Três astronautas chineses retornaram nesta sexta-feira (17) à Terra após um período recorde de três meses a bordo da estação espacial do país, que está em construção. O #Acesse Política publicou em junho sobre a viagem (leia aqui).
A missão, conforme a Reuters, representou um marco para o país asiático em seu ambicioso programa de conquista do espaço.
Com o auxílio de paraquedas, a cápsula pousou nesta sexta-feira às 13h34 (2h34 de Brasília) no deserto de Gobi, noroeste do país, informou a agência espacial chinesa (CMSA).
Os três homens decolaram em 17 de junho do centro de lançamento de Jiuquan, perto do ponto de pouso desta sexta-feira. A missão Shenzhou-12 foi a mais longa do país no espaço.
“É muito bom estar de volta”, declarou ao canal estatal CCTV o astronauta Tang Hongbo, de 45 anos, pouco depois de sair da cápsula.
“Pai, mãe, estou de volta! Estou com boa saúde e de bom humor”, completou Hongbo, enquanto os companheiros de tripulação mais velhos, Nie Haisheng e Liu Boming, demonstravam um pouco mais de cansaço.
Huang Weifen, alto funcionário do programa espacial, afirmou que os três entraram em quarentena.
“A medida foi adotada para protegê-los, não pela covid-19, e sim porque a imunidade deles está menor por sua longa estada no espaço”, disse Weifen.
A CMSA celebrou o “êxito total” da missão, que representa uma nova etapa no ambicioso programa espacial chinês, que já possui sondas na Lua e em Marte e prevê o envio de astronautas à Lua até 2030.
“A missão Shenzhou-12 alcançou o objetivo de ativar a nova estação e colocá-la em funcionamento”, declarou à AFP Jonathan McDowell, astrônomo do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, nos Estados Unidos.
“Isto abre o caminho para futuras missões regulares na estação. Foi muito importante e realmente primordial alcançar o sucesso no início”, destacou Chen Lan, analista do site GoTaikonauts.com, especializado no programa espacial chinês.
A CCTV exibiu ao vivo o retorno dos três homens, com direito a imagens de uma câmera a bordo da cápsula que mostrou o voo em grande velocidade sobre o deserto.
A bordo da Tianhe (“Heavenly Harmony”), o único dos três módulos da estação espacial que já está no espaço, os astronautas Nie Haisheng, Liu Boming e Tang Hongbo desempenharam várias tarefas.
A tripulação fez várias saídas ao espaço, operações de manutenção e também instalou equipamentos para tornar operacional a estação espacial, cujo primeiro elemento foi lançado em abril.
Uma vez concluída, a estação Tiangong (“Palácio Celestial”, em português) terá dimensões similares às da antiga estação soviética Mir (1986-2001) e deve ter uma vida útil de pelo menos dez anos, segundo a agência espacial chinesa.
A ambição da China de construir uma estação foi estimulada pela recusa dos Estados Unidos de dar acesso ao país à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), uma colaboração entre EUA, Rússia, Canadá, Europa e Japão.
A Shenzhou-12 é a primeira missão chinesa em quase cinco anos e uma questão de prestígio para o Partido Comunista, que celebra o centenário este ano.
Mas, os chineses estão no mesmo nível dos americanos?
“Embora a China esteja à frente da Europa em termos de voos espaciais tripulados, ainda há brechas a respeito dos Estados Unidos e estas vão demorar mais de uma década, ou inclusive mais, para serem superadas”, opina Chen Lan.
Ele aponta a vantagem dos Estados Unidos em tecnologia e inclusive a redução de custos, com o uso atual de lançadores reutilizáveis para chegar à ISS.
“Mas o principal avanço americano reside na experiência”, aponta McDowell.
“Os astronautas chineses, por exemplo, fizeram (durante esta missão) duas saídas espaciais. Está longe das centenas que acontecem com a ISS. Este número faz a diferença”, afirma Chen Lan.
A missão Shenzhou-12 foi a terceira das 11 que serão necessárias para a construção da estação espacial, entre 2021 e 2022.
O próximo lançamento, da nave espacial Tianzhou-3, que transportará apenas equipamentos, acontecerá nos próximos dias, segundo as autoridades. Os sites especializados afirmam que ocorrerá na segunda-feira.