Presidente, que descarta ter Mourão na busca pela reeleição, quer nome sem apoio no Congresso para desestimular impeachment
Com a decisão de não repetir uma dobradinha com Hamilton Mourão (PRTB) em 2022, o presidente Jair Bolsonaro deu inicio a avaliação de nomes segundo a Folha de S. Paulo, que substituam o general da reserva em sua chapa à reeleição.
O nome do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, tornou-se o favorito, segundo auxiliares do presidente.
Em conversas recentes com deputados e ministros, Bolsonaro disse que não pode errar novamente na escolha de um nome e traçou um perfil do candidato a vice-presidente que considera adequado para o posto.
Além de requisitos básicos como confiança e discrição, Bolsonaro tem afirmado que busca alguém que não tenha exercido mandato parlamentar e que não tenha uma base de apoio no Poder Legislativo, critérios que aliados do presidente avaliam que o ministro preenche.
Pressionado por mais de 60 pedidos de impeachment ingressados na Câmara dos Deputados, o presidente, caso seja reeleito, quer evitar colocar na linha de sucessão um nome que conte com respaldo político para estimular o avanço de um processo de impedimento.
Apesar de Mourão não ter sido a primeira opção de Bolsonaro em 2018 —ele acabou escolhido por causa da dificuldade de encontrar outro nome—, o presidente avalia que a falta de respaldo congressual do militar é um fator que desestimula um movimento para tirá-lo do cargo.
Por isso, Bolsonaro quer um neófito na política, mas, desta vez, um nome que não lhe desperte desconfiança e que tenha uma postura mais comedida, sobretudo na relação com os veículos de imprensa, tratados pelo presidente como inimigos do governo.
A disposição de Mourão em responder quase que diariamente a perguntas de veículos de comunicação, o que lhe rende espaço junto à opinião pública, irrita Bolsonaro desde o início do governo.
Como retaliação, o presidente passou a evitar recebê-lo em audiências privadas e a consultá-lo sobre temas do governo.
Na última terça-feira (9), Bolsonaro excluiu Mourão até mesmo de reunião ministerial, encontro do qual o general costumava participar. Em caráter reservado, o presidente alegou que desconfiava que o general vazasse assuntos tratados à imprensa.
Jair Bolsonaro durante solenidade de posse de Daniel de Macedo Alves Pereira no cargo de Defensor Público-Geral Federal da Defensoria Pública da União Marcos Correa/Marcos Corrêa – 19.jan.2021/Divulgação Presidência
Bolsonaro já disse que deve definir em março a que partido irá se filiar. Hoje, a tendência é que ele ingresse no Patriota, legenda pequena de direita que foi criada em 2012.
O presidente pretende levar à sigla, na próxima janela partidária, pelo menos 20 deputados bolsonaristas.
O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, já disse a deputados e senadores que, para integrar a chapa eleitoral, está disposto a filiar em seu partido o nome escolhido por Bolsonaro para o posto de vice-presidente.
Segundo relato feito à Folha, a sinalização foi feita por Jefferson a Bolsonaro no mês passado.
Hoje, segundo assessores palacianos, o nome favorito do presidente para o posto é o do ministro da Infraestrutura. O militar da reserva é um dos auxiliares mais populares do presidente, como já mostrou pesquisa Datafolha, e é conhecido pela discrição.
O ministro é servidor de carreira vinculado à Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados, mas nunca exerceu mandato parlamentar, requisito buscado pelo presidente.
Antes de ser ministro, foi diretor-geral do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), durante governo petista.
Para aliados do presidente, Bolsonaro não esconde a preferência pelo militar e tem feito com Tarcísio movimento semelhante ao realizado, em 2009, pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a sua sucessora, Dilma Rousseff (PT).
Como Lula fez com Dilma, Bolsonaro tem levado Tarcísio a tiracolo. Na semana passada, por exemplo, fez questão de o ministro estar ao seu lado em entrevista à TV Bandeirantes e, em evento na Bahia em janeiro, com a participação do ministro, salientou que Tarcísio é hoje a “a figura mais importante” da Esplanada.
Tarcísio também costuma ser citado por Bolsonaro em discursos oficiais, sempre com elogios, e já participou diversas vezes da live semanal do presidente. Iniciativas de sua pasta são compartilhadas com frequência pelo perfil oficial de Bolsonaro nas redes sociais.
O ministro da Infraestrutura também caiu na graça dos apoiadores do presidente. O perfil “Tarcisão do Asfalto” no Instagram, por exemplo, já tem 78,9 mil seguidores. O perfil oficial do ministro tem 978 mil.
Mesmo em conversas reservadas, Tarcísio procura manter a sobriedade sobre o assunto, dizendo que não tem nenhuma pretensão política e que pretende continuar como um técnico, discurso que agrada a Bolsonaro.
Apesar da preferência do presidente, deputados e senadores alinhados ao governo defendem que, mesmo que a escolha seja por um neófito, o ideal seria que Bolsonaro optasse por alguém do Nordeste, região onde ele apresenta os maiores índices de rejeição.
A mais recente pesquisa Datafolha, divulgada no fim de janeiro, mostrou um aumento da rejeição ao presidente de 34% para 43% no Nordeste. O maior nível até então havia sido registrado em junho de 2020, com 52% de avaliações de que o governo é ruim ou péssimo.
Nesse caso, o nome mais citado no Palácio do Planalto, que corresponde ao perfil de neófito, é o do ministro do Turismo, Gilson Machado.
Pernambucano, o empresário foi durante mais de um ano diretor-presidente da Embratur e é um dos ministros favoritos do presidente, com presença constante também em lives e viagens, acompanhado de sua sanfona.
Nas últimas semanas, com a posição de independência do DEM na disputa ao comando da Câmara, integrantes do Poder Legislativo começaram a defender uma dobradinha com o presidente nacional da sigla, ACM Neto.
O ex-prefeito de Salvador, no entanto, já descartou a hipótese. E ministros do governo avaliam que uma indicação do cacique do DEM para a chapa presidencial corre o risco de deixar o presidente durante os próximos quatro anos em uma posição de refém do partido.
Descartado da chapa eleitoral, Mourão avalia concorrer ao cargo de senador pelo Rio Grande do Sul. Para militares do governo, uma candidatura dele no estado poderia até mesmo, se bem articulada, ter o apoio de Bolsonaro, que contaria com um palanque forte em um importante colégio eleitoral.