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quinta-feira 23 de dezembro de 2021 às 08:34h

Aliança com Alckmin equivale a um cheque em branco para Lula?

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Segundo a coluna de Malu Gaspar, no O Globo, existe um certo encanto nos setores progressistas, e de modo geral entre todos os que desejam ver Jair Bolsonaro fora do Palácio do Planalto, com a chapa Lula-Geraldo Alckmin em 2022.

Para muita gente, segundo a publicação, é um lance genial, tacada de mestre, contra a imagem de um Lula extremista, a verdadeira frente ampla que faltou em 2018. Se até Alckmin, um dos maiores antipetistas do passado, está “lulando”, por que não o resto do eleitorado?

De fato, é excelente para a democracia que dois atores tão relevantes da política se proponham a um diálogo e a uma aliança, especialmente neste estágio preocupante da vida nacional. Sem dúvida é boa jogada tanto para Lula como para Alckmin.

Os benefícios para o primeiro estão descritos acima. O segundo anda descrente de suas chances de vitória na eleição para o governo paulista no ano que vem. Vê na dobradinha com Lula a oportunidade de voltar a ter protagonismo nacional sem precisar disputar voto com a potente máquina estadual comandada por João Doria e Rodrigo Garcia.

O risco é se deixar levar pelo otimismo e esquecer de fazer perguntas cruciais. Ok, Lula e Alckmin se juntarão para ganhar de Bolsonaro e salvar a democracia. Mas em que bases será construída essa aliança? Para fazer o que a partir de 1º de janeiro de 2023? O que significa afinal essa “guinada para o centro” que Lula se propõe a dar?

Podem parecer questões inconvenientes ou fora de hora. Que importam os meios, diante de fim tão nobre? Não é cedo demais para cobrar propostas de alguém que vai salvar a democracia?

As experiências do passado, porém, mostram que a hora de fazer tais perguntas é justamente enquanto as negociações acontecem. Não foi por falta de tentativa que não se fez aliança em 2018 entre o PT e Ciro Gomes.

As versões sobre por que a união não aconteceu variam conforme o sujeito, mas é evidente que a negociação foi malconduzida. Depois a relação desandou em acusações mútuas que, se não fizeram diferença para a vitória de Bolsonaro, já que os eleitores do pedetista assim mesmo votaram em peso em Fernando Haddad, mostraram quanta dificuldade tem o PT em ceder quando se trata de compor para ganhar eleições.

Agora, o Datafolha mostra que apenas 16% dos eleitores estariam mais dispostos a votar em Lula por causa de Alckmin, mas sua presença na chapa tem um simbolismo crucial para a narrativa da guinada ao centro em nome da democracia.

Contudo, sabe-se que o PT continua resistindo a ceder espaço nas disputas estaduais a políticos do PSB, provável partido do ex-tucano. Lula está na liderança absoluta nas pesquisas e em óbvia vantagem na negociação, mas, se o objetivo é antecipar o segundo turno e salvar a democracia, talvez valesse a pena ceder um bocadinho. Ou não?

Há ainda a questão programática. A despeito da constatação irônica que circulou outro dia na internet — Alckmin seria provavelmente o vice mais à esquerda que um governo do PT já teve —, a História também já mostrou que vices decorativos podem se tornar um sério problema.

A exitosa aliança entre Lula e José Alencar, em 2002, foi precedida pela “Carta aos Brasileiros”, em que o petista assumia compromissos com uma agenda à direita do programa clássico do partido. A negociação que fez de Michel Temer vice de Dilma foi puramente eleitoral — e deu no que deu.

Por ora, nenhum petista perguntou a Geraldo Alckmin o que ele prefere: mais ajuste fiscal em troca de nenhuma privatização? Ou menos austeridade fiscal em troca de mais abertura econômica? E na segurança ou na educação, há alguma convergência de ideias?

A estratégia de Lula é óbvia: adiar as definições ao máximo para esticar a boa onda das pesquisas, reduzir o espaço de movimentação da terceira via, aumentar seu cacife na negociação com potenciais aliados e evitar críticas precoces a suas propostas.

Lula tem dito aos mais próximos que a aliança com Alckmin está “maturando”. Seus aliados costumam afirmar que não há por que ter pressa em cobrar propostas econômicas do ex-presidente, uma vez que ele é um pragmático e já se conhecem os resultados de seus governos.

Mas foi o próprio Lula quem afirmou outro dia que, em 2023, o Brasil estará muito pior do que estava em 2003, quando ele assumiu o primeiro mandato. Lula também não é igual, tampouco as soluções para os problemas serão.

Há diferentes maneiras de disputar uma eleição e de reerguer um país. Submetê-las ao debate faz parte da essência da democracia. O voto é um pacto entre o eleitor e seu candidato. Quem dá um cheque em branco ao eleito não pode reclamar do preço depois.

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