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Polícia faz buscas para prender Lázaro de SousaPolícia faz buscas para prender Lázaro de Sousa Foto: Editoria de Arte/O Globo
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terça-feira 28 de setembro de 2021 às 18:32h

Região das buscas pelo baiano Lázaro ‘serial killer’, ficou com fama de ‘cidade assombrada’

CURIOSIDADES, NOTÍCIAS


Os 20 dias de cerco policial contra Lázaro Barbosa de Sousa, de 32 anos, tornaram o município de Cocalzinho de Goiás, na zona rural de Goiás, conhecido nacional e internacionalmente.

Mas conforme o jornal Extra e O Globo, a fama veio de uma forma que os moradores não esperavam, por meio de um evento trágico, mas eles sabem que o nome do serial killer ficará associado à cidade por um longo tempo. Nesta terça-feira, dia em que a morte do criminoso completa três meses, as histórias da “assombração” de Lázaro são relembradas por quem vive no local.

— Hoje a gente leva muito na brincadeira, na esportividade. Alguns moradores brincam que a cidade ficou com essa fama aí, de ser a cidade assombrada do Lázaro — disse o radialista Fábio Júnior Mendes, de 25 anos, da “Rádio Vitória”, que transmite música e faz jornalismo comunitário para a região.

Mendes explica que na cidade já existem até mesmo expressões populares com o nome do homem apontado como assassino em série. E que é comum ouvir mães falando para os filhos não ficarem na rua pois “o Lázaro vai te pegar”.

— Já tem o ditado aqui de que não vai ficar muito tarde na rua por causa do Lázaro. É aquele modo de assombrar as pessoas — disse Mendes. — Mas ele já está morto, né. Mas a brincadeira continua. Daqui dez anos ainda vai ter história para contar e vai ser uma brincadeira. Isso aí não some da mente de quem passou o sufoco que o município passou. Isso não vai sair tão fácil, principalmente das pessoas que foram vítimas — acrescentou.

‘Caminhos de Lázaro’

Cocalzinho é cortada pela BR-414, onde boa parte do comércio local fica instalado. São nesses estabelecimentos que os visitantes, mesmo de passagem, param para abastecer os carros, fazer lanches ou comprar alguma coisa. Nessas paradas, um comentário passou a ser inevitável:

— Alguns chegam e logo conhecem o colégio onde foi a base da PM aqui, que fica bem em frente a BR. Então as pessoas passam e reconhecem, e sempre tem a pergunta se era ali que os policiais estavam, ali que pegaram o Lázaro, sempre tem essa brincadeira aí — conta Mendes.

Enquanto uns param rapidamente na cidade, outros desejam conhecer o local com mais calma, explica o radialista. De acordo com ele, recentemente turistas procuraram a cidade para percorrer os “caminhos de Lázaro” e, principalmente, visitar a gruta onde supostamente o criminoso ficou escondido. O problema é que ninguém sabe exatamente quais percursos ele fez e essa “caverna” está interditada.

Mas se por um lado há curiosos na fatídica história ambientada em Cocalzinho, ainda há moradores que querem distância de tudo o que se refere a Lázaro. Parte dos habitantes que deixaram a cidade durante as buscas pelo assassino ainda não voltaram. E alguns acumularam prejuízos durante as prolongadas ações de busca.

— Muitos fazendeiros que trabalham com colheita, que entregam leite e queijo na região, ficaram parados em suas fazendas. Teve muitas perdas de alimentos, os comerciantes também, muita gente deixou de sair de casa, muita gente saiu da cidade e demorou para voltar. Então teve muito prejuízo para a cidade — explica o radialista.

Um aspecto positivo que resultou do trabalho policial foi a permanência de grupos de WhatsApp para tratar da segurança local. Na época das buscas por Lázaro, policiais e moradores trocaram telefones e mantiveram fóruns online para enviar informações úteis sobre o então fugitivo. Agora, esses canais servem para prevenir contra possíveis ameaças.

‘Medo no rosto das pessoas’

Além de dezenas de veículos de comunicação, a caçada das forças de segurança a Lázaro Barbosa atraiu dezenas de curiosos. Num misto de informação e bom humor, os quatro responsáveis pela página “Ceilândia Muita Treta” se juntaram à caravana de pessoas que buscavam pistas do serial killer. Sem descanso, eles ficaram no encalço do criminoso e, a cada nova informação, se preparavam para desbravar trilhas e matas atrás das equipes da polícia.

Munidos de uma câmera semi-profissional, microfone e celulares, Naldo Lopes, Michael Israel Barbosa da Silva, Luiz David e Reni registraram o dia a dia das buscas e compartilhavam com seus seguidores tudo o que presenciavam. As lembranças do clima de medo que tomou conta da região ainda não foram esquecidas.

— A lembrança desses vinte dias é o medo que tinha no rosto das pessoas. As cidades desertas. Acho que isso é o que lembro mais. O medo que tinha na população em Ceilândia, Edilândia, Águas Lindas (de Goiás) e Cocalzinho (de Goiás) — lembrou Naldo.

