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sexta-feira 23 de abril de 2021 às 05:27h

Lula sofre preconceito de empresários, diz ex-ministro

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Um dos principais aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no mundo empresarial, o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia, 78 anos, diz em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, que o petista sofre preconceito junto ao PIB, mesmo tendo feito um governo bastante favorável ao setor produtivo.

“O empresariado, se parar para pensar um pouquinho, [verá que] é uma história muito positiva com Lula, os oitos anos dele e os dois ou três primeiros da Dilma [Rousseff]”, diz Walfrido, que no governo Lula ocupou as pastas do Turismo (2003-07) e das Relações Institucionais (2007).

Walfrido estima que 80% dos empresários hoje sejam refratários ao ex-presidente.

Hábil articulador, Walfrido transitou por diversos campos políticos antes de firmar uma sólida aliança com Lula, de quem hoje é amigo próximo, a ponto de ter emprestado seu jatinho para deslocamentos do ex-presidente.

Foi vice-governador de Minas Gerais na gestão do tucano Eduardo Azeredo (1995-99), deputado federal pelo PTB (1999-2003) e coordenou a campanha presidencial de Ciro Gomes, então no PPS, em 2002.

A relação com Azeredo acabaria forçando sua saída do governo Lula, após ter sido acusado de envolvimento no chamado mensalão tucano. Walfrido chegou a ser denunciado, mas as ações prescreveram em razão de sua idade.

Atualmente, ele se dedica às duas empresas de que é acionista, a Kroton, do setor educacional, e a Biomm, de biotecnologia, o que não o impede de seguir conectado à política. O ex-ministro conversa com alguma frequência com Lula.

No PT, aposta-se em seu prestígio para ajudar o ex-presidente a recuperar terreno perdido no meio empresarial, e seu nome é citado para compor a equipe econômica de um eventual governo.

“Os empresários não precisam ter medo”, afirma. “O Lula é um homem de centro, um homem equilibrado”.

O sr. tem ajudado Lula na articulação com o empresariado? Estou muito envolvido com os negócios de que eu cuido, muito dedicado a eles aqui em Minas Gerais. Não participei de nenhuma reunião com empresário para discutir a candidatura do Lula. Mas vou te dar um quadro bem geral, para não fugir da resposta.

Recentemente, uns 20 dias atrás, depois que saiu a sentença do [ministro do STF Edson] Fachin, eu liguei para ele, cumprimentando-o. Ele disse: ‘Não vamos perder tempo enquanto essa penúria estiver aí, morrendo 3.000 pessoas por dia. Não tem como falar em eleição, eleição é em outubro do ano que vem, nós não sabemos nem quem vai ser candidato’.

E quando a situação da pandemia melhorar? A partir da solução dessa questão da vacina, se o Brasil puder vacinar igual aos países desenvolvidos, na mesma velocidade, aí é natural que essa questão vá ser colocada. Mas alguém falar que ele é candidato hoje é passar a carroça na frente dos bois.

O Hélio Garcia [ex-governador de Minas Gerais] falava que eleição é depois da parada [de 7 de setembro], aí é que a coisa muda. Mas eu acredito que até abril do ano que vem nós vamos ter um quadro sucessório bem definido, em função das mudanças que o país está sofrendo por causa dessa questão seríssima da pandemia. Não estou articulando nada nem tenho recomendação de ninguém para isso.

O sr. acha importante ele procurar empresários, para refazer pontes? Ele mesmo falou [aos empresários, em discurso após a decisão de Fachin]: ‘Não tenham raiva de mim, eu vou procurar, vou conversar com vocês’. Da outra vez, ele tinha uma pessoa maravilhosa do lado dele, que era o [vice-presidente] José Alencar, empresário famoso, honestíssimo, tinha sido presidente da Fiemg [Federação das Indústrias de Minas Gerais]. Deu uma cacifada, mas a gestão do Lula na Presidência da República fala por si só.

