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sexta-feira 4 de junho de 2021 às 11:45h

Faroeste: Desembargadora revela em carta que foi pressionada a delatar colegas

DESTAQUE, JUSTIÇA, NOTÍCIAS


Em carta pública nesta sexta-feira (4), pela revista Crusoé, a desembargadora Ilona Reis, do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), conta em uma carta que teve um encontro com a subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo, responsável pelas investigações da Operação Faroeste, e braço-direito do procurador-geral da República, Augusto Aras. Ilona Reis foi presa em dezembro de 2020, em uma tentativa de fuga em um carro com placa fria (veja aqui).

O encontro teria ocorrido após o advogado César Oliveira, suposto amigo de Augusto Aras, a ter mostrado mensagens que teria trocado com Lindôra, sinalizando que Ilona deveria ir até Brasília para as duas terem uma conversa. O encontro ocorreu dias depois. A audiência entre Lindôra e Ilona foi confirmada pela Procuradoria Geral da República para a Crusoé. A desembargadora e a subprocuradora se encontraram em dois momentos no primeiro semestre de 2020.

As conversas contaram com a participação do também procurador da República Hebert Reis, que integrava o grupo de trabalho da Lava Jato na PGR, e o promotor de Justiça da Bahia João Paulo Schoucair, que auxiliava Lindôra nas apurações relacionadas à Faroeste. Ilona Reis diz que as conversas se deram sob um clima de tensão. Ela relata que foi a Brasília sem advogado e que, diante de Lindora, Hebert e Schoucair, disse que estava ali por orientação de César Oliveira. Os três disseram não conhecê-lo, segundo ela. “Pensei em dizer que estava ali coagida, mas resolvi ficar calada porque me encontrava num ambiente hostil e de terror”, escreveu.

Após o primeiro encontro, ela telefonou para César Oliveira para dizer como havia sido a conversa. O advogado, disse ela, teria prometido que na conversa seguinte o tratamento seria diferente. Entretanto, ela afirma que, na segunda conversa, Lindôra manteve a mesma postura. A conversa seria para Ilona fazer uma delação, pois haveria novas fases da operação e novas prisões poderiam ocorrer. Com a pressão, Ilona disse que concordou em fazer uma delação. “Para me livrar daquele ambiente eu disse que iria reunir as provas (provas essas inexistentes) e iria voltar.” Isso nunca ocorreu. Ilona relata que optou por esperar os desdobramentos da operação e acabou sendo presa em dezembro.

Ainda na carta escrita pela desembargadora desembargadora Ilona, ela descreve que o advogado César Oliveira, conhecido como César Cachaça no estado, a procurou uma segunda vez com um novo plano, já que ela não teria condições de pagar R$ 1 milhão para não ser investigada por venda de setenças.

Segundo ela narra, ele a propôs fechar uma delação premiada e entregar um grupo de 15 pessoas, entre eles, desembargadores e autoridades políticas. Escreve a desembargadora: “(César Oliveira) Disse que iria me ajudar como um favor, mas eu teria de pagar de outra forma, isto é, eu deveria delatar pessoas por ele indicadas, pessoas que depois eu percebi serem seus desafetos”.

Segundo a matéria de Crusoé, César Oliveira teria exigido que dentre os delatados por Ilona, deveriam ser incluídos Jaques Wagner, Carlos Suarez e Ronaldo Carletto, estes últimos, dois grandes empresários baianos, sob pena das negociações emperrarem na PGR. Ilona Reis afirma que essa nova proposta também não avançou porque ela não tinha o que delatar contra as pessoas mencionadas pelo advogado. Coincidentemente, a filha e o genro de Suarez, bem como o próprio Ronaldo Carletto, foram incluídos numa suposta delação da desembargadora Sandra Inês que circulou em grupos de WhatsApp, o que levanta a suspeita de que os familiares de Suarez e Carletto podem ter sido envolvidos indevidamente por exigência do advogado que conduziu a delação de Sandra Inês. Fontes ouvidas pelo Bahia Notícias, apesar de Cesar Oliveira não ser advogado de Sandra, ele teria sido o verdadeiro condutor da colaboração junto à subprocuradora Geral da República. Ainda conforme relato de Ilona, o advogado amigo de Aras, César Oliveira, disse o seguinte sobre o caso de Sandra: “Foi pega com a boca na botija, mas Guga e eu vamos arrumar a vida dela e do filho”. Na mesma conversa, conforme relato de Ilona, César disse que tanto Sandra quanto seu filho já tinham contratado um advogado ligado a ele e estavam em vias de ter a situação resolvida. No caso do senador petista, por exemplo, ela teria que falar da “ingerência” dele no tribunal, para o qual nomeou nove desembargadores durante o período em que governou a Bahia, entre 2007 e 2014.

A proposta não teria avançado, pois ela sustenta que não teria o que delatar contra as pessoas indicadas por César Oliveira.  E mesmo assim, ainda teria sofrido pressões do advogado. “Ninguém quer saber quem é culpado ou inocente, somos nós que decidimos quem é culpado ou não”, teria dito o advogado. “Ou você delata ou vai presa e vão jogar a chave fora”. Ilona conta que para demonstrar o que César poderia fazer por ela junto ao procurador-geral da República, Augusto Aras, citou o caso da desembargadora Sandra Inês Rusciolelli, presa em março de 2020, na 5ª fase da Operação Faroeste, após realização de uma operação controlada da Polícia Federal (relembre aqui). César teria dito a Ilona sobre Sandra: “Foi pega com a boca na botija, mas Guga (Augusto Aras) e eu vamos arrumar a vida dela e do filho”. Na mesma conversa, conforme o relato de Ilona Reis, César Oliveira disse que tanto Sandra Rusciotelli quanto seu filho já tinham contratado um advogado ligado a ele e estavam em vias de ter a situação resolvida. Sandra e o filho Vasco Rusciolelli estão em prisão domiciliar desde setembro do ano passado.

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