Com 213.685 habitantes, Itabuna ocupa a sexta posição em termos populacionais entre as cidades baianas. No entanto, de acordo com o boletim divulgado pela Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) na última quinta-feira (18), é a cidade do interior com mais casos ativos de covid-19: 632. Além disso, é a segunda cidade do interior em número total de casos (26.032) e de óbitos por residência (458). O crescimento dos números e também da ocupação nos hospitais vem preocupando moradores e autoridades locais. Confira os rankings no final da reportagem.
A secretária municipal de saúde, Lívia Mendes, explicou o cenário ao jornal Correio: “Tivemos um pico logo após os primeiros 15 dias de janeiro como reflexo das festas de final de ano. Depois, tivemos outro pico associado ao período de Carnaval, quando inclusive ficamos com pacientes esperando por vagas de UTI e até de leitos clínicos. Até então, fevereiro tem sido o pior mês dentro do cenário epidemiológico da cidade”, diz.
O coordenador da Vigilância Sanitária de Itabuna, Emerson Oliveira, concorda. “Estamos vivendo o reflexo das atividades de final de ano e de Carnaval. Por isso estamos com esses números descontrolados”, diz ele. Oliveira ainda ressalta que o município registra entre 100 e 200 novos casos a cada dia. “Mas, às vezes, chegamos a cerca de 300”, complementa.
O coordenador reforça que os números são consequência do comportamento da população. “A população precisa contribuir mais, respeitar o vírus e as medidas restritivas. A gente ainda encontra jovens em festas e aglomerações”, diz. A secretária de saúde acrescenta: “Estamos tomando medidas, fazendo testagem em massa para isolar os casos positivos. Mas a gente vê um descrédito da população em relação à doença. Elas estão muito saturadas com as medidas restritivas e não conseguem mais tolerar”, pontua Lívia.
A moradora da cidade Juçara Lima, de 57 anos, também acredita que os habitantes estão contribuindo para o cenário da covid-19 na cidade e que as medidas restritivas não estão adiantando. “O pessoal está fazendo festa. Quando a polícia aparece, eles abaixam o som, as portas e desligam as luzes. Se proíbe de comprar bebida, o pessoal vai antes e faz estoque. As pessoas não estão respeitando e, principalmente, os jovens, inclusive minha filha, de 23 anos. Agora que tem umas duas ou três semanas que ela deu uma segurada e disse que não vai mais porque ficou assustada com o crescimento da covid aqui”, relata.
Juçara ainda destaca que grande parte da população contaminada está enfrentando a doença em casa, o que pode representar uma subnotificação dos casos. “Eu e a minha filha já tivemos covid em dezembro do ano passado, mas não precisamos ir para o hospital. E tem muita gente assim, se tratando em casa mesmo, então os números podem ser bem mais altos”, finaliza ela.
O município já detectou a circulação, na localidade, da variante de Manaus, com um caso de uma técnica de enfermagem que evoluiu bem e dois óbitos. “Identificamos a variante P1 aqui e isso só piora a situação porque é uma variante com uma transmissibilidade muito maior”, diz a secretária municipal de saúde Lívia Mendes.
Até então, não há registro das variantes do Reino Unido que, segundo o biomédico e pesquisador da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob) Jaime Henrique Amorim, é mais grave e representa uma grande preocupação para cidades do interior. “De acordo com as pesquisas, elas são as que já foram comprovadamente relacionadas com as formas mais graves da doença e com uma maior letalidade”, afirma. Mas a gestora da saúde de Itabuna alerta que essa variante já chegou a Ilhéus, o que causa preocupação aos residentes de Itabuna. “São municípios muito próximos. Há quem more em Ilhéus e trabalhe em Itabuna e vice-versa. Tem moradores de Itabuna que têm casa de praia em Ilhéus”, coloca.
Leitos
De acordo com o boletim divulgado pela prefeitura de Itabuna na quinta-feira (18), a cidade tem 26 leitos de UTI ocupados e apenas 3 disponíveis. Entre os leitos clínicos, são 40 ocupados e 11 livres. A taxa geral de ocupação de leitos de UTI dos três hospitais públicos da cidade com atendimento a pacientes com a covid-19 está em 90%. O Hospital Calixto Midlej Filho não tem mais vagas nem de UTI nem de enfermaria. O Hospital Manoel Novaes, voltado para a pediatria, não tem mais vagas de UTI. O Hospital De Base Luís Eduardo Magalhães está com 80% de ocupação de leitos clínicos e 85% de ocupação na UTI.
