A deputada federal Flordelis, do PSD da RJ, enviou nesta última terça-feira (1º) uma carta à bancada feminina do Congresso, em que reinvidica o direito de ser ouvida diante da possibilidade de ter o mandato cassado na Câmara.
No texto, ela pede que as deputadas a ajudem a garantir “paridade de armas” para prover sua defesa.
Flordelis pode perder o cargo por quebra de decoro parlamentar, como efeito da acusação de ter encomendado a morte do marido, o pastor Anderson do Carmo, assassinado em junho de 2019.
Flordelis aponta na carta dificuldades em ter a atenção das congressistas no início da carta, quando narra obstáculos a um desejado encontro com as colegas de Casa.
O texto, inclusive, é resultado do insucesso em ter a demanda contemplada. A informação é da coluna de Guilherme Amado.
A deputada se disse inocente quanto à acusação criminal e acredita que seus advogados irão provar que ela não teve envolvimento com a morte. “O que lhes peço é o mínimo de condições de poder estar livre para articular essa defesa de forma plena”, solicitou.
Flordelis também reclamou de ter sido passada à frente na fila do conselho e se incomodou com a rapidez na designação do relator do processo disciplinar, Alexandre Leite, do DEM de SP, “escolhido sem respeitar os critérios do próprio Código de Ética”.
Na carta ela afirma que o deputado, durante a fase de instrução probatória, “foi para as redes sociais antecipar seu voto e confraternizar com o assistente de acusação do meu processo judicial.”
Leia a carta na íntegra:
CARTA DA DEPUTADA FLORDELIS A BANCADA FEMININA DO CONGRESSO
Depois de passar meses tentando ser recebida para conversar, de reivindicar a Secretaria de Mulheres que organizasse uma reunião com a Bancada Feminina para me ouvir e, por não conseguir esse intento, é que me valho desta carta para tentar finalmente chegar até vocês. Sei que em alguns casos essa conversa não foi possível devido aos limites impostos pela pandemia que nos assola, mas cheguei a um limite tal que rogo a vocês, Sras. Deputadas, que me deem atenção como dariam a qualquer outra mulher que representem dentro desta Casa.
A bancada feminina da Câmara é formada por Mulheres fortes, aguerridas, Mulheres que independente do espectro político e ideológico que representam, tem se imposto no debate da Casa e enfrentado o machismo e os preconceitos contra sua condição de Mulher de onde venham. Reconhecendo esta qualidade de Vossas Excelências nesta incansável batalha por nossos espaços é que tento me dirigir as Sras. Deputadas para que me socorram.
Não vim aqui pedir que acreditem e declarem minha inocência, sei que da forma violenta e indigna que meu nome vem sendo desconstruído pela mídia e pelas redes sociais, além de alguns detratores de plantão, fica muito difícil para cada uma de vocês separar fatos de mentiras e sair em minha defesa, não tenho como lhes pedir isto, mas venho rogar que coloquem lupa no processo que estou vivendo nesta Casa e vejam como existiu em todo este rito um preconceito implícito contra mim por minha condição de mulher, de negra, de favelada periférica que ousou vencer a pobreza e ser a mulher a obter o maior número de votos em seu Estado, enquanto mulher e a galgar um cargo neste Parlamento.
Existem vários Parlamentares que, por motivos que não me cabem julgar, estavam na “fila” da Comissão de Ética esperando para serem julgados, mas coube a mim ser transferida para início da fila, o Relator do meu processo foi escolhido sem respeitar os critérios do próprio Código de Ética, durante o processo da instrução probatória o Relator foi para as redes sociais antecipar seu voto e confraternizar com o assistente de acusação do meu processo judicial, bem como com uma rede de blogueiros que a dois anos desconstrói meu nome e dignidade com ataques machistas, misóginos, preconceituosos e racistas. Criaram apelidos, sempre acompanhados do assassina, que representam bem cada uma dessas percepções. Venho sendo julgada em praça pública não apenas pelo fato a mim imputado pela justiça, mas por quem supostamente dizem que sou, é o mesmo direito penal do inimigo que condenou judeus, ciganos, negros, homossexuais, não pelo que fizerem, mas por quem eram.
Sei que para algumas de vocês sou a deputada de direita, evangélica, inimiga política que deve ser cassada e sumir para sempre, para outras sou a negra, favelada que ousou matar o marido e que também deve deixar de ser um estorvo, para outras sou invisível, não sou nada, não mereço nem ao menos atenção, ser ouvida, sou apenas um incômodo. Mas Sras. Deputadas, eu sou além da Flordelis, uma mulher, destas que as Sras. dizem representar aqui nesta Casa, destas que lá fora em suas bases as Sras. afirmam lutar por seus direitos. Sei que muitas são garantistas, militantes de direitos fundamentais e humanos, estão na linha de frente de muitas lutas para promover justiça para muitas mulheres, pois bem, é o que lhes peço neste momento.
Não vim aqui pedir que me declarem inocente, não vim pedir julgamento antecipado, pois a Constituição diz que meus Juízes serão os jurados do Tribunal do Júri, vim aqui reivindicar a vocês que me ouçam e que me ajudem a garantir PARIDADE DE ARMAS para prover minha defesa, que a mesma batalha que algumas aqui deram pela PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA, pelo DEVIDO PROCESSO LEGAL, CONTRA PRISÕES SEM CONDENAÇÃO (vejam que nem em primeira instância sofri alguma condenação), que me possibilitem ter também esses direitos.
Venho pedir as Sras. que eu possa ser sujeita de direitos, tanto quanto, qualquer outra mulher. Lhes rogo a realização de uma reunião virtual ou presencial onde me seja dada ao menos a chance de ser ouvida e apresentar meus argumentos.
Estou em vias de aos 60 anos, além de ser cassada por esta Casa, o que ira retirar o sustento da boca daqueles que dependem de mim, me jogar em uma masmorra antes de ser submetida a qualquer julgamento e me retirar completamente as condições de articular minha defesa perante o júri.
Senhoras, eu não matei meu marido, eu não mandei matar, não tentei envenenar e não me acumpliciei com ninguém para que fizessem isto. Apesar da força descomunal das mídias e redes sociais, tenho fé que meus Advogados, dentro do processo, através de testemunhas, produção de provas, investigação das investigações que produziram erros descomunais dentro do processo, irão provar minha inocência, a verdade vai prevalecer, o que lhes peço é o mínimo de condições de poder estar livre para articular essa defesa de forma plena.
Confiante de ter tocado vossos corações da justeza do meu pedido, de que as Sras. realmente representam os interesses e direitos das mulheres dentro dessa Casa, é que aguardo a possibilidade de poder me dirigir a vocês, bem como responder a todos os questionamentos que acharem pertinentes me fazer.
Ser cassada por esta Casa sem conseguir ao menos ser ouvida pelas mulheres da nossa Bancada com certeza fará desta derrota muito maior do que já é, para mim e para toda a Bancada.
Aguardo confiante a possibilidade de me reunir com todas!