Os juros brasileiros subiram drasticamente ao longo de 2021, avançando de 2% ao ano em janeiro para 9,25% ao ano em dezembro. E devem continuar subindo em 2022. O prognóstico da edição mais recente do Relatório Focus, divulgado na última segunda-feira (13) indica conforme a revista IstoÉ, que a expectativa para a Selic em dezembro do ano que vem é de 11,50% ao ano. Na semana anterior, era de 11,25% ao ano.
Juros são o remédio clássico para uma economia que está aquecida demais. Não é o caso da economia brasileira. Apesar da queda de 1,6 ponto percentual no terceiro trimestre, o desemprego permanece elevado, em 12,6% da força de trabalho. A demanda não está aquecida. No terceiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) registrou uma queda de 0,1%, configurando uma recessão técnica – dois trimestres seguidos de retração da economia.
Por que os juros deverão continuar subindo, então? Por uma razão igualmente clássica: a moeda tem de ser ancorada. Há várias âncoras. A mais importante delas é a fiscal. Se o governo mantiver um orçamento equilibrado, não haverá excesso de dinheiro na economia e os preços ficarão bem-comportados.
Quando a âncora fiscal é levantada, o navio da inflação corre o risco de sair à deriva. Por isso, é preciso lançar outra âncora, a monetária. Para impedir que o excesso de dinheiro na economia pressione os preços, é necessário estimulá-lo a ficar rendendo nos bancos. E a solução para isso é elevar os juros.
O Comunicado da reunião mais recente do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgado na última quarta-feira (8) é claro nesse aspecto, ainda que, como de hábito, tenha sido escrito na linguagem neutra dos bancos centrais. “O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. (…) Novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país.”
E o Copom vai além, explicando que o problema é maior do que o combate à pandemia. “Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevam o risco de desancoragem das expectativas de inflação, mantendo a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário básico.”
Tradução: o governo está gastando demais e isso é inflacionário. Nesse momento, elevar os juros para conter a inflação funciona. O problema é que elevar os juros em um momento no qual a economia está desaquecida é o equivalente a realizar uma sangria em um paciente anêmico.
Não por acaso, as projeções para o crescimento da economia em 2022, também pelo Relatório Focus, vêm encolhendo semana a semana. E, se não houver uma melhora climática, com normalização do regime de chuvas, o agronegócio permanecerá sem contribuir para o desempenho do PIB.