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A deputada federal e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann Reprodução/Divulgação
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segunda-feira 25 de outubro de 2021 às 06:58h

Gleisi diz que prioridade do PT em 2022 é eleger Lula presidente

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Em entrevista à Folha de S.Paulo, a presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, diz que a prioridade do partido para 2022 é a eleição de Lula presidente da República. Além disso, Gleisi afirma que o foco do partido será fazer uma bancada maior na Câmara para tentar viabilizar pautas progressistas.

Sobre alianças eleitorais, Gleisi disse que o partido ainda não começou a discutir sobre o tema. “Temos conversado com o centro, centro-direita, pelo que estamos vivendo. Seria importante se esses partidos viessem para a oposição, independentemente das eleições, nos ajudaria a avançar num pedido de impeachment ou ações contundentes de derrota no Congresso. Isso pode ter consequência nas eleições? Pode. Mas não é o objetivo. Do ponto de vista eleitoral, obviamente nossa proximidade é maior com o campo da esquerda, PSB, PCdoB, PSOL”.

Sobre o PDT, a líder petista disse que é cada vez mais distante a chance de aliança, devido às posições de Ciro Gomes. “Eu lamento porque o Ciro só consegue aparecer quando ataca o Lula ou o PT. É oportunismo”.

Gleisi afirma que Jair Bolsonaro destruiu o Bolsa Família ao criar o Auxílio Brasil e que o ocupante do Palácio do Planalto erra ao pensar que a transferência de votos pelo aumento no valor do benefício será automática.

“O Bolsonaro, assim como muitos que o apoiam, tem preconceito contra os pobres. Acha que dando um valor maior [de transferência de renda], vai ganhar voto e ganhar apoio. Isso não acontece. Não é automático. É desconsiderar a capacidade crítica da população”, diz .

Gleisi afirma que o PT não votará contra a medida, mas continuará defendendo outro projeto proposto pelo partido, que prevê transferência de renda de R$ 600.

Nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro bateu o martelo de que o Auxílio Brasil terá aumento e será de R$ 400. Ele também já lançou programas sociais que substituem outras marcas petistas, como o Minha Casa, Minha Vida. O PT, se eleito, pretende retomar essas marcas? O problema é que o Bolsonaro não está só trocando de nomes, ele está destruindo os programas. É o que ele está fazendo com o Bolsa Família agora, que sempre foi um programa estruturado e está relacionado com um conjunto de outras medidas para ajudar a tirar pessoas da miséria. É um profundo desrespeito com o povo brasileiro ele achar que, dando um aumento num programa como esse, ele vai ter benefício eleitoral.

A sra. disse que aumentar o Auxilio Brasil tem um caráter eleitoreiro, mas o PT defende e continuará defendendo um programa na faixa de R$ 600. Isso também não teria um caráter eleitoreiro? Se Lula for eleito, vai continuar defendendo esse patamar? O Bolsa Família nunca foi um programa eleitoreiro para o PT. Defendemos um reajuste grande agora em razão do momento em que estamos vivendo. As famílias estão sem renda, estão sem emprego.

Bolsonaro nunca defendeu o Bolsa Família. Ele só está se preocupando agora com o programa, porque isso, na cabeça dele, pode gerar dividendos eleitorais. Nós vamos apoiar o aumento de valor [do auxílio]. E vamos continuar defendendo o nosso projeto apresentado em 2020, que é o do Mais Bolsa Família, que prevê o valor de R$ 600.

Por que Bolsonaro mudou de discurso em relação às políticas de transferências de renda? O Bolsonaro, assim como muitos que o apoiam, tem preconceito contra os pobres. Acha que dando um valor maior, vai ganhar voto e ganhar apoio. Isso não acontece. Não é automático. É desconsiderar a capacidade crítica da população. A população, claro, quer um valor maior, precisa disso, mas sabe que isso não vai resolver o problema dela e não está vendo no governo outras alternativas para saídas da crise. É o velho preconceito da visão do Bolsonaro de que voto se compra.

