O presidente do PSB, Carlos Siqueira, afirmou nesta sexta-feira, em entrevista ao jornal Valor, que “o período dos outsiders já passou”. A declaração ocorre uma semana após ele receber Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), para um jantar na sede do partido, em Brasília.
A notícia a respeito da realização desse jantar alimentou especulações a respeito de uma possível candidatura de Barbosa em 2022. Siqueira afirma que ele e o ex-ministro conversaram durante três horas sobre política, conjuntura e outras questões, mas não trocaram nenhuma palavra sequer a respeito de candidatura.
Barbosa ganhou notoriedade como ministro do STF ao relatar o caso do mensalão em 2005, processo que resultou na condenação de várias figuras importantes do PT e de partidos aliados do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Muito antes do ex-juiz Sergio Moro, foi alçado por muitos ao posto de “herói nacional” do combate à corrupção.
Em abril de 2018, depois de muito suspense, ele se filiou ao PSB. Chegou a marcar 10% nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência. Mas acabou anunciando desistência da candidatura em maio, decisão de caráter “estritamente pessoal”, disse à época.
Siqueira afirma que, na sua avaliação, a conjuntura de 2022 será muito diferente da de 2018, quando a maioria escolheu Jair Bolsonaro para presidente e uma série de novatos para os mais diversos cargos.
“O período dos outsiders já passou”, disse. “Aquele era o momento dele [Barbosa]. Agora há um quadro muito diferente. Não quer dizer que o sistema político necrosado tenha se recuperado, mas é outra conjuntura.”
O presidente do PSB não lamenta a mudança de ares no ambiente político. Pelo contrário. Afirma que “felizmente” não há mais o mesmo espaço para os que chegam fazendo discurso de negação da política. “Os que foram eleitos naquela onda não deram o retorno que eleitor esperava”, avalia.
Barbosa, segundo ele, “é um homem politizado e preparado”. Para aferir a hipótese de uma candidatura do ex-ministro nessa nova conjuntura, diz, seria necessário fazer pesquisas, ouvir analistas e outros especialistas, o que, garante, não está sendo feito.
“Minha impressão é que o quadro hoje de polarização Lula-Bolsonaro tende a se consolidar. Como não temos candidato natural no PSB à Presidência, decidimos deixar decisão [sobre o posicionamento do partido] para o próximo ano.”
Siqueira afirma que, nos últimos meses, conversou com o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, pré-candidato do PSDB à Presidência, e com Lula.
“Gosto muito do Leite, mas temos mais afinidade com a esquerda. Temos mantido várias conversas com o pessoal do PT. Temos demandas que levamos para eles nos Estados em que estamos bem posicionados. Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul. O PT está examinando, tem os interesses dele também”, disse. “O mais provável é ficar com o PT se o PT tiver como abrir mão de suas candidaturas.”