A caminho de mais uma crise colossal, a da falta de energia, o Brasil se encontra órfão de adultos na gestão pública, mais uma vez. Claro, o risco real de apagão a partir de outubro, admitido publicamente pelo próprio Operador Nacional do Sistema (ONS), é culpa da falta de chuva. Não de Bolsonaro. Os governos só tinham responsabilidade e deviam satisfação sobre a ausência de planejamento na época dos presidentes Fernando Henrique, Lula da Silva e Dilma Rousseff.
A seca histórica, agravada pelo desmatamento da Amazônia e a redução da umidade e das chuvas, também não é culpa de Bolsonaro. Tem-se falado por aí que os madeireiros, fazendeiros e pecuaristas já derrubam floresta para abrir pasto há muitas décadas, desde os tempos de José Sarney e Collor de Mello. Então, o presidente é inocente.
O preço histórico dos combustíveis, com a gasolina na casa de R$ 7 em alguns estados, diesel perto de R$ 4 e etanol de cana-de-açúcar a preço de caipirinha em resort também não pode ser colocado nas costas de Bolsonaro. Se o real é uma das moedas que mais se desvalorizaram no mundo, a culpa é do mercado internacional esquerdista, que não tem bom humor e não vê charme e estilo no sinal de arminha do presidente. Quem tem medo do futuro do Brasil, que explique esses preços. O mesmo vale para os alimentos. Não é culpa de Bolsonaro os preços estarem fora de controle, do acém moído custar hoje o que há dois anos dava para comprar filé mignon e de os itens da cesta básica custarem o que antes era suficiente para uma bela tábua de frios, com vinho e chocolate Lindt 70%. Em um país de maricas, estava na hora de começar a comer coisa de macho.
Não é diferente na pandemia. Os quase 580 mil mortos pela Covid-19 iam mesmo morrer um dia. Assim como todos nós vamos morrer. Então, o negacionismo, o mimimi, a recusa a vacinas comunistas e proliferação da gripezinha ou do resfriadinho não são responsabilidade do presidente. A culpa é do STF, dos governadores, da mídia suja, da globolixo e do Congresso – menos de Bolsonaro e dos companheiros do centrão.
Todo esse cenário, irônico e tenebroso, descreve um Brasil insano, desgovernado e incapaz de reconhecer seus erros e de enxergar a saída. O tal Messias Bolsonaro, eleito em 2018 para resolver os males da nação, agravou os que já existiam e, com uma impressionante capacidade, criou inúmeros problemas novos. Isso também não é culpa dele. O presidente age agora como sempre agiu enquanto deputado ou milico insubordinado. Se existe um culpado pelo caos, não é Bolsonaro. A culpa é de quem o colocou lá e que, sem demonstrar remorso, ainda o defende.