A secretária de saúde, Lívia Mendes, diz que, apesar das taxas elevadas, não há falta de atendimento. “Estamos quase sempre entre 90 e 100% de ocupação, mas temos conseguido dar vazão. Hoje (quinta-feira) não temos pacientes na fila por vaga”, diz. Mas a gestora destaca que as vagas de Itabuna também são ocupadas por pacientes de outras localidades. “No Hospital de Base, por exemplo, 60% são pacientes de Itabuna e 40% são de outras regiões”, complementa.
O coordenador da Vigilância Sanitária municipal também ressalta os efeitos da regulação. “Itabuna é um polo e acaba que pessoas de outros municípios vêm reguladas para cá. Tem dias que batemos 100% de ocupação de leitos justamente por causa de pacientes de fora de Itabuna”, diz Emerson Oliveira. Devido à alta ocupação, a prefeitura de Itabuna vai abrir um Hospital de Campanha para atender pacientes com o novo coronavírus. Serão 20 leitos clínicos e 15 leitos de UTI, com capacidade para aliviar a pressão sobre a UPA 24 Horas, do Bairro Monte Cristo, e dos hospitais.
O prefeito Augusto Castro estima que as obras da unidade devem ser concluídas até o dia 23 de março, caso não haja intercorrências. O local será administrado por uma empresa particular, que ainda será definida pelo município.
Vacina
Em Itabuna, cerca de 13 mil pessoas receberam a vacina, sendo 293 residentes de instituições de longa permanência, 5.560 trabalhadores da saúde e 7.319 idosos. O número de vacinados representa 0,62% e a aplicação por lá ainda não chegou para idosos com menos de 77 anos. Na última semana, Itabuna não recebeu no tempo previsto as vacinas da Coronavac recebidas pela Bahia por não ter atingido a meta de vacinação necessária: aplicação de 85% das doses distribuídas no lote anterior. De acordo com a secretária, a cidade atingiu a meta logo em seguida e as doses foram enviadas na segunda-feira (15). “A meta foi aumentada e isso pegou não só Itabuna de surpresa, mas outros municípios da região. Das 22 cidades da macrorregião, apenas 5 receberam as doses”, explica. A cidade foi incluída na distribuição das doses do novo lote que chegou à Bahia nesta semana.
Medidas restritivas
Devido à situação epidemiológica enfrentada pela cidade, com o surgimento de novas variantes do vírus no município e a superlotação dos leitos dos hospitais, o prefeito de Itabuna decidiu adotar medidas restritivas. Castro pediu o apoio da população para que siga as recomendações do município na tentativa de frear o avanço da doença. “Nosso maior inimigo é a covid-19. Por isso, peço o apoio da população para cumprir essas medidas mais duras tomadas pelo governo municipal através de decreto”, ressaltou em entrevista.
De acordo com o decreto municipal de restrição de locomoção noturna válido até o dia 1º de abril, das 20h às 05h, fica proibida a permanência e o trânsito de pessoas em vias, equipamentos, locais e praças públicas. O deslocamento é permitido somente para ida a serviços de saúde ou farmácia, para compra de medicamentos ou situações em que fique comprovada a urgência ficam excetuadas. Estabelecimentos comerciais e de serviços deverão encerrar as suas atividades com até 30 minutos de antecedência no período estipulado para garantir o deslocamento dos seus funcionários e colaboradores às suas residências.
Os estabelecimentos comerciais que funcionem como restaurantes, bares, lanchonetes e congêneres, com consumo no local, deverão encerrar o atendimento presencial às 18h, permitidos os serviços de entrega em domicílio (delivery), somente de alimentação, até meia-noite, sendo proibida a comercialização de bebidas alcoólicas após 18h.
Já durante todo o período compreendido entre esta sexta-feira (19) – feriado municipal do Dia de São José – e às 5h do dia 22, fica autorizado somente o funcionamento dos serviços essenciais, prioritariamente as atividades relacionadas a saúde, comercialização de gêneros alimentícios, feiras livres, segurança e ao enfrentamento da pandemia, o transporte e o serviço de entrega de medicamentos e demais insumos necessários para manutenção das atividades de saúde, as obras em hospitais e a construção de unidades de saúde, bem como as atividades de urgência e emergência, em todo o território do Município.
A autorização para funcionamento das feiras livres está limitada, exclusivamente, à comercialização de gêneros alimentícios, sendo vedada qualquer outra atividade. Além disso, medidas que já estão em vigor e vão até o dia 22 proíbem a comercialização, em qualquer horário, de bebida alcoólica em quaisquer estabelecimentos, inclusive por sistema de entrega em domicílio (delivery) e o funcionamento de academias e estabelecimentos voltados para a realização de atividades físicas.