No ano que antecede a eleição, os presidenciáveis já sonham com o vice ideal para suas chapas. Não são necessariamente nomes, mas perfis com características que buscam, essencialmente, preencher lacunas dos próprios candidatos. E, ao mesmo tempo, evitar que, em caso de sucesso nas urnas, o escolhido se torne um incômodo, assim como Michel Temer se tornou para Dilma Roussef. Ou mesmo como Hamilton Mourão tem sido para Jair Bolsonaro — ambos passaram a viver uma “guerra fria” após um assessor do vice, em mensagem que acabou vazando, sugerir o impeachment do presidente.
Por essa razão, Bolsonaro, que ainda não definiu segundo o jornal O Globo seu próprio partido, já tem uma certeza: não quer manter Mourão, do PRTB, como candidato a vice em 2022. Além de desconfiar dos movimentos do general, o presidente quer garantir o privilégio da indicação a uma legenda que tenha um generoso fundo partidário e tempo de televisão — siglas como como PSL, PL, PP e Republicanos.
A expectativa é que, se integrar a chapa, o PSL, segundo maior partido da Câmara dos Deputados, tenha direito de indicar o vice. O perfil, então, partiria de um nome consensual entre Bolsonaro e o presidente nacional do PSL, Luciano Bivar.
O ex-presidente Lula, por sua vez, busca um nome ligado ao setor produtivo que seja bem-visto pelo mercado financeiro. No dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou suas condenações, o que o tornou elegível novamente, a Bolsa de Valores teve forte queda. Um vice com essas características, portanto, seria um antídoto para essa desconfiança.
Os nomes dos empresários Luiza Trajano e Josué Gomes, filho de José de Alencar (que foi vice de Lula), chegaram a ser especulados por petistas. Mas a avaliação é que um projeto eleitoral em 2022 não está no radar de nenhum dos dois. Enquanto Luiza usou suas redes sociais em fevereiro para dizer que “não é candidata a presidente nem a vice-presidente”, Gomes tem mantido o foco em assumir a presidência da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), cuja eleição ocorrerá em julho. Seja como for, o vice idealizado pelo PT tem um perfil semelhante ao deles.
O cearense de centro-esquerda Ciro Gomes (PDT) idealiza como vice em sua chapa uma mulher da região Sul ou Sudeste, do campo conservador e ligada ao setor produtivo. Procurando se dissociar de Lula, de quem foi ministro, Ciro tem feito acenos à centro-direita, flertando com partidos como DEM e PSD. Em caso de aliança com o pedetista em 2022, provavelmente caberá a uma dessas duas legendas indicar a “mulher conservadora” que Ciro almeja.
— Seria uma pessoa com atributos que não tenho. Vice ideal é aquele que te complementa de alguma forma — afirmou Ciro, ressaltando que, apesar do perfil descrito, não será intransigente caso o partido aliado opte por indicar um nome que fuja dessas especificidades.
Em 2018, o posto de vice na chapa de Ciro foi ocupado pela senadora ruralista Kátia Abreu (PP-TO).
Já integrantes do grupo do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), acreditam que o presidenciável, caso escolhido pela legenda, deverá buscar um vice do Nordeste, região na qual, avaliam aliados, o tucano deverá ter mais dificuldade de obter uma boa votação. Ao escolher um nome dessa região, Doria sinalizaria que o Nordeste seria visto “com carinho” por sua gestão.
O paulista, contudo, sequer avaliou nomes, tendo em vista que, no momento, está mais preocupado em vencer as resistências no próprio partido, dividido quanto à sua candidatura.