Atingidos pela onda de renovação que dominou as eleições de 2018, políticos que exerceram cargos importantes em governos ou no Congresso no passado vão tentar segundo o Estadão uma redenção nas urnas em 2022. Nomes como a ex-ministra e ex-presidenciável Marina Silva (Rede-AC), o ex-presidente do Senado Eunício Oliveira (MBD-CE), o ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB-PR) e a ex-senadora Heloísa Helena (Rede-AL) pretendem se candidatar à Câmara após derrotas sofridas quatro anos atrás. A estratégia de partidos como MDB, PT, PSDB, PSB e Rede é apostar nos mais experientes nas eleições para deputados federais.
O presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), vê na eleição de caciques regionais uma maneira de aumentar a bancada do partido na Câmara. “Vamos eleger mais de 50 deputados federais. São puxadores de votos”, disse ele ao Estadão. Antes de 2018, a sigla disputava com o PT o título de maior bancada na Câmara, com mais de 60 representantes, mas hoje é apenas a sexta, com 34.
Além de Eunício, o partido deve lançar ex-governadores Roseana Sarney (MDB-MA) e Germano Rigotto (MDB-RS) como candidato a deputado, enquanto os ex-ministros e ex-senadores Garibaldi Alves (MDB-RN) e Romero Jucá (MDB-RR) devem tentar voltar ao Senado.
Líder do PT na Câmara, o deputado Reginaldo Lopes (MG) também afirmou que sua sigla deve apostar em candidaturas de ex-governadores e ex-senadores para ajudar o partido a manter um bom número de representantes na Casa. “Queremos eleger uma grande bancada, pelo PT e também na federação partidária”, afirmou. Os ex-governadores Fernando Pimentel (PT-MG), Agnelo Queiroz (PT-DF) e o ex-senador Lindbergh Farias (PT-RJ) estão na lista dos que vão tentar se eleger deputado em 2022.
A nova tentativa acontece após a maioria desses políticos sofrerem derrotas para novatos. Em Minas Gerais, por exemplo, Pimentel fracassou na tentativa de reeleição a governador e não chegou nem ao segundo turno, que foi vencido pelo estreante Romeu Zema (Novo). No Ceará, Eunício Oliveira não conseguiu renovar o mandato de senador e perdeu para Eduardo Girão (Podemos), também em sua primeira eleição. Mesmo caso se repetiu no Espírito Santo, onde Magno Malta (PL-ES) foi derrotado na tentativa de renovar o mandato de senador e viu nomes fora da política como Fabiano Contarato (Rede) e Marcos do Val (Podemos) se elegerem. Agora, Malta, que recusou ser vice de Bolsonaro quatro anos atrás, vai tentar uma vaga na Câmara.
Cláudio Couto, cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), avalia que as eleições municipais de 2020 já começaram a sinalizar uma mudança em relação ao interesse do eleitor em eleger os chamados “outsiders” como visto em disputas anteriores. “A eleição de 2020 já foi um certo retorno à política normal, na comparação com aquilo que a gente viveu nesses últimos anos, pelo menos em 2016 e 2018, já na onda do que começou a acontecer em 2013”, afirmou.
Partidos consolidados, como MDB, PSD e Progressistas foram os principais vencedores das disputas locais, que também contou com a volta de antigos governantes, caso de Eduardo Paes (PSD), que assumiu a prefeitura do Rio pela terceira vez.
Rede busca sobrevivência
No entanto, o objetivo da estratégia de lançar nomes conhecidos para Câmara pode mudar conforme a realidade dos partidos e dos pré-candidatos. Depois de três eleições seguidas como presidenciável, Marina Silva vai tentar se eleger deputado dessa vez para garantir a sobrevivência do partido que fundou, a Rede Sustentabilidade.
Em 2018, a sigla não atingiu a votação mínima estabelecida pela cláusula de desempenho e, como consequência, ficou sem recursos públicos para financiar suas atividades e tempo gratuito de rádio e TV nas eleições. A Rede hoje tem apenas dois deputados federais, número menor que os 11 que serão exigidos em 2022 pela regra.
Para ajudar Marina nessa missão, o partido também lançará a ex-presidenciável (2006) Heloísa Helena para a Câmara. Ela já havia tentado em 2018, mas não foi eleita. “São lideranças que podem ser importantes para o partido ter uma votação que permita a ele sobreviver no Legislativo e consequentemente ter fundo partidário e ter fundo eleitoral”, afirmou Couto.
Na avaliação de Creomar de Souza, da consultoria Dharma, o resultado da eleição de 2020 também representa muito mais uma rejeição a nomes pouco experientes da política do que uma aposta nos caciques partidários.
“A melhor alegoria até aqui e que talvez dê algum alento às lideranças antigas é a possibilidade sinalizada em 2020 de que um pedaço dos eleitores vai votar com um olho no retrovisor, buscando nomes que de fato tenham a capacidade de dar soluções a problemas concretos”, afirmou.