Na época em que a caçada a Lázaro começou, Naldo estava de férias da empresa onde trabalha como auxiliar administrativo. Morador de Ceilândia, ele contou como soube da existência do criminoso:

— (A gente) Começou a acompanhar no mesmo dia (das mortes da família Vidal). Não presencialmente. Mas a gente ficava perto da BR, que é pertinho da minha casa. Então, era fácil o acesso. A gente ficava vendo a movimentação da polícia subindo, helicópteros e tal. Quando foi para Cocalzinho de Goiás, a gente foi acompanhar, acho que depois do terceiro dia. Acho que fomos um dos primeiros veículos. O pessoal da imprensa ficava até um certo horário e ia embora. Não era tão relevante para a mídia ainda. A gente foi ficando, foi ficando. O pessoal da imprensa e de toda a sociedade viu que era uma coisa bem séria e aí começaram a entrar os outros meios de comunicação, links ao vivo, redação móvel.

Visão de Lázaro

Caso Lázaro Nas idas e vindas das perseguições que acompanhou na cobertura feita em tempo real pelo “Ceilândia Muita Treta”, Naldo disse estar certo de ter visto Lázaro ao menos uma vez. A cena foi registrada em vídeo por ele: o criminoso, de acordo com o auxiliar administrativo, estava na caçamba de uma caminhonete que passou sentido contrário no qual seguiam equipes da polícia e da imprensa. O fato de o veículo estar sendo dirigido por outra pessoa corrobora a tese de que o serial killer tinha ajuda de outras pessoas.

— Teve um dia que ele estava numa casa, que ele driblou todo mundo. A polícia passou pela casa, a imprensa passou pela casa. E eu estava dirigindo. Quando eu vi, em frente à casa (no Girassol), tinha um carro parado. Vi um rapaz dentro do carro, ele levanta (na caçamba) e se esconde. Quando ele levanta, o cabelo dele está molhado e caído na testa. Como se a pessoa tivesse acabado de sair de um rio. Falei: “É o Lázaro dentro do carro”. Não dava para voltar porque tinha muitos carros atrás — lembrou Naldo.

Segundo ele, o grupo foi para onde a imprensa estava reunida. No local, ainda de acordo com Naldo, chegou uma pessoa que falou que Lázaro tinha acabado de ser visto numa casa:

— Aí todo mundo voltou para essa casa. Foi essa casa onde eu vi o carro.

No dia em que Lázaro foi morto, Naldo estava no trabalho. Mas recebeu imagens do que havia acontecido em Girassol. De lá para cá, o auxiliar administrativo volta e meia ouve o nome do criminoso e, algumas vezes , percebe o medo que ele ainda causa nas pessoas.

— O pessoal ainda tem medo. A gente grava vídeos numa feira aqui perto e a gente gravou um senhor. O pessoal falou: ele conhecia o Lázaro. A gente achou interessante. Quando perguntamos, ele respondeu que sim, que tomava cachaça com Lázaro. Ao pedirmos para que desse entrevista, ele não quis e disse que “por trás de Lázaro ainda tem muita coisa, muitos familiares dele ficaram no Sol Nascente, ele é bem perigoso. O Lázaro era matador e deixou herdeiros” — contou Naldo.

Desde que a caçada ao criminoso terminou, ele não voltou a Cocalzinho. Mas disse ter vontade de ir ao local, que fica a meia hora de sua casa:

— A gente está marcando para ir em Girassol e Edilândia para ver o pessoal, porque a gente fez muita amizade lá. E agradecer ao apoio nos dado. Nós estávamos pensando em refazer essas trilhas (pelas quais Lázaro passou). Nas imagens dá para ver que tem muito lugar bacana, muito lugar bonito. Apesar de ele ter tocado o terror, é um lugar com muito turismo. Tem muita cachoeira.

Os envolvidos

– Elmi Caetano Evangelista, de 73 anos – fazendeiro – acusado de ajudar Lázaro na fuga, ele responde por favorecimento pessoal e porte de armas. Chegou a ficar preso no presídio de Águas Lindas de Goiás, mas conseguiu a liberdade. Usa tornozeleira eletrônica e cumpre medidas determinadas pela Justiça.

– Alain Reis Santana, de 32 anos, caseiro – ele chegou a ser preso, suspeito de ajudar Lázaro. Mas nada ficou comprovado e o caseiro foi liberado na audiência de custódia. Em depoimento, alegou que recebeu ordens do patrão, Elmi, para não deixar a polícia se aproximar da fazenda.

– Luana Cristina Evangelista (ex-mulher de Lázaro), de 30 anos; Isabel Evangelista de Sousa (mãe de Luana), de 65; e Ellen Vieira da Silva (viúva do bandido), de 20 – foram indiciadas por ajudar Lázaro a fugir da polícia em Cocalzinho de Goiás e Águas Lindas de Goiás. O Ministério Publico (MP) propôs que paguem R$ 550 para encerrar o processo contra elas.

