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sábado 3 de abril de 2021 às 17:57h

Leilão de R$ 10 bilhões dá força a Tarcísio na chapa de Bolsonaro para 2022

DESTAQUE, NOTÍCIAS


O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas pode se tornar vice-presidente. Comandante de um projeto de concessão que pretende contratar R$ 250 bilhões em investimentos até o final do mandato de Jair Bolsonaro, ele ganhou a simpatia do presidente para, eventualmente, ser seu vice na disputa pela reeleição, em 2022.

Nesta semana, sua pasta atrairá a atenção com um evento batizado de Infra Week (Semana da Infraestrutura). Serão três dias de leilão na Bolsa, de 7 a 9 de abril, em que o governo pretende transferir para a iniciativa privada a gestão de 22 aeroportos, 5 terminais portuários e 1 trecho da Fiol (Ferrovia de Integração Leste-Oeste).

A estimativa segundo a Folha é que, com esses contratos, o governo consiga garantir R$ 10 bilhões em investimentos e mais de 200 mil empregos diretos e indiretos ao longo dos arrendamentos e concessões. Para se ter ideia, o orçamento do ministério para investimentos neste ano foi de R$ 7 bilhões.

No mercado financeiro, a expectativa em torno dos leilões é positiva. Bancos, fundos de investimento e grupos privados visitaram o ministério nos últimos seis meses interessados em fazer lances nos leilões.

As concessões fizeram de Tarcísio garoto-propaganda de Bolsonaro. O evento chega no momento em que o presidente experimenta uma queda no índice de popularidade devido, principalmente, às falhas no combate à pandemia.

Desde que assumiu o ministério, o militar detectou no programa de concessões potencial de ser “a menina dos olhos” do governo. O programa foi uma herança do ex-presidente Michel Temer encampada por Bolsonaro.

Tarcísio já trabalhava no PPI (Programa de Parcerias de Investimentos). Passou do programa para o cargo de ministro ao falar das potencialidades das concessões a Bolsonaro durante a transição de governo, em 2018.

No ano passado, o ministro participou de cinco lives do presidente, vídeos para o seu eleitorado –neste ano, já foram três. Neles, Bolsonaro não poupa elogios ao ministro, que vem entregando obras em redutos eleitorais que agradam, principalmente, à base governista.

Tarcísio avalia, no entanto, que pode pôr em risco seu ambicioso plano de concessão e abrir o ministério para loteamento político caso decida enveredar por um projeto eleitoral.

Mesmo diante da deterioração do cenário econômico no país, com juros e inflação em alta, o Ministério de Infraestrutura acredita que os investidores deverão comparecer com propostas para todos os projetos. Como os contratos são de longo prazo (cerca de 30 anos), miram além do momento atual.

Além disso, como a maior parte é de grupos estrangeiros, contam com a vantagem cambial que o Brasil oferece na realização de seus investimentos.

No primeiro dia, serão leiloados 22 aeroportos agrupados em três blocos. Para os investidores, Tarcísio não se cansou de repetir que, desta vez, “de uma só tacada”, o governo passará para a iniciativa privada a mesma quantidade de aeroportos concedida pela União até o momento.

O vencedor levará o bloco, que conta com alguns aeroportos rentáveis e outros que precisam de investimentos e, sozinhos, não despertariam interesse. O governo espera garantir R$ 6 bilhões em investimentos com essa rodada, a maior parcela (R$ 2,8 bilhões) decorrente da concessão do bloco Sul, que tem os aeroportos de Curitiba e Londrina (PR) como carros-chefe.

No dia seguinte será a vez da Fiol (Ferrovia de Integração Leste-Oeste), projeto fundamental para o escoamento do minério de ferro produzido na região de Caetité (BA) e a produção de grãos do oeste da Bahia pelo Porto Sul, complexo portuário a ser construído nas imediações da cidade de Ilhéus (BA).