Vamos só lembrar de um pequeno detalhe, que, no período dele, a Bolsa de Valores teve quase 200 IPOs [oferta inicial de ações por empresas em Bolsa], e na década anterior teve três ou quatro. As circunstâncias não estou discutindo, estou discutindo um fato. Muita gente abriu o capital em uma década, isso gira dinheiro, investimento, emprego, renda e tal. Então, o empresariado, se parar para pensar um pouquinho, [verá que] é uma história muito positiva com Lula, os oitos anos dele e os dois ou três primeiros da Dilma [Rousseff].

Acho que os empresários não precisam ter medo, mesmo que tenham outro candidato, façam jantar fechado com candidato a, b, c ou d. Há um preconceito anti-petista, que está aí ainda, cada vez menos, mas ainda está. Então eu não tenho dúvida de que ele vai conversar, e ele conversa com qualquer um, com o mesmo respeito. O futuro presidente da República tem que unificar o país, pacificar. Não pode ser uma pessoa que entre para desunir mais ainda, senão nós vamos parar onde?

Qual é a imagem do Lula hoje junto aos empresários? Ela ficou arranhada ou o pessoal lembra de como foi seu governo? O preconceito do setor empresarial a ele e ao PT é imenso. Alguns têm até medo ou vergonha de apoiar. O setor sempre foi conservador, em geral é assim mesmo, no mundo inteiro. O setor empresarial progressista é minoria. Vai ter que ser feito um trabalho pelo presidente Lula para que, em ganhando a eleição caso seja candidato, ele possa ter uma interação ou uma interlocução com os empresários, mesmo o que não tenham votado nele.

Agora, a gente sabe que quem elege o presidente da República não são as elites. Quem elege o presidente da República é o povo. Setor empresarial sempre foi a favor de candidatos mais conservadores. Isso não significa que um pedaço não possa olhar o Lula como o Lula é, não como é pintado às vezes.

O Lula é um homem de centro, um homem equilibrado. Ele era presidente de sindicato [dos metalúrgicos] no auge da ditadura, da perseguição, da tortura, e teve coragem de ser o que sempre foi. Nunca defendeu tomar as empresas dos empresários. Ele defendia apenas a melhoria das condições de trabalho. Uma pessoa sensível, inteligentíssima, com uma visão social que eu nunca vi.

E por que esse certo preconceito do empresariado com Lula? Certo não, enorme preconceito. Vou dar um passo à frente: se a eleição fosse hoje, 80% dos empresariados não estariam com ele.

Estaria com Bolsonaro? Não sei, aí eu não posso falar. Com Lula não estaria. Mas tem outros candidatos, tem muita gente.

E o que Lula pode fazer para reverter esse quadro? Aí você já está querendo que eu tenha bola de cristal. Se ele for candidato, vai fazer uma campanha para ganhar a eleição, vai defender seu programa de governo perante os empresários. Agora, se vão apoiar o Lula, são outros 500.

Esse preconceito se deve ao governo Dilma, por causa da recessão de seu segundo mandato? Eu sou engenheiro, não sou cientista político. Sei ler uma pesquisa, mas nem sempre sei interpretá-la tão bem. Eu estou te falando o que eu ouço, o que eu vejo, o que eu leio. Tem um preconceito, é um fato, e eventualmente o candidato vai ter que trabalhar em relação a esse preconceito.

Mas nós não temos que ter medo disso nem estarmos assustados. Isso o presidente Lula falou: ‘Não tenham medo de mim, podem conversar comigo, vou procurar vocês’. Estendeu a bandeira branca. Mas não este ano, este ano é ano de combater a pandemia, melhorar o Brasil e lidar com a situação do país.

O sr. acha que ele deveria ter um empresário como vice novamente? Não sei. O Helio Garcia me disse 30 anos atrás que o vice é bom quando não atrapalha. Temos que ter um vice que, além de não atrapalhar, o ajude a ganhar. Eu não sei se precisa um vice empresário.

Somos 150 milhões de eleitores, o peso do empresário no voto é muito pequeno. Mas o empresário pode ser, dependendo de quem for, um aglutinador de outros apoios, de outras lideranças. A escolha vai ser feita lá para a frente, e vamos ver quem mais o ajudaria a angariar votos, independente de ser empresário.

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