Segundo o Estadão, diante do mal-estar causado a cada nova ameaça de greve dos caminhoneiros, o Ministério da Infraestrutura decidiu apresentar o tão falado mercado financeiro à categoria de transportadores autônomos. O encontro, que ocorreu ontem em Brasília, teve o objetivo, segundo o ministério, de aproximar os dois setores que têm demandas convergentes e diminuir a insegurança que existe entre os investidores quanto a uma nova greve.
Para os caminhoneiros, foi uma mensagem de união para ter o apoio nas reformas e, consequentemente, garantir que nenhuma paralisação afete o governo e a economia, já combalida pela pandemia. Ou seja, a reunião teve a missão de reduzir as tensões e ruídos no mercado.
No total, cerca de 30 participantes assistiram palestras de forma presencial e online. Além do ministro Tarcísio de Freitas e representantes da Casa Civil, o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, e representantes do Banco de Brasília (BRB) fizeram apresentações aos caminhoneiros.
O governo tenta convencer a categoria de que a principal demanda – a redução do preço do diesel – só vai ser efetivamente resolvida via mercado, com medidas econômicas que façam o real se valorizar frente ao dólar. Para isso, o ministério reforçou o discurso pela aprovação de reformas e privatizações, pauta que conta com forte adesão do mercado financeiro.
A pauta do encontro, que começou às 11h da manhã e terminou depois das 19h, incluiu temas como preços dos combustíveis e o valor do dólar, importância das reformas, documento eletrônico de transportes (DT-E), MP da renovação da frota e recebíveis e linhas de crédito. Na apresentação da XP, Megale explicou aos caminhoneiros como os preços são influenciados pelo mercado internacional e sobre as reformas econômicas que estão no Congresso.
O economista calibrou suas avaliações sobre as demandas das lideranças do transporte de carga. Na prática, a reunião se converteu em uma aula sobre o mercado e o preço do combustível, envolvendo os trabalhadores nas discussões.
O objetivo é que novas rodadas como as de ontem sejam feitas entre os caminhoneiros e mercado financeiro. A próxima deve ser como o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. “É interessante que a categoria entenda a importância de uma pauta de reformas e como isso pode ajudar na percepção do mercado, na percepção de que a trajetória da dívida vai estar sob controle no longo prazo”, afirmou o ministro da Infraestrutura. “O resultado (da primeira rodada) foi muito legal.”
O encontro entre representantes do mercado e caminhoneiros vinha sendo maturado desde a última ameaça de greve da categoria, em janeiro. A possibilidade de os profissionais pararem enquanto o Brasil enfrenta a pandemia do novo coronavírus desesperou o mercado, que tem como fantasma a greve de 2018 e os drásticos impactos provocados na economia. Mas o governo quer tentar convencer representantes do PIB que esse risco não existe para o momento, usando uma espécie de vacina para quando uma eventual nova paralisação for ventilada.
Desde 2018, os caminhoneiros já ensaiaram várias greves, sem sucesso. Com os prejuízos decorrentes da paralisação, o consenso tem sido difícil até dentro da categoria. Além disso, a maioria é apoiadora de Bolsonaro e entende que uma greve pode prejudicar a atual administração.