Conhecido por representar réus que fizeram acordos de colaboração homologados pelo então juiz Sergio Moro, o criminalista Antônio Augusto de Figueiredo Basto e seu sócio, Luiz Gustavo Rodrigues Flores, foram denunciados segundo o jornal O Globo, por receber de 2006 a 2013 US$ 3,9 milhões (US$ 50.000 por mês, por 78 meses), cobrados de Dario Messer, o “doleiro dos doleiros”, como taxa de proteção. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), os dois advogados alegaram a Messer que o dinheiro serviria para pagar propina a autoridades, entre as quais o procurador regional da República Januário Paludo, em troca de garantias ao doleiro. Porém, segundo a denúncia, o dinheiro foi usado por Figueiredo Basto e o sócio em proveito próprio. A investigação inocentou Paludo.
Os dois advogados irão responder pelos crimes de exploração de prestígio e tráfico de influência qualificado, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. A apuração chegou ao doleiro Marco Antônio Cursini, cliente criminal dos advogados e também responsável por suas operações ilícitas de câmbio. Em datas próximas aos pagamentos efetuados por Messer, Cursini recebia deles dinheiro em espécie e transferia recursos para uma conta dos advogados, mantida no exterior, em nome de empresa offshore de fachada, a Big Pluto Universal, “constituída com a única finalidade de distanciar os valores de sua origem ilícita (‘conta de passagem’, nas palavras do próprio Cursini)”, diz a denúncia.
Após ser preso, em julho passado, Messer admitiu ter desconfiado de que os valores repassados a pretexto de taxa de proteção eram embolsados pela dupla de criminalistas. O inquérito, aberto a princípio para investigar o suposto envolvimento de autoridades do esquema, acabou concluindo que houve, ao longo de quase oito anos, cobrança de valores mensais a Messer, como “taxa de proteção”, sendo recebidos em espécie por Figueiredo Basto e Rodrigues Flores, e repassados a Marco Antônio Cursini.
Procurado pelo GLOBO, Figueiredo Basto não quis comentar o caso: É o mesmo objeto (de uma denúncia anterior sobre o caso). Que absurdo! Vou esperar para ver a nova denúncia antes de me pronunciar. Luiz Gustavo Rodrigues Flores não foi encontrado pela reportagem.
O dinheiro foi enviado ao exterior entre 2008 e 2013, e lá permaneceu, praticamente intocado, até 2016, quando mudanças da legislação internacional e do compliance dos bancos preocupou os advogados. Mesmo aconselhados pelo doleiro Cursini a aderirem ao programa legal de repatriação, optaram por reinternalizar o dinheiro por novas operações ilegais de “dólar cabo”, no valor correspondente a US$ 3,527 milhões, proveniente das contas da Big Pluto.
Repasses mensais de Messer, sustenta a denúncia, ocorreram de setembro de 2006 a março de 2013. O pretexto alegado era influir em atos praticados por gente do MPF e da Polícia Federal.
O próprio Cursini, doleiro dos advogados, também pagou uma “taxa de proteção” aos advogados, solicitada a pretexto de impedir sua convocação a depor em uma CPI do Congresso Nacional. Foram cobrados US$ 400.000,00, sendo que os advogados teriam alegado que o dinheiro seria repassado a agentes públicos. Porém, como mostraram as investigações, também esse dinheiro foi destinado a conta da empresa BIG PLUTO, no exterior, e la se manteve.