A Frente Parlamentar em Defesa da Indústria e do Emprego foi oficialmente instalada na manhã desta quinta-feira (25), em evento virtual com a participação de deputados estaduais, federais, secretários de Estado, sindicalistas, representantes do Ministério Público do Trabalho (MPT), além do senador Jaques Wagner (PT), do vice-governador João Leão (PP), entre outras autoridades.
A ampla participação na instalação da frente, que será coordenada pela deputada Olívia Santana (PC do B), também autora da projeto aprovado pela mesa diretora da Assembleia Legislativa, foi motivada pela preocupação com os impactos da decisão unilateral da montadora de veículos americana Ford de encerrar as atividades no Brasil.
A montadora anunciou, no mês de janeiro, o fechamento da fábrica de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, e de mais duas unidades no país e a frente parlamentar tem como missão prioritária acompanhar a luta dos trabalhadores afetados, além de ajudar a criar medidas legislativas para estimular o crescimento da indústria e tecnologia no Estado e preservar os empregos.
Todos os parlamentares, integrantes do Executivo e da sociedade civil, que fizeram pronunciamentos no evento virtual de instalação da frente, manifestaram a indignação pelo encerramento inesperado das atividades da Ford e destacaram a necessidade do Estado de buscar alternativas para manter ativas as instalações construídas em Camaçari.
Além de Olívia Santana como coordenadora, a frente parlamentar tem mais três vice-coordenadores – os deputados Bira Corôa (PT), Diego Coronel (PSD) e Júnior Muniz (PP).
A criação da frente teve também o apoio do presidente da ALBA, deputado Adolfo Menezes (PSD). “É uma honra muito grande, como presidente desta Casa, estar junto na luta dos trabalhadores, dos sindicatos, do governo e do Ministério Público para ajudar a minimizar os efeitos da decisão abrupta e unilateral da Ford de encerrar as atividades”, afirmou Adolfo.
Apesar da ênfase nos impactos da decisão da Ford, a Frente Parlamentar em Defesa da Indústria e do Emprego terá outras batalhas prioritárias, conforme explicou Olívia Santana.
Entre elas, está a de lutar pelo retorno do pagamento do Auxílio Emergencial no valor de R$ 600. “As famílias no Brasil estão sofrendo para garantir a própria existência e para isso é necessário o retorno do auxílio nesse valor, porque ninguém consegue sobreviver com R$ 250”, afirmou a coordenadora da frente.
Outra bandeira imediata da frente, segundo Olívia, é o retorno do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social na Bahia. Além disso, a Frente deverá acompanhar o processo de privatização da Refinaria Landulpho Alves (Rlam), que na avaliação da deputada foi vendida pela metade do preço. “Estamos vendo o desmonte total do patrimônio nacional”.
Olívia também citou defesa de um plano de igualdade e diversidade nas empresas e ainda a proposta de que a planta da Ford em Camaçari, que possui alta tecnologia agregada, seja considerada de utilidade pública e disponibilizada para que o Estado atraia novos investimentos.
Nesse sentido, o vice João Leão, que também é secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, falou sobre os esforços do governo baiano em atrair alguma grande empresa para substituir a Ford. “Precisamos conseguir, de imediato, outra indústria para começar a operar naquela planta, uma das mais avançadas do mundo”.
João Leão contou que ele, junto com o governador Rui Costa (PT), tem levado a proposta para empresas da China, Índia e Coreia do Sul. “Temos encontrado uma receptividade muito grande por parte dos embaixadores desses países”, afirmou, pontuando que o Governo da Bahia não quer perder um minuto nas tentativas de substituir a Ford.
A preocupação de Leão e de todos, de forma geral, é com o número de empregos perdidos com o encerramento das atividades da Ford no Brasil. O procurador Jefferson Maciel Rodrigues, que coordena um grupo sobre a Ford no Ministério Público do Trabalho (MPT), compara o encerramento das atividades a um “Brumadinho social”, em referência à tragédia da barragem, que se rompeu matando cerca de 270 pessoas em Minas Gerais.
Jefferson lembrou que, apesar da fábrica em Camaçari empregar cerca de 5 mil pessoas, o encerramento das atividades vai deixar um número muito maior de desempregados no país.
Ele lembrou que, de acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio Econômico (Dieese), o fechamento da fábrica de Camaçari vai afetar 4,1% dos empregos industriais na Bahia. No Brasil, o cálculo é que 120 mil postos de trabalho deixem de existir – 70 mil só no Estado.
“Uma dispensa coletiva extravasa os muros de uma empresa. Segundo a OIT, mais de 80% dos países têm regulação protetiva de dispensas coletivas. Não pode uma empresa com presença de mais de cem anos decidir abandonar um país e deixar um lastro de 120 mil postos de trabalho fechados”, ponderou Jefferson.
Para o senador Jaques Wagner, é preciso atuar em duas vertentes. A primeira, diz ele, é o tensionamento com a Ford, tendo como objetivo dar o maior conforto possível a todos trabalhadores demitidos.
“Não é só básico de solidariedade que é sempre bem-vinda. Mas é buscar uma compensação da Ford, porque não se desliga uma planta e se demite cinco mil funcionários da noite para o dia sem nenhuma consequência”, afirmou Wagner, sugerindo que se faça um anúncio oficial na Bolsa de Nova York cobrando uma posição da Ford sobre a postura da montadora no Brasil.
A outra questão, na avaliação do senador e ex-governador baiano, é a busca por alguma fábrica que possa se instalar na planta de Camaçari. Para isso, Wagner acredita que a Bahia tem um grande trunfo. “Quando era governador sempre ouvi a Ford afirmar que a sua fábrica de Camaçari era a que tinha maior capacidade produtiva da montadora no mundo. E essa mão de obra está aí, a um custo baratíssimo, em função da desvalorização do Real”.
Diversos outros parlamentares e representantes do governo se manifestaram no encontro virtual, a exemplo dos deputados federais Daniel Almeida (PC do B), Alice Portugal (PCdoB) e Lídice da Mata (PSB), além do secretário do Trabalho e Renda, Davidson Magalhães. Todos, sem exceção, manifestaram preocupação com a perda de empregos e pelo processo de desindustrialização que veem no país.
“Esse processo de desindustrialização vem se mostrando acelerado não só com o fechamento da Ford, mas também com a privatização da Refinaria Landulpho Alves, que põe em risco todo nosso pólo industrial”, acredita Davidson Magalhães.