Cronologia da fuga

– 9 de junho – Lázaro invade a chácara da família Vidal, na região do Incra 9, em Ceilândia (DF). Cláudio Vidal, de 48 anos, e os filhos Gustavo Vidal, de 21, e Carlos Eduardo Vidal, de 15, foram encontrados mortos no local com marcas de facadas e tiros. Mulher de Cláudio e mãe dos jovens, Cleonice Vidal, de 43 anos, é sequestrada pelo criminoso. O corpo dela foi localizado no dia 12, num córrego em Ceilândia (DF). De acordo com o laudo pericial, Cleonice levou um tiro na cabeça e teve umad as orelhas cortadas possivelmente quando ainda estava viva. O exame mostrou indícios de violência sexual.

– 9 de junho – em fuga, Lázaro invadiu e roubou uma chácara em Ceilândia. Ele rendeu o caseiro, o dono da propriedade e o filho dele.

– 10 de junho – Lázaro invadiu uma residência a três quilômetros da chácara da família Vidal. Ele manteve reféns a dona da casa e o caseiro durante três horas e os teria obrigado a fumar maconha. O bandido teria levao R$ 200 e celulares antes de deixar o local.

– 11 de junho – Lázaro fugiu para Cocalzinho de Goiás (GO). A polícia recebeu informações de que ele havia roubado um veiculo, o abandonado e queimado.

– 12 de junho – O criminoso invadiu uma casa nos arredores da Lagoa do Samuel, na zona rural de Cocalzinho, e fez o caseiro refém.

– 12 de junho – Lázaro invadiu outra propriedade, atirou contra três homens e roubou armas e munição que eram de um militar da Aeronáutica.

– 13 de junho – O bandido furtou um carro e o abandonou na BR-070 ao ver um bloqueio feito pelas forças de segurança. Ele fugiu para uma região de mata. Houve troca de tiros. No automóvel usado por Lázaro foram encontrados um carregador de arma.

– 14 de junho – Um caseiro atira contra Lázaro numa propriedade em Cocalzinho. O bandido foi filmado no curral de uma fazenda entre os distritos de Edilândia e Girassol.

– 15 de junho – Uma família foi feita refém pelo criminoso. A filha do proprietário da chácara consegue ligar para um policial. Lázaro descobre e leva as vítimas para a beira de um rio. A polícia consegue localizá-los e há novo confronto. Dois policiais ficam feridos. O bandido escapa se escondendo na mata.

– 16 de junho – Lázaro foi visto por um morador da região de Cocalzinho.

– 17 de junho – As buscas a Lázaro são retomadas. Mais uma vez houve troca de tiros.

– 18 de junho – O criminoso foi visto num chiqueiro de uma chácara, mas conseguiu fugir pela vegetação.

– 19 de junho – Policiais fazem buscas em Águas Lindas de Goiás após um morador ter afirmado ter visto Lázaro numa gruta na região.

– 21 de junho – Uma moradora disse ter visto um homem parecido com o bandido numa propriedade rural. A região foi vasculhada por militares de várias unidades.

– 22 de junho – Um carro encontrado queimado é periciado. Um lençol e um serrote foram encontrados num local onde Lázaro pode ter se abrigado.

– 23 de junho – Equipes fizeram buscas em áreas de chácaras, sem sucesso.

– 24 de junho – Os policiais fazem mais buscas em região de chácaras em Girassol.

– 26 de junho – O fazendeiro Elmi e o caseiro Alain Reis são presos suspeitos de ajudarem na fuga de Lázaro.

– 28 de junho – Lázaro é morto em tiroteio com a polícia no distrito de Girassol.

Histórico de crimes

A ficha criminal de Lázaro remete a 2007, quando ele tinha 19 anos e matou duas pessoas em Barra dos Mendes, na Bahia. Os crimes foram cometidos contra pai e filho. Lázaro chegou a ficar dez dias preso, na ocasião, mas fugiu da cadeia.

Em 2009, ele foi preso novamente. Dessa vez, Lázaro era suspeito de ter cometido os crimes de roubo, estupro e porte ilegal de arma de fogo. Ele ficou detido no Complexo Penitenciário da Papuda (CPP), em Brasília. No presídio, um laudo psicológico o descreveu como “psicopata imprevisível”, com comportamento agressivo, impulsivo, instabilidade emocional e falta de controle e equilíbrio.

Em 2016, quando estava no regime semiaberto, Lázaro saiu e não retornou para o presídio. Dois anos depois, ele voltou a ser preso, em Águas Lindas de Goiás, pelos crimes de homicídio qualificado, porte ilegal de arma de fogo, roubo e estupro. Ele fugiu meses depois e desde então era considerado foragido da Justiça.

Mesmo assim, Lázaro continuou a praticar crimes. Em abril do ano passado, ele teria invadido uma propriedade em Santo Antônio do Descoberto, no entorno do Distrito Federal, e roubado o proprietário após agredí-lo com um machado.

Ele também é o principal suspeito de ter invadido uma casa em Sol Nascente, no Distrito Federal, rendido pai e filho e estuprado uma mulher. Em abril de 2021, Lázaro teria feito uma família refém, obrigado as pessoas a ficarem nuas e obrigado as mulheres a fazer comida para ele.

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