O diplomata Todd Chapman, embaixador dos Estados Unidos no Brasil, se prepara para deixar o cargo. Chapman tem 12 anos de experiência no Brasil e quase 20 anos na América Latina. Em entrevista ao canal CNN, neste último domingo (18), o diplomata conversou com o analista de política do canal Iuri Pitta e o editor de Internacional Marcelo Favalli e comentou assuntos como a política ambiental, pandemia de Covid-19, além das relações entre os Estados Unidos e outros países, como China, Cuba e Venezuela.
Política ambiental: diálogos com o Brasil vão continuar
Segundo Chapman, as discussões sobre o meio ambiente têm grande relevância para a administração do presidente Joe Biden. O diplomata afirmou que considera importantes os compromissos feitos pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Cúpula do Clima, realizada em abril. Para ele, o Brasil tem um papel central sobre o tema.
“Todos nós queremos ver a implementação das medidas necessárias para alcançar os objetivos e os compromissos feitos pelo presidente Bolsonaro. Meu governo, incluindo o setor privado, está mesmo interessado em continuar esse trabalho de cooperação com o Brasil”, disse.
Em relação à substituição do ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por Joaquim Leite, Chapman afirmou que os diálogos vão continuar. “Para nós é sempre um prazer conversar e trabalhar com as pessoas indicadas pelo governo. Então, vamos continuar nessa maneira consultiva de tentar encontrar maneiras de avançar esse diálogo em direção à resolução de um acordo na COP 26 [Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas] em novembro deste ano. Esse diálogo é constante e vai continuar sendo produtivo”, disse.
Desenvolvimento sustentável
O diplomata comentou as decisões de entraves aplicados aos países que não estão alinhados às políticas de preservação do meio ambiente.
“O Brasil tem uma grande oportunidade de aproveitar este momento tão importante no mundo. Os países estão juntando com uma visão de como proteger o ambiente ao mesmo tempo que estão desenvolvendo economia. Essa é a grande questão no agro, na energia, no tratamento de água. Em tudo que é parte da proteção do meio ambiente, o Brasil tem um grande potencial de ser um líder mundial, como já é em muitos aspectos importantes para a proteção do meio ambiente – na energia renovável, a matriz elétrica”, afirmou.
Segundo Chapman, o desmatamento ilegal tem atraído a atenção negativa para o Brasil e despertado o interesse em cooperações com o setor privado norte-americano.
“Por isso, tanta ênfase em querer ajudar e apoiar os esforços no Brasil para controlar esse desmatamento ilegal. Atualmente, o setor privado está bastante interessado nas medidas necessárias para a preservação do meio ambiente. Tem aqueles que sabem que se eles são considerados envolvidos nas práticas que não são boas pro meio ambiente, isso vai ser mal para a reputação, para sua imagem”, afirmou.
Segundo ele, esse é um fenômeno mundial. “As empresas, e talvez mais importante, os consumidores, querem ficar seguros que os produtos e serviços que eles estão produzindo e consumindo estão sendo feitos de uma maneira sustentável”, disse.
Avanços nas relações entre Brasil e Estados Unidos
No que diz respeito às relações entre o Brasil, Estados Unidos e China, Chapman afirmou que cada país deve decidir como atuar com outras nações para avançar nos seus próprios interesses. “Nós estamos sempre, em nossa política exterior, não somente olhando na parte comercial e econômica, mas também os temas de princípios de direitos humanos, de sistemas de cooperação, da proteção dos indivíduos, as liberdades que são importantes para países democráticos”, disse.
O diplomata afirmou, ainda: “Nesse aspecto, temos muitas críticas da China comunista e da maneira que eles estão tratando seu próprio povo e também como eles estão agindo às vezes no mundo de uma maneira bastante agressiva. Cada nação tem que fazer sua própria decisão de como eles vão manejar ou trabalhar com esse país”, disse.
Segundo Chapman, as parcerias entre o Brasil e os Estados Unidos têm avançado nos últimos anos. “Passados dois anos, tem sido realmente um período de muito avanço. Avançamos em termos comerciais, em termos de ciência, militar, espaço, firmando novos acordos comerciais”, disse.
