O conselheiro do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), Daniel Menezes, disse ver com preocupação o pedido feito pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) ao Ministério da Saúde para que se diminua o período de afastamento de profissionais de enfermagem contaminados com a covid-19. Para a entidade de classe, o interesse dos hospitais na redução é de natureza econômica, e não científica.
“A enfermagem está desgastada, estamos há dois anos trabalhando em sobrecarga. E sabemos que o profissional de enfermagem é uma das profissões essenciais, e precisam estar bem para conseguir fazer o atendimento da população”, alertou Daniel, que se diz preocupado por conta da redução do afastamento e das condições de trabalho enfrentadas pela categoria ao longo da pandemia.
O pedido ao Ministério, conforme noticiado pelo jornal Folha de S. Paulo, se deve à recente sobrecarga da rede de saúde privada em decorrência do aumento nos casos da covid-19. A proposta é para que profissionais de enfermagem fiquem menos tempo afastados de modo a garantir a operacionalidade dos hospitais, que precisam da categoria para atender o elevado número de pacientes.
Apesar do Ministério da Saúde não ter emitido qualquer decisão a respeito, o ministro Marcelo Queiroga afirmou na última sexta (7) que avalia o pedido com sua equipe técnica, manifestando-se favorável à redução do afastamento tanto de enfermeiros quanto de médicos de dez para cinco dias. Citou o caso da França, onde já foi encurtado o período.
Menezes, do Cofen, já afirma que a ideia não se sustenta, uma vez que há profissionais de enfermagem suficientes no mercado para atender a atual demanda. “É um interesse apenas econômico, porque os hospitais não querem custos para repor os seus profissionais. No ano passado, boa parte das contratações emergenciais por conta da covid-19 foram encerradas, os hospitais fecharam os leitos e demitiram profissionais”.
O presidente do Cofen também aponta para o fato de não haver embasamento científico para a redução do período de afastamento. Apesar de alguns países já terem encurtado esse tempo pela metade, o entendimento da Organização Mundial de Saúde (OMS) ainda é pela manutenção dos dez dias, ainda mais ao levar em consideração a falta de conhecimento na atual etapa da pandemia.
A alternativa defendida pelo Conselho para preservar a oferta de recursos humanos nos hospitais privados é o reforço na testagem contra covid-19 nas equipes de atendimento, de modo a isolar profissionais contaminados antes que espalhem a doença para os demais. De acordo com Menezes, há possibilidade da questão ser judicializada, caso o Ministério da Saúde decida por acatar o pedido sem que haja embasamento científico na decisão.