O partido quer tentar o apoio do mercado e empresários para a eleição? Como conquistar esse apoio? Nós queremos saber o que o mercado vai fazer pelo Brasil e pelo povo brasileiro, pela maioria pobre, por esse povo que está passando fome. O mercado conhece o Lula e sabe como a gente governa.

O partido já discutiu se o Ministério da Economia seria novamente desmembrado em outras pastas, como a do Planejamento? Não falamos sobre isso, mas de fato essa organização administrativa é muito ruim. O problema não é a quantidade de ministérios, não é isso que pesa.

Já tem nome para ministro da Economia? Nosso ministro da Economia é o Lula. De economia ele entende tudo.

A sra. reconhece que o PT cometeu erros ao longo desse processo que levaram à derrota do partido em 2018 e também não teve bom desempenho em 2020? A sra. faz autocrítica? Eu considero que o resultado das eleições de 2018 foi positivo para o PT diante do quadro de perseguição sistemática a que nós fomos submetidos. Lula estava preso e mesmo assim o PT foi para o segundo turno das eleições, elegeu a maior bancada de governadores e de deputados.

E partido político não faz autocrítica. Faz balanço político e corrige os rumos. Não precisa ficar externando. Faz o que tem que ser feito. Eu gosto muito de uma fala do Lula sobre autocrítica, que é “eu vou fazer autocrítica por quê, se vocês já criticam?”.

E qual a mudança de direção nesse balanço que vocês fizeram? Tem sido prática do partido de se organizar melhor, fazer com que esteja mais perto das bases sociais.

Se eleito, o PT pretende mudar o modelo das emendas distribuídas pelo governo para a base no Congresso, que aumentou significativamente nos últimos anos? Veja, emenda parlamentar não é ilegítimo. O que está acontecendo é uma grande concentração, poder de distribuição na mão do relator [do Orçamento]. Temos R$ 20 bilhões reservados para que o relator distribuísse para o parlamentar indicar.

É um valor exorbitante e isso traz consequência para o país. Tem muita obra sendo feita, mas de maneira desconectada. Não tem projeto organizado de investimento no país. E você não sabe se aquilo que está sendo feito é realmente necessário para aquele município, naquele momento. Isso é ruim. É um desvio. Não pode continuar acontecendo, tem que ser revisto.

A intenção seria rever o valor? Como lidar com a perda de poder dos deputados, que estão acostumados. É uma briga que vamos ter de ter agora, durante a discussão do Orçamento de 2022. Tem que devolver [o dinheiro] ao Executivo programaticamente. Tem que recompor os programas. Você tem programas na área de educação, saúde, ciência e tecnologia.

Lula está em primeiro lugar em todas as pesquisas eleitorais, mas tem variado pouco de uma para outra. Ele atingiu o teto nas pesquisas, isso preocupa? Acho que a questão da intenção de votos começa a esquentar mesmo junto com o debate político e ainda não entramos na dinâmica eleitoral. No mundo político a questão da disputa começou, mas para a população está um jogo parado. Tende-se a continuar como está.

Sobre alianças, o PT vê como possível uma aliança com centrão, centro-direita? Não começamos a discutir sobre alianças eleitorais. Temos conversado com o centro, centro-direita, pelo que estamos vivendo. Seria importante se esses partidos viessem para a oposição, independentemente das eleições, nos ajudaria a avançar num pedido de impeachment ou ações contundentes de derrota no Congresso. Isso pode ter consequência nas eleições? Pode. Mas não é o objetivo. Do ponto de vista eleitoral, obviamente nossa proximidade é maior com o campo da esquerda, PSB, PC do B, PSOL.

E o PDT? Acho que com o PDT está cada vez mais distante [a chance de aliança] pelas posições do Ciro Gomes. Eu lamento porque o Ciro só consegue aparecer quando ataca o Lula ou o PT. É oportunismo.

