Base do partido não foi consultada sobre os termos do convite; presidente integrou o antigo PP por cerca de onze anos
A negociação para a filiação de Jair Bolsonaro ao Progressistas está sendo conduzida “de cima para baixo”, entre a cúpula do partido, na figura do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, em conversas com o chefe do Executivo. A base do partido não foi consultada sobre os termos do convite, o que está gerando insatisfação e alguns temores entre integrantes da legenda à qual Bolsonaro estuda retornar— o presidente integrou o antigo PP, atual Progressistas, por cerca de onze anos.
“Tem que acatar, e os incomodados que se retirem. O Progressistas tem dono, que é o Ciro”, resume um parlamentar. O congressista, no entanto, não prevê debandada imediata de políticos da agremiação por medo de retaliação. O temor é que Ciro ou o presidente da Câmara, Arthur Lira, também do partido, determinem o corte no repasse de emendas ou de indicações políticas para aqueles que reclamarem. A aproximação do presidente com o partido ocorreu por obra do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), que considera que, ao contrário da eleição que elegeu o pai em 2018, a disputa de 2022 exigirá que os principais candidatos estejam filiados a um grupo de grande porte e que tenha recursos e tempo de televisão para a propaganda de campanha.
Mesmo desgastado junto à opinião pública —a rejeição a Bolsonaro chegou a 53%, segundo pesquisa Datafolha de setembro— o presidente é considerado um ativo político importante para formar uma ampla bancada de apoio no Senado, Casa legislativa onde o governo tem hoje de lidar com a CPI da Pandemia e com dificuldades na aprovação de projetos – só a indicação de André Mendonça para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) espera há três meses para ser votada pelos senadores. “O presidente quer liberdade total para indicar determinados cargos. Ele precisa fazer alguns senadores nos Estados. É importante olhar para o outro lado da Casa e enxergar que ali 27 senadores serão trocados”, afirma o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP).
Apesar da aproximação com o Progressistas, outras legendas do Centrão, como PTB, PL e Republicanos, seguem de portas abertas ao presidente da República. Nas negociações, o PTB colocou na mesa a possibilidade de Bolsonaro montar 19 diretórios estaduais, nos Estados onde a legenda não tem representação na Câmara dos Deputados. O chefe do Executivo ou um de seus filhos poderia também assumir a presidência do partido e Roberto Jefferson ficaria como presidente de honra. Nos cálculos de congressistas, cerca de 22 deputados deixariam o PSL para migrar para o PTB.
O PL tem 44 deputados e calcula que ao menos mais sete devem migrar para a agremiação até abril. Assim como o Republicanos, o partido oferece estrutura financeira por meio de fundos eleitoral e partidário para a campanha de 2022. E ambos projetam aumento expressivo na bancada caso o presidente decida integrar a legenda.