O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, avaliou nesta sexta-feira (8) que as expectativas de inflação devem piorar diante do aumento nos preços dos combustíveis e da crise energética em todo o mundo.
“Quando olhamos para expectativas de inflação, novamente, o Brasil teve um grande salto. Isso provavelmente vai piorar com o anúncio de aumento nos preços da gasolina hoje. Quando se olha para outros países, os preços estão ficando mais altos a cada semana”, afirmou, em evento virtual de um banco de investimentos.
A Petrobras anunciou nesta sexta que vai aumentar o preço da gasolina e do gás de cozinha (GLP) para suas distribuidoras a partir deste sábado (9). O salto será de 7,2% para cada produto.
A declaração de Campos Neto marca uma mudança no discurso que vinha sendo defendido pela equipe econômica do governo até esta semana. Na segunda (4), o presidente do BC previu que a inflação começaria a cair neste mês, após um “pico” em setembro.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, também vem negando desde o início do semestre que haja um “descontrole” de preços. Em setembro, Guedes disse que o país atravessava “o pior da inflação”, e que a taxa chegaria ao acumulado de 7% até dezembro.
Escalada da inflação
O preço dos combustíveis tem sido o item de maior impacto na alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país.
De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (8), no acumulado em 12 meses a inflação voltou à casa dos dois dígitos e atingiu 10,25%.
Trata-se da maior taxa anualizada desde fevereiro de 2016, e o pior setembro desde a implementação do Plano Real.
Só a gasolina, segundo o IBGE, representou alta de 1,93 ponto percentual sobre o indicador geral. Isso significa que, da taxa de 10,25%, quase 2 pontos percentuais se devem ao combustível.
Segundo o relatório “Focus”, divulgado pelo BC na última segunda-feira (4), o mercado financeiro elevou pela 26ª vez consecutiva as expectativas para o IPCA para os anos de 2021 e 2022.
A pesquisa com mais de 100 instituições financeiras apontou que o mercado espera que a inflação acumulada em 12 meses seja de 8,51% no final de 2021.
Crise energética mundial
Campos Neto afirmou que os preços para geração de energia têm subido vertiginosamente tanto nas economias desenvolvidas quanto nos países emergentes – o que impulsiona a inflação de maneira persistente. O presidente do BC destacou ainda que, entre as economias, o Brasil foi quem registrou elevação mais pronunciada.
“Quando olhamos para a inflação dos consumidores [como o IPCA], o Brasil está muito alto no gráfico. Há outros países próximos no gráfico, mas a tendência é subir ainda mais.”
Por fim, o presidente do BC ponderou que durante a pandemia foi observado um deslocamento da demanda por serviços para a demanda por mercadorias. Esse movimento, diz Campos Neto, tende a ser persistente mesmo após a reabertura do comércio na maior parte dos países.
Nesse sentido, o chefe do Banco Central afirmou que o Brasil acertou em começar a aumentar a taxa Selic a partir de março deste ano. O ano começou com a Selic a 2% e, após cinco altas consecutivas, a taxa básica de juros da economia chegou a 6,25% anuais.
“O Brasil começou cedo na resposta monetária. Acho que vamos ver uma onda de países ajustando taxas de juros. Vários países pensaram que [a alta da inflação] seria temporária, mas [já] veem como mais persistente”, declarou.