A candidatura do deputado Baleia Rossi (MDB-SP) para a presidência da Câmara inicia o ano recuperando o espaço perdido pelo atraso no seu lançamento, o que amplia a imprevisibilidade na disputa contra seu candidato, Arthur Lira (PP-AL).
Essa é a avaliação do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), cujo entorno também calcula que Baleia acabará fechando acordo, na próxima semana, com o bloco de oposição, que formalmente tem 130 votos, e ainda poderá avançar sobre siglas que na contabilidade inicial deveriam fechar com Lira, como o PTB e o Pros.
O Executivo aproveita todas as brechas para estar próximo ao Congresso. Nos últimos dias de 2020 o próprio governo fez um esforço para atender a demandas de parlamentares e fazer empenhos ao Orçamento de 2021. Empenho é o compromisso que as emendas serão pagas neste ano e precisam ser inscritas até o dia 31 de janeiro.
E assim foi feito. O governo trabalhou ao longo da semana para inscrever no Orçamento cerca de R$ 12 bilhões, oriundos dos projetos de lei do Congresso (PLN) de números 29, 30 e 40, todos aprovados na última sessão do Legislativo de 2020. A maior parte dos recursos foi para os Ministérios da Saúde, do Desenvolvimento Regional e da Agricultura.
Outro ponto observado pelo governo sobre a candidatura de Baleia foi a entrada em campo do ex-presidente Michel Temer, recordista em vitórias em eleições para a Câmara. Temer venceu as três vezes em que disputou: 1997, 1999 e 2009.
Chegaram relatos ao governo de que Temer telefonou para parlamentares para pedir votos a Baleia, que o considera padrinho político.
A interlocutores, Temer não só tem dito que não entrou como não entrará na campanha, embora admita a auxiliares que esteja conversando com parlamentares que o procuram.
Os coordenadores da campanha de Baleia avaliam que o governo divulga a entrada de Temer na campanha como forma de atrapalhar as negociações com o PT, que tem restrições ao ex-presidente por seu papel no impeachment de Dilma Rousseff.
Também para tentar afastar o PT, esse pacote inclui a tentativa de colar em Baleia como alguém próximo ao Palácio do Planalto, tendo em vista sua taxa de alinhamento ao governo em votações ser superior à de Arthur Lira. Baleia afirma aos deputados que seu alinhamento foi sempre com a agenda econômica de Rodrigo Maia, e não com pautas de Bolsonaro.
De qualquer modo, essa taxa de alinhamento ajuda o governo a formar a convicção de que uma eventual vitória de Baleia não seja uma tragédia e que deve ser comemorado o simples fato de Rodrigo Maia não mais ocupar o posto a partir de fevereiro.
Reforça essa tese o fato de dois líderes do governo no Legislativo serem do MDB (Eduardo Gomes, do Congresso; e Fernando Bezerra, do Senado), de o partido ter indicações políticas no segundo escalão da administração federal e principalmente a aproximação de Bolsonaro com Temer ao longo do ano. Esse alinhamento indica um possível avanço da agência econômica numa possível presidência de Baleia Rossi.
Temer tem aconselhado Baleia a fazer, se vencer, uma gestão reformista e de pacificação política – distinta, portanto, da relação que Maia teve com Bolsonaro. Nesse sentido, Baleia não aceitará firmar compromisso com a oposição de analisar pedidos de impeachment contra o presidente.
No entanto, é dado como certo que assuntos de costumes, se Baleia vencer, passarão longe da pauta da Câmara. O próprio Baleia tem dito isso a seu grupo: não pautará propostas que dividam a sociedade e o Congresso.