Metade das 12 senadoras do País declararam voto em Simone Tebet (MDB-MS) para a presidência do Senado, de acordo com o placar da disputa publicado pelo Estadão. Os votos vêm de parlamentares de quatro partidos diferentes, da esquerda à direita, como Leila Barros (PSB-DF) e Mara Gabrilli (PSDB-SP), e podem ser essenciais para eleger a primeira mulher como presidente da Casa e, consequentemente, do Congresso Nacional.
Além de seu próprio voto, a candidatura de Simone tem o suporte de Eliziane Gama (Cidadania-MA), Rose de Freitas (MDB-ES) e Nilda Gondim (MDB-PB). Com exceção do PSDB, que não se posicionou oficialmente na disputa, os demais apoios são esperados em função dos acordos firmados com os partidos representados pelas senadoras.
Principal adversário da emedebista, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) também busca o voto feminino e já soma quatro declarados – contando com a preferência das senadoras do PP, Katia Abreu (TO), Daniella Ribeiro (PB) e Mailza Gomes (PP) -, e de sua correligionária Maria do Carmo (SE). Duas senadoras preferiram não revelar seu voto. São elas: Zenaide Maia (PROS-RN) e Soraya Thronicke (PSL-MS).
Apesar da vantagem de Simone entre as mulheres, contando o voto da própria candidata, analistas ouvidos pelo Estadão afirmam que, ao menos até agora, o gênero não faz diferença na hora da urna.
“Os compromissos partidários e os interesses dos partidos contam mais que a questão do gênero ou mesmo qualquer outra pauta de identidade”, afirma o cientista político Carlos Melo, do Insper. “Em uma eleição como esta, estão em jogo acordos para espaço na Mesa Diretora ou para políticas específicas, como a Lava Jato. Isso acaba se impondo a essas questões que, embora importantes, assumem um papel periférico na disputa”, diz o professor.
No placar geral publicado pelo Estadão, Pacheco está à frente de Simone em votos declarados. Ele tem 32, ela soma 27.
Lava Jato
Simone Tebet já havia tentado, em 2019, colocar seu nome na urna do Senado. Naquele ano, ela travou uma disputa interna no MDB contra Renan Calheiros (AL), que acabou escolhido oficialmente pela legenda para disputar a eleição, vencida por Davi Alcolumbre (DEM-AP) com o apoio público da senadora.
A postura acabou lhe rendendo um papel de destaque na Casa, a de presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). E também influência entre os senadores reconhecidos como “lavajatistas”. Parte dos apoios que reúne para presidir o Congresso vem exatamente do grupo “Muda Senado”, bastante ligado ao ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro.
O discurso feminista também permeia sua campanha. Em um dos “santinhos digitais” que publica nas redes, Simone reafirma que “toda mulher na política é uma guerreira”, mas que é preciso “aumentar a representatividade”.
Aliadas da candidata citam a possibilidade de eleger uma mulher como uma mudança simbólica. “A candidatura inédita de uma mulher à presidência do Senado é um fato histórico. Simone Tebet garantirá independência e autonomia para o Senado e o Congresso Nacional”, diz Leila Barros.
“Ela representa altivez nesse momento de ataques à democracia. Ter uma mulher no comando do Legislativo será algo histórico”, afirmou Eliziane Gama (Cidadania-MA), que cita entre as qualidades de Simone o “equilíbrio e a sensatez”.
A tucana Mara Gabrilli afirma que a candidata valoriza a força da mulher na política e sua eventual vitória impedirá um alinhamento da Casa com o governo federal. “Não podemos eleger um candidato defendido por um presidente incompetente, autoritário, negacionista, que negocia cargos à la velha política e que, constantemente, flerta com o fim da democracia”, diz, em referência a Pacheco.
Quem apoia o senador mineiro defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, no entanto, também afirma a importância das pautas feministas. Senadora pelo PP, Daniella Ribeiro (PB) é uma das três senadoras do partido que declararam voto a Pacheco. “Meu compromisso com a candidatura do senador Rodrigo Pacheco é anterior à definição de outro candidato na disputa pela presidência do Senado. Tenho certeza que o senador também está comprometido com as pautas femininas”, diz.
Cientista política da PUC-SP, Vera Chaia alerta para um aspecto da eleição que pode mudar posições, independentemente da questão de gênero: o sigilo: “Como o voto é secreto, podem ocorrer algumas surpresas, mas não acredito que isso leve a uma reviravolta nas alianças partidárias. Estas são mais levadas em conta”.
A disputa está marcada para 1.º de fevereiro e será feita de forma presencial.