A declaração do candidato à presidência da República pelo PSL nas eleições 2018, Jair Bolsonaro, de que a Petrobras “não pode ter uma política predatória” para os combustíveis ajudou a penalizar as ações da estatal e trouxe dúvidas ao mercado financeiro, que, até então, estava confiante na cartilha liberal do assessor econômico do candidato, Paulo Guedes.
Na terça-feira em entrevista ao canal de televisão Bandeirantes, Bolsonaro disse que a Petrobrás não pode se “salvar” e “matar a economia”, em referência à política de paridade internacional praticada pela estatal, na qual acompanha internamente os preços praticados nas principais bolsas de negociação de commodities. Essa política foi adotada durante o governo de Michel Temer, na gestão de Pedro Parente no comando da petroleira.
“O mercado estava acreditando na mensagem de Paulo Guedes de que haveria a privatização de todas as estatais. Existia a convicção também de que não haveria intervenção na política de preços da Petrobrás, que a atual política seria mantida. Até que grau há autonomia de implementação das ideias de Paulo Guedes? Bolsonaro se mostrou liberal, mas nem tanto”, disse Gilberto Braga, professor especialista em Finanças do Ibmec. “É cedo para discutir esse tipo de coisa. Para isso, a gente tem que ter o presidente da Petrobrás e o Ministro da Fazenda definidos. Por enquanto, é tudo (discurso de) campanha. Se o candidato diz que vai aumentar o preço dos combustíveis, ninguém vota nele”, ponderou Luiz Carvalho, analista do UBS.
O candidato do PSL concedeu a entrevista na noite dessa última terça-feira (9). Na manhã desta quarta-feira, 10, as ações da Petrobrás já iniciaram o pregão em queda – de 2,31% (PN) e 1,78% (ON), também influenciadas pela retração do petróleo no mercado internacional. Já o analista do setor de Petróleo da Consultoria Tendências, Walter De Vitto, disse compreender que os investidores tenham castigado as ações da Petrobrás após a fala de Bolsonaro.
Em sua opinião, a declaração apenas demonstra que, em um possível governo, Bolsonaro não será tão liberal quanto o mercado esperava. Ainda assim, não significa que o candidato tomará postura semelhante à do PT no passado, de total represamento dos preços para conter a inflação. “Existem gradações de políticas de preços. O que se fez no governo Lula foi diferente do que no governo Dilma.
A única conclusão possível da fala de Bolsonaro é que ele não é tão liberal quanto se achou”, disse De Vitto. Em sua opinião, com essa declaração, o candidato se desloca do economista Paulo Guedes, que sinalizava para a continuidade da atual gestão da Petrobrás, que privilegia a venda de ativos, o foco no pré-sal e uma política de reajuste dos combustíveis acompanhando o mercado internacional. “Ficou a dúvida sobre o que Bolsonaro realmente pensa”, afirmou.