O presidente Michel Temer tem diversos problemas. Porém uma categoria específica não tem do que reclamar dele. Após a fatídica carta em que o emedebista se apresentou como “vice decorativo”, os candidatos ao mesmo cargo nas eleições deixaram de ser meros coadjuvantes no processo e passaram a dividir os holofotes com os candidatos, ainda que com menos destaque. O clima de instabilidade política, inclusive, só fez aumentar a expectativa em torno daqueles que podem, eventualmente, chegar ao poder indiretamente.
No plano federal, a campanha de 2018 começou com um vice que todos sabiam que seria candidato à presidência da República. Fernando Haddad foi apresentado na condição na forçosa tentativa do PT em ter Luiz Inácio Lula da Silva como candidato e se tornou efetivamente postulante ao Planalto apenas na semana passada. Haddad já era protagonista e fingia ser vice. Agora, assume o posto esperado.
Para o lugar do petista, emergiu a ex-candidata Manuela D’Ávila, que até o final de julho não arredava o pé de que disputaria o Executivo federal. Ela, como se mostrou, arregimentou um filão importante da esquerda, ao se apresentar na condição de feminista e progressista, mas acabou fadada a uma função de coadjuvante, tal qual esperada para uma vice. Resiste, mas já não tem o mesmo espaço que tivera até o momento em que postulava morar no Palácio da Alvorada.
Se Manuela imergiu de alguma forma, o mesmo não se pode falar de General Mourão (PRTB), vice de Jair Bolsonaro (PSL). Não cansado das polêmicas pré-eleições, Mourão parece imbuído em aplicar um golpe no titular antes das urnas se abrirem: quer protagonizar a campanha depois que Bolsonaro foi esfaqueado e ficou afastado da campanha nas ruas. Uma das últimas pérolas dele foi afirmar que o Brasil não precisa de uma Constituição criada por representantes do povo. Algo democrático ao extremo, não?
Outro a ter uma vice polêmica é Ciro Gomes (PDT): a correligionária Kátia Abreu. Madrinha do agronegócio, a senadora perdeu a eleição para governadora do Piauí e até tenta ser lembrada na campanha. Não consegue espaço frente às loucuras de Mourão e cumpre um papel similar ao de Temer em 2010 e 2014, quando permanecia inexpressivo.
Sem tanta polêmica, mas também apagada está a vice de Geraldo Alckmin (PSDB), Ana Amélia (PP). A senadora pelo Rio Grande do Sul sequer conseguiu apaziguar os ânimos do próprio partido em terras gaúchas e apesar de ter adicionado tempo de rádio e televisão para o tucano, até o momento não parece ter garantido eleitores.
Marina Silva (Rede) parece ter tido mais sorte. O vice dela, Eduardo Jorge (PV), ainda mantém um recall bom das eleições de 2014, quando concorreu ao Planalto, e ainda conquista espaço na mídia ao debater temas típicos dos verdes. Tal qual Manuela D’Ávila, ele é um vice necessário no processo democrático e a participação de ambos tem sido importante para levantar temáticas que não necessariamente seriam debatidas pelos titulares.
A lista de vices não se limita aos citados. Tem uma indígena com Guilherme Boulos (PSOL), um ex-presidente do BNDES com Álvaro Dias (Pode) e mais alguns ilustres desconhecidos. Porém, por mais que existam vices que apenas compõem a chapa “para constar”, as eleições de 2018 têm muito para se tornarem a grande chance de os vices serem mais do que decorativos. A depender do presidente eleito é até bom que o vice assim permaneça.
Por Fernando Duarte