Um dos principais entusiastas do lançamento de uma terceira via a Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, o cientista político Luiz Felipe D’Avila afirma na revista Veja que há um espaço claro para uma candidatura de centro competitiva no Brasil, mas para apenas uma. “Só tem chance de prosperar se for um nome, senão esse apoio vai se pulverizar entre os 20% e 30% que não estão com Bolsonaro nem Lula. A questão agora é bucar o pragmatismo político junto com o espírito público”, diz D’Avila, que mediou na semana passada um encontro de presidenciáveis de centro, com a presença do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), e os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Ciro Gomes (PDT).
Além desses três pré-candidatos, também disputam o cetro da terceira via o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) — que terá que disputar uma prévia com Eduardo Leite — e o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro. O caminho do centro, no entanto, já esteve mais congestionado: ficaram pelo caminho as pré-candidaturas do apresentador Luciano Huck e do empresário João Amoêdo (Novo).
Segundo pesquisa CNT/MDA divulgada na segunda-feira, 5, os candidatos de centro que se saem melhor na corrida ao Planalto, por ora, são Ciro Gomes e Sergio Moro, ambos com 5,9¨% — Doria tem 2,1% e Mandetta, 1,8%. A disputa é liderada por Lula, com 41,3%, seguido por Bolsonaro, com 26,6%.
De acordo com a pesquisa, no entanto, 30,1% dos entrevistados disseram que gostariam que nem o atual presidente nem o petista fossem eleitos em 2022 – é nesse contingente que o centro aposta suas fichas.
Para D’Avila, diferente de 2018, que se caracterizou por ser um pleito quase plebiscitário sobre quem teria mais chances de tirar o PT do poder, o cientista político avalia que a eleição de 2022 será marcada pela polarização entre o antibolsonarismo e o antipetismo. “Tem mais chances quem for capaz de agregar esse centro. Não adianta tentar forçar o partido a ter candidatura que se mostra inviável, porque as legendas estarão mais preocupadas em eleger deputados e senadores por causa do fundo partidário”, avalia.
D’Avila acredita que os partidos voltarão a ganhar a força que perderam em 2018 por serem hoje as agremiações mais aptas a construirem pontes e grandes alianças ou coalizões. Ele cita exemplos no Brasil e no exterior de união entre grupos antagônicos para derrotar o que consideravam como um mal maior. Foi o que aconteceu neste ano na coalização formada por nacionalistas judeus e árabes-israelenses para derrubar o ex-premiê Benjamini Netanyahu em Israel; e na vitória de Joe Biden nos Estados Unidos, em 2020, que juntou democratas e republicanos mais moderados. No Brasil, ele cita a eleição de 1985 em que as forças democráticas do país se uniram em torno da candidatura de Tancredo Neves contra o candidato que representava a ditadura militar na época, Paulo Maluf. “O mundo está cansado do populismo e radicalismo, pois eles não entregam o que a população quer, que é emprego e investimento”, completa ele.