A sra. diz que quem for de oposição pode fazer aliança com o PT. Vocês cogitam fazer aliança com o MDB, por exemplo? E outros partidos que apoiaram o impeachment? O MDB é um partido que não tem unidade política. Tem vários posicionamentos. Temos proximidade grande com o MDB do Nordeste. Já no Sudeste, Sul, mais difícil. E estamos numa conjuntura que precisamos enfrentar uma situação que representa um desgaste imenso para o país, que é o Bolsonaro.

Não esquecemos do impeachment. E muitos atores ou partidos avaliam que foi errado ter aquela posição. E diante do quadro de destruição, da ameaça que é Bolsonaro, acho que todos, contra e a favor, e que sentem que aquilo foi fator de desestabilização e nos trouxe até aqui, temos o dever de tentar reconstruir tirando Bolsonaro.

Sobre a candidatura do Pacheco, como vê a filiação dele ao PSD, a possível candidatura ao Planalto, e se ele seria um bom vice na chapa com Lula? Vejo como saudável o PSD ter uma candidatura. Já dissemos isso para o próprio Kassab. Como qualquer outro partido. Não precisa vir com história de terceira via, quarta via, os partidos lançam seus candidatos e nós fazemos a discussão.Sobre a posição de vice, vai ser fruto do processo político. Não tem avaliação precoce sobre isso, nem posição sobre perfil.

Na oposição e no governo, há quem diga que o Lula não defende o impeachment porque precisa alimentar a polarização com Bolsonaro. O PT já assinou quatro pedidos de impeachment e aprovou em deliberação interna. É uma falsa afirmação dizer que o PT não é a favor do impeachment.

Como recuperar a confiança de parte da população que virou antipetista, como evangélicos, empresários. Vocês pretendem conquistar essa população, parte da base dele? Para ganhar a eleição, temos que disputar a maioria, não a sua totalidade. E isso está acontecendo. Quando Lula sai na frente nas pesquisas, mostra isso. Inclusive entre os evangélicos, que estão divididos, segundo pesquisas.

Lula mudou o tom da fala sobre regulação da mídia e recentemente disse que é um assunto de responsabilidade do Congresso e dos partidos. Ele recuou para não contaminar a campanha com temas polêmicos? Eu acho que essa discussão foi colocada num patamar que não é adequado. O que a gente tem buscado é a regulamentação da Constituição em relação à questão das concessões para rádios e televisão. E isso cabe ao Parlamento, e não ao Executivo. Isso não tem nada a ver com o conteúdo e a opinião nos veículos de comunicação. A ideia é democratizar os meios de comunicação no país.

A sra. diz não ter havido corrupção sistêmica na Petrobras nem superfaturamento de contratos, embora a sra. e o livro que foi lançado recentemente, “Memorial da Verdade”, reconheçam ter havido pagamentos vultosos de suborno a diretores da Petrobras. Pagar suborno a executivos não é corrupção? Os executivos da Petrobras, diretores e gerentes, que fizeram delação e confessaram que receberam dinheiro das empreiteiras têm que responder pelos crimes que cometeram, têm que ser investigados.

Muitos ali foram perdoados pelo [ex-juiz Sergio] Moro no balcão das falsas delações, que eram feitas contra o PT e contra o Lula. Essas delações nunca comprovaram o superfaturamento dos contratos. Se as empreiteiras deram dinheiro para essas pessoas e por que deram, quem tem que explicar são essas pessoas, as empreiteiras e o Moro, que conduziu todo esse processo. Não saíram dos contratos da Petrobras. Não teve superfaturamento. Auditorias interna e externa da Petrobras comprovam isso.

A sra. quer levar esse debate para a campanha eleitoral? Eu quero esclarecer sempre quando esse tema for colocado.

RAIO-X

Gleisi Hoffmann, 56 anos, deputada federal pelo PT-PR

Nascida em Curitiba, é formada em direito pela Faculdade de Direito de Curitiba. Foi secretária estadual em Mato Grosso do Sul. Elegeu-se senadora em 2010 e deputada em 2018. De 2011 a 2014, foi ministra-chefe da Casa Civil (governo Dilma). É presidente nacional do PT.

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