A adolescente Joelma Santos, de 17 anos, resumiu em uma palavra o sentimento de não ter absorvente para usar durante a menstruação: “constrangedor”. A jovem, que mora no Lar Pérolas de Cristo, em Paripe, há um ano, ao receber kit de higiene íntima com produtos arrecadados na Campanha Contra a Pobreza Menstrual, se emocionou ao lembrar dos dias que sofreu com a falta do item de higiene básica para meninas, mulheres e homens trans.
“Tive que usar pano. Eu não sabia que outras pessoas já tinham passado por isso, eu não tinha dinheiro para comprar. Achava que só eu tinha vivido essa vergonha”, disse.
Infelizmente, ao contrário do que Joelma imaginava, a pobreza menstrual é uma realidade entre pessoas em situação de vulnerabilidade. Atuando no combate a esse problema social, foi iniciada nesta sexta-feira (9) a entrega de kits de higiene íntima, arrecadados na campanha realizada por alunos da Universidade Salvador (Unifacs) com apoio da Prefeitura, através da Secretaria de Políticas para Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ) e Empresa Salvador Turismo (Saltur).
A ação coletou cerca de 4 mil itens, que foram doados ao Lar Pérolas de Cristo, Movimento População de Rua, Instituto Renascer Mulher e Grupo de Apoio à Prevenção à Aids da Bahia (Gapa). “Escolhemos instituições que tinham público de meninas, mulheres e meninos trans, e hoje iniciamos o processo de entrega. A campanha ganhou uma proporção significativa e eu considero que esse seja um marco para a tratativa do assunto dentro do município. A partir daí, a pauta tem sido debatida e é importante tratar o tema de uma forma educacional, em escolas, em rodas de conversa”, afirmou a professora de extensão comunitária da Unifacs, Dinsjani Pereira.
Políticas públicas
A secretária da SPMJ, Fernanda Lordelo, acompanhou a entrega dos kits, compostos por absorventes, creme dental, shampoo, papel higiênico e sabonete. Ela falou sobre os projetos da pasta voltados à dignidade menstrual para pessoas que menstruam. “Estamos construindo projetos com profissionais qualificados, como assistentes sociais, advogados, pessoas que estão muito voltadas para essa temática. Então, a secretaria tem dialogado sobre o assunto com universidades, pesquisadores, para que a gente crie um ambiente de educação e, a partir daí, a gente possa promover efetivamente algo positivo para essas pessoas”, destacou.
A titular da pasta ressaltou a importância de criar políticas públicas para promover a dignidade menstrual na capital baiana. “O problema atinge, geralmente, uma faixa etária de 9 a 35 anos, então é um vasto número de pessoas dentro desse perfil. Quando a gente trabalha com dados do CadÚnico e escolas municipais, a gente consegue observar que existe um grupo que pode ser melhor assistido em relação a isso. A gente precisa se preocupar com toda parte de educação menstrual e saúde da mulher, que é algo intersetorial, e também com a questão de política para essas mulheres, para que elas possam ter acesso a materiais de higiene e possam saber como utilizar toda questão relacionada a sua higiene pessoal, ” concluiu Fernanda Lordelo.