ponto de fluxo, por exemplo, entrevistados podem se sentir intimidados em revelar em qual candidato de fato pretendem votar ou a faixa de renda em que se enquadram. Os erros não amostrais, explica o estatístico, são análogos ao que se chama viés metodológico.

Outras questões a se atentar por poderem afetar o resultado de uma pesquisa são o tamanho de um questionário e a ordem em que as opções são apresentadas.

“O questionário de uma pesquisa telefônica, por exemplo, não pode ser muito grande, se não a pessoa perde a paciência. Também não se pode listar sempre os nomes na mesma ordem, pois geralmente o último é o mais fácil de lembrar”, diz El-Dash.

Para mitigar essa questão em pesquisas presenciais, por exemplo, nomes de candidatos são apresentados em uma cartela redonda, no formato de pizza, com cada candidato sendo representado em uma fatia.

Como pesquisas podem ser comparadas entre si?

O uso de diferentes metodologias pelos diversos institutos de pesquisa explica a divergência entre resultados. Por isso, ao se comparar a evolução do desempenho de candidatos com o tempo, é necessário olhar pesquisas feitas pela mesma organização e que tenham sido aplicadas com certa frequência.

Além disso, é comum que os resultados mudem conforme se aproxima a data do pleito, quando os eleitores começam a formar a opinião com maior embasamento. Pesquisas feitas pouco antes das eleições tendem a apresentar resultados mais certeiros do que aquelas realizadas com muita antecedência.

“No Brasil, a dinâmica eleitoral muda muito. O desconhecimento dos candidatos é muito grande e as pessoas vão formar opinião sobre quem vão votar muitas vezes na véspera da eleição”, diz El-Dash.

“Pesquisas feitas muito antes da eleição mostram os nomes mais conhecidos, mas a vantagem deles agora é maior do que vai ser lá na frente. A opinião pública vai se moldando conforme as pessoas vão conhecendo de fato os candidatos”, afirma.

Outro cuidado é com pesquisas de segundo turno feitas antes mesmo de o primeiro acontecer. “Essas são simulações feitas em um cenário de muito desconhecimento. Essas pesquisas servem mais para avaliar o potencial do candidato do que de fato fazer uma previsão do que vai acontecer”, diz Veiga. “Falando de forma não estatística, elas também têm como efeito influenciar o voto.”

Conheça institutos de pesquisa e seus métodos

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