Aberta a temporada de negociações para a formação de palanques regionais e alianças para as eleições de 2022, o União Brasil, partido resultado da fusão entre Democratas e PSL, tenta encontrar entre seus quadros um nome para apresentar como candidato a vice-presidente em uma eventual chapa encabeçada pelo ex-juiz Sergio Moro (Podemos).
Segundo a revista Veja, a dificuldade maior, disse sob reserva um dirigente do partido na revista Veja, é que, à exceção do ex-prefeito de Salvador ACM Neto e do governador de Goiás Ronaldo Caiado, o emaranhado de filiados da sigla é formado por ilustres desconhecidos que, a preço de hoje, pouco acrescentariam como puxadores de voto. Os principais nomes listados em reuniões recentes de articulação política – Efraim Filho, Mendonça Filho e Luciano Bivar – foram lembrados como políticos na casa dos 100.000 votos, patamar irrisório em uma corrida presidencial.
“Os quadros do União são como se fosse tudo japonês”, resumiu um cacique da sigla ao retratar a dificuldade de encontrar o vice ideal. Entusiastas de uma aliança com Sergio Moro, políticos do partido fizeram um apelo para que ACM Neto, que há anos trabalha para se lançar governador da Bahia – e hoje é o líder nas pesquisas de intenção de votos – topasse a empreitada. Sondado, ele recusou a proposta. Caiado, candidato à reeleição, tampouco é considerado um nome factível ladear o ex-juiz na campanha.
Diante da escassez de uma escolha natural para o posto de vice, o União se encaminha para propor um nome com projeção política local, mas com amplo trânsito no Congresso e, nordestino, teoricamente capaz de abrir portas e palanques políticos ao ex-magistrado na Lava-Jato na região onde Lula, primeiro colocado na corrida presidencial, lidera com ampla folga. A ideia de apresentar a Moro o nome do “japonês” Luciano Bivar como potencial vice em uma reunião já agendada para o início de janeiro tem método.
O União deterá um sexto do tempo de propaganda no horário eleitoral no rádio e na TV (o restante será dividido por outras 25 siglas) e um dos maiores nacos do bilionário fundo eleitoral, um senhor ativo para Moro, que ocupa a terceira colocação em intenções de voto, com 9%, segundo pesquisa Datafolha divulgada no início do mês. Para a sigla, a parceria poderia dar-lhe pedigree, perspectiva de poder e um espaço cativo no noticiário político do próximo ano.
Em pelo menos três rodadas de conversas com o próprio Moro, dirigentes do União apresentaram a ele propostas para popularizar a imagem do sisudo magistrado responsável pelos processos do petrolão e, reservadamente, classificaram como “amadorismo” pelo menos duas recentes decisões do pré-candidato do Podemos à Presidência da República: o aceite em receber um salário de 22.000 reais como dirigente do partido a que se filiou e a temporada de dez dias que passou nos Estados Unidos com a família para trazer a mudança de domicílio de volta ao Brasil.
No primeiro caso, Moro ouviu que, diante da imagem que pretende passar de “fazer sempre a coisa certa”, um dos bordões do ex-juiz desde os tempos de Lava-Jato, aceitar receber salário como integrante da cúpula de um partido político, embora longe de ser ilegal, é munição certa contra a imagem dele na corrida presidencial. Não por coincidência, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) tem utilizado as redes sociais para, a partir da decisão de Moro de entrar na folha de pagamentos do Podemos, provocar o desafeto do pai.
Na penúltima semana, o parlamentar replicou a mensagem de um seguidor: “Bom dia para quem acorda cedo para trabalhar, ou está indo dormir depois do plantão. Afinal, ninguém aqui ganha 22 mil para fazer campanha antecipada”. No sábado 18, voltou à carga ao afirmar que, por ser remunerado pelo partido, Sergio Moro não tem “moral nenhuma” para criticar a aprovação do bilionário fundo eleitoral pelo Congresso. “Com salário de R$ 20.000/mês do fundo partidário para passar o dia tuitando, não tem moral nenhuma para apontar o dedo na cara de ninguém no Congresso”, escreveu o Zero Três. Em entrevistas recentes, Moro disse que o salário é o “vencimento por uma posição de dirigente partidário” e afirmou que outros políticos, como Lula, também têm holerites vinculados a legendas.
Outra recente decisão criticada por potenciais aliados foi a de viajar para os Estados Unidos para acompanhar a família em seu retorno ao Brasil. Com os principais pré-candidatos em intensas articulações políticas – o jantar entre o petista Lula e o ex-tucano e potencial vice Geraldo Alckmin foi apenas o exemplo mais recente disso – caciques que imaginam poder compor com o ex-juiz dizem que ele perdeu um tempo precioso que poderia estar sendo utilizado para marcar posição no noticiário político e em reuniões partidárias.