O governo vai conceder um trecho de 537 quilômetros desse empreendimento, na região entre Ilhéus e Caetité. A obra completa permitirá uma conexão da Fiol com a Ferrovia Norte-Sul, espinha dorsal ferroviária que cruza o país. O trecho a ser concedido garantirá R$ 3,3 bilhões em investimentos, contabilizando a construção da via que consumirá R$ 1,6 bilhão. O contrato será de 35 anos.

Por fim, serão concedidos cinco terminais portuários –quatro no porto de Itaqui (MA) e um no Porto de Pelotas (RS). Estão previstos mais de R$ 600 milhões em melhorias nesses terminais, que se somam a outras 20 áreas leiloadas desde 2019 e 69 autorizações para implantação de Terminais de Uso Privado (TUP). Neste período, já foram contratados R$ 10 bilhões para o setor, que, mesmo em ano de pandemia, cresceu 4,2% em 2020.

As quatro áreas no porto nordestino são voltadas ao armazenamento de granéis líquidos. O complexo funciona como distribuidor para as regiões Norte e Nordeste, por meio da navegação de cabotagem. O terminal em Pelotas é voltado para carga em geral, em especial, toras de madeira, contribuindo para a cadeia logística da produção de celulose.

Até hoje, já foram R$ 44 bilhões em investimentos contratados e R$ 13 bilhões em outorgas. A meta é chegar ao final do governo com a marca ousada de R$ 250 bilhões em investimentos assegurados.

Hoje o Ministério de Infraestrutura tem em seus postos-chave servidores de perfil técnico, mas com experiência em negociações –tanto com o setor privado, quanto com parlamentares.

Para contornar a escassez de recursos, o ministro passou a dialogar com as bases parlamentares dos estados, principalmente na Câmara. Muitas obras que estavam paradas foram viabilizadas a partir de emendas parlamentares. Essa negociação ajudou tanto congressistas, que passaram a ter obras inauguradas com frequência em seus estados, quanto o governo federal, que também se aproveita politicamente do marketing dessas inaugurações.

Até o momento, o ministro entregou 92 obras em 24 estados. Em cinco delas, Bolsonaro esteve presente, como a reconstrução da BR 163, no Pará. Ele também esteve na entrega da alça de acesso da ponte Rio-Niterói (RS) à Linha Vermelha, importante corredor de acesso à capital fluminense.

A condução desse programa –conhecido como PPI (Programa de Parcerias de Investimentos)– fez Tarcísio cair nas graças de Bolsonaro e de seus filhos, que frequentemente retuítam publicações do ministro em suas redes sociais.

Ao conquistar a confiança do clã, Tarcísio ganhou assento no grupo de conselheiros do presidente e participa das principais discussões do governo. Ganhou poder para barrar tentativas de representantes do chamado centrão que almejam o posto do ministro.

Miram, por exemplo, a distribuição de cargos no Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), que tem sedes em praticamente todos os estados, agências reguladoras e órgãos vinculados.

Ele também atuou contra a indicação do general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, para o comando do PPI. Antes disso, vetou uma indicação política para o programa, que foi transferido da Presidência da República para o Ministério da Economia. Também foi o responsável pela manutenção de Martha Seillier à frente do programa na queda de braço com o então secretário especial de Privatizações, Salim Mattar, que pretendia comandar o programa.

Aliados do governo e até integrantes da ala militar próxima a Bolsonaro consideram que o ministro seria o melhor vice possível. Consideram que se trata de militar, jovem, realizador, e com experiência na interlocução política.

Consultado sobre uma eventual dobradinha com Bolsonaro em 2022, o ministro não quis comentar. Disse somente que descarta qualquer conversa nesse sentido.

Nos bastidores, avalia que sinalizar qualquer pretensão política seria assinar um atestado de loteamento político do ministério. Interlocutores e assessores afirmam que Tarcísio precisa dessa “imunidade” para poder negociar emendas.

Dizem que, no momento em que os parlamentares duvidarem do atributo técnico do ministro e de sua equipe na alocação dos recursos e definição de obras a serem concluídas, seu programa não avançará mais. E, para eles, sem entregas, Tarcísio perde espaço no governo.

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