O diplomata ressaltou que pontos de divergência são comuns e citou como exemplo a tecnologia do 5G. “Sobre 5G nossa posição é bastante clara: nós achamos que é importante confiar em fornecedores confiáveis, aqueles que respeitam as liberdades das pessoas. Aquelas tecnologias que são realmente de ponta e que vão ser por longo prazo, que são abertas e não usando tecnologias de outros países que são usadas para reprimir o pessoal e não para conservar as suas liberdades”, disse.
Segundo Chapman, os investimentos dos Estados Unidos no Brasil e na China são bastante diferentes. “Nós temos investimentos através do Banco Central que são mais de 145 bilhões de dólares aqui no país. Da China, são só 28 bilhões de dólares. Não tem comparação nossa história e nosso engajamento na economia e na sociedade brasileira. Esse é um país muito especial para os Estados Unidos e vai continuar sendo”, afirmou.
Protestos em Cuba
Milhares de pessoas participaram no último domingo (11) de uma onda de protestos em Cuba para reclamar da falta de bens básicos, de restrições às liberdades civis e da atuação do governo no enfrentamento a um surto de infecções pela Covid-19. Na entrevista, Chapman afirmou que a posição do governo dos Estados Unidos é a favor da liberdade para todos os povos, incluindo Cuba.
“Talvez a única resposta seria a palavra que estava sendo usada por eles mesmos: libertar. É lamentável quando você vê pessoas aqui defendendo esse estado comunista repressivo, mas essa é a decisão de cada pessoa. Nós estamos sempre a favor das pessoas que querem mais liberdade e mais habilidade de escolher seus governos”, disse.
“Por que o trabalho feito pelos regimes autocráticos são bastante claros no mundo. Isso não é o que o povo americano quer, e eu acho que os brasileiros também estão muito apoiadores da liberdade e da democracia. Eu espero isso para todas as nações aqui nas Américas”, complementou.
A situação na Venezuela
Na entrevista, Chapman comentou o cenário crítico dos refugiados na Venezuela que buscam abrigo no Brasil.
“Precisamos ver uma restauração de esperança e democracia na Venezuela. Sei que muitos dos meus colegas em Washington estão trabalhando sob esse assunto, mas o que está passando agora é uma tragédia. Tem mais de seis milhões de refugiados ou mais em nossa história nas Américas de pessoas escapando da tragédia da Venezuela, um país que tem uma longa tradição de muita riqueza, de muita vibração, de cultura e agora por causa do ditador Maduro essa esperança está sendo esgotada”, disse.
Crise institucional no Brasil e atuação das Forças Armadas
Em relação a crises institucionais nos Estados Unidos e no Brasil, Chapman afirmou: “Uma democracia madura é aquela quando as instituições trabalham bem e quando as pessoas têm a confiança nas instituições. No meu país, nós temos bastante confiança nas nossas instituições democráticas para trabalhar com qualquer coisa que aparece”, disse.
Em relação ao Brasil, afirmou que “as instituições aqui no Brasil, no meu parecer, estão trabalhando a tensão de diferenças de opiniões ou de maneiras de pensar. São partes de uma democracia viva e eu vejo isso no Brasil. Então, com esse debate às vezes vai ter tensão. Mas o importante é a continuidade da democracia constitucional. Estamos vendo isso no Brasil e esperamos que isso continue por muitas décadas”, completou.
Cooperações na pandemia de Covid-19
O diplomata destacou que as cooperações no enfrentamento da pandemia entre Estados Unidos e Brasil vem sendo desenvolvidas desde 2020. “Nós cooperamos nas testagens das vacinas, no ano passado, para verificar que são realmente saudáveis. Trabalhamos as empresas americanas para entrar em grandes contratos com esse país e esse governo e vamos chegar a mais de 238 milhões de doses ao Brasil, estão entrando desde já”, disse.
Segundo Chapman, novas doações de imunizantes devem ser feitas para o Brasil e outros países. “Fizemos essas doações de 3 milhões, acompanhei o ministro Queiroga no aeroporto e também outras medidas que fizemos para ajudar e isso vai continuar. O presidente Biden foi muito claro. As doações iniciais foram de 80 milhões de doses, mas vai ser muito mais porque nós temos um excedente. Contratamos com essas empresas para ter o suficiente não somente para os Estados Unidos, mas também para ajudar o mundo”, disse.