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segunda-feira 22 de março de 2021 às 07:56h

Líderes do centrão negam rompimento com Bolsonaro

NOTÍCIAS, POLÍTICA


O desgaste na popularidade do presidente Jair Bolsonaro e o agravamento da pandemia do coronavírus podem impactar diretamente a base parlamentar que vinha sendo construída pelo Palácio do Planalto no Congresso.

Um dos pilares desta base, o bloco do Centrão – que reúne PP, PSD, PTB, Podemos, Republicanos, Patriota, PL, PSC, além de contar informalmente com apoio de nomes do PSL, MDB e DEM – passou a fazer críticas mais abertas ao governo na gestão da saúde.

Segundo o jornal O Tempo, a pressão do bloco foi decisiva para a queda de Eduardo Pazuello na Saúde. Porém, o presidente recusou indicações de parlamentares e escolheu um nome de sua cota pessoal para o ministério: o médico Marcelo Queiroga. A decisão provocou descontentamento.

Na semana passada, nomes influentes do Centrão aumentaram o tom das críticas nas redes, principalmente nas questões ligadas à pandemia. Foi o caso do vice-presidente da Câmara, deputado Marcelo Ramos (Republicanos-AM) que cobrou mudança de postura. “Se o novo ministro ou ministra da Saúde combater a pandemia com a medicina, com vacina, com diálogo com Estados e municípios e não com ideologia, já teremos um grande avanço para o país”, escreveu.

Ele foi um dos parlamentares que, juntamente com o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), defenderam a nomeação da médica Ludhmila Hajjar. Porém, após reunião de Ludhmila com a equipe do presidente, o nome da indicada foi descartado pelo Planalto e horas depois foi anunciada a escolha de Queiroga.

O vice-presidente da Câmara alertou na ocasião: “É muito difícil para um médico que tenha compromisso com a medicina aceitar as condições do presidente para ser ministro e é muito difícil para o presidente aceitar as condições de um médico que tenha compromisso com a medicina para ser ministro. Temos um impasse!”.

Sem ruptura

O líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), descarta um rompimento no bloco e cita votações dos últimos dias como exemplo da “união da base”.

E na última quinta-feira, o Planalto fez um agrado ao bloco: após a confirmação da saída do presidente do Banco do Brasil, André Brandão, indicou Fausto Ribeiro, que não estava entre os mais cotados. André Brandão também recebia críticas do Centrão desde que o banco divulgou o plano de demissão voluntária. Foi uma tentativa de Bolsonaro de mostrar ao bloco a intenção de mantê-los como aliados.

No mês passado, após as vitórias de aliados do Planalto na Câmara e no Senado, veio a primeira parte da fatura: Bolsonaro nomeou o deputado João Roma (Republicanos-BA) para o Ministério da Cidadania, que tem grande visibilidade por ser responsável por pagar o auxílio emergencial.

Indicação negada

Além de Ludhmila Hajjar, outro nome indicado pelo bloco para assumir o Ministério da Saúde e também rejeitado pelo Planalto foi o deputado Dr. Luizinho.

“O ministério não é presente, é uma missão diante dessa atual situação. Nossos partidos não fizeram uma indicação, mas as pessoas que tenho convivência na Casa lembraram do meu nome, muito por eu ter presidido a comissão externa do coronavírus e pela minha experiência como gestor em secretarias municipais e estaduais de Saúde. É um processo natural e acho que o presidente fez uma boa escolha”, afirmou Dr. Luizinho.

O deputado avalia que, por causa da gravidade do momento, com aumento de mortes e superlotação dos hospitais, o ministério não pode ser uma reivindicação política de nenhum grupo parlamentar, pois há cobranças para que o país consiga reagir aos números negativos.

“Não é o momento e nem é por meio da pasta da Saúde que o governo deve fazer um aceno aos deputados. Todos querem superar essa pandemia terrível. Houve uma visão de que meu nome poderia ajudar, mas não era uma forma de atender a classe política”, diz o deputado.

Líder do governo garante unidade da base

Influente entre os partidos do Centrão e com acesso livre ao Planalto, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, avalia que o momento de turbulência ainda não foi suficiente para causar rompimentos mais profundos na base governista.

“Votamos nessa semana a Lei do Gás, com 350 votos, e votamos também o saneamento. Tivemos 290 votos para segurar o veto, com uma boa posição dos governadores. A base está firme”, diz Barros.

O deputado admite que houve movimentação e sugestões para o novo ministro da saúde, mas que a decisão final cabe ao presidente e, desde o início do governo, não houve uma lógica de que o Planalto aceitaria as indicações.

Desde meados de 2020, após a prisão de Fabrício Queiroz, apontado como operador do suposto esquema de “rachadinha” no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), o presidente ampliou a relação com o Centrão. Mais de 20 cargos no primeiro e no segundo escalão foram entregues para indicações do grupo desde então.

Além da pasta da Cidadania e das Comunicações – com o ex-deputado Fábio Faria (PSD) –, o grupo assumiu vagas nas áreas de infraestrutura, na agricultura e nas diretorias de estatais. A reportagem procurou a Secretaria de Governo da Presidência da República, órgão que faz a articulação do Planalto com o Congresso, para falar sobre as demandas feitas nas últimas semanas, mas não houve retorno.

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