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domingo 6 de dezembro de 2020 às 13:20h

Comércio mundial fica sem contêineres: o que China e EUA têm a ver?

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No mercado de transporte marítimo de contêineres começou um forte aumento de taxas, fazendo com que os preços sejam agora dez vezes superiores.

Um novo fator se soma ao aumento anual da demanda resultante do Natal e da pandemia: uma aguda escassez de contêineres. O tradicional desequilíbrio do comércio da China com os Estados Unidos e Europa piorou. Os fluxos procedentes da China são maiores que os procedentes de outros países e se acumulou um grande número de contêineres vazios na América do Norte.

A situação já está afetando empresas médias, para as quais os preços de frete se tornaram inacessíveis, e pode dar lugar a um aumento dos custos de bens e componentes, assim como dos prazo de entrega.

As transportadoras de carga e responsáveis de logística que trabalham com a China apontam para um aumento drástico nos preços de envio de contêineres. As taxas impostas pela China para a Europa começaram a aumentar a partir de junho de 2020. O primeiro aumento significativo foi em setembro; o segundo, em novembro, e agora ocorre o terceiro.

O preço do transporte de um contêiner de 67 metros cúbicos da China para a Europa é agora o dobro do que era há um ano, dizem os especialistas.

Muitos fatores deste crescimento são conhecidos, desde a pandemia que adiou a demanda até a antecipação das férias de Natal. Contudo, também há um novo fator: o déficit de contêineres vazios na China, que é consequência do desequilíbrio comercial entre os produtores da Ásia e os consumidores da América do Norte e União Europeia.

A China deixou de comprar produtos dos EUA, enquanto o país norte-americano continua a comprar de Pequim, portanto, os contêineres vão para a América do Norte sem voltar, já que não é rentável que regressem sem carga. Nos primeiros nove meses de 2020, o tráfego de contêineres da América do Norte para a Ásia diminuiu em 14%, e na direção oposta aumentou em 12%.

Como consequência, o custo de outros tipos de transporte, como o aéreo, aumentou entre 1,5 e três vezes. Os importadores estão considerando a possibilidade de repensar completamente a logística e passar o transporte para trens.

A China continua dominando o mercado mundial

A China continua dominando os mercados de exportação, e a guerra comercial com os EUA aumentou, na verdade, a proporção de produtos chineses nas exportações mundiais. Segundo revela a análise de 3.800 produtos feita pela Nikkei, em 2019 havia 320 mercadorias vendidas no mundo nas quais o gigante asiático detinha mais de 50% da respectiva exportação. Em comparação, no momento de adesão da China à Organização Mundial de Comércio (OMC) em 2001, este número era somente de 61.

Ao mesmo tempo, cresce a participação da China em exportações de tecnologia. Assim, Pequim produz aproximadamente 66% de todos os computadores portáteis do mundo, além de mais de metade de todos os telefones inteligentes e ar condicionado.

Paradoxalmente, a demanda das exportações chinesas começou a crescer durante a pandemia da COVID-19. Enquanto em fevereiro deste ano a participação das exportações chinesas no total dos países da OCDE mais China era de 14%, em março a cifra se elevou para 17% e, em abril, para 24%.

Em somente dois meses, de março a maio, a China exportou 70,6 bilhões de máscaras médicas. Comparando ao ano passado, o mundo inteiro somente produziu 20 bilhões destas máscaras.

Muitas vezes, os países não têm outra saída a não ser comprar os bens necessários da China, salienta à Sputnik Jia Jinjing, assessor do diretor do Centro de Pesquisa Financeira Chungyang da Universidade Popular da China.

“A China controlou com razoável rapidez a epidemia, recuperando a produção, e sua própria capacidade de consumo interno também é alta, motivos pelos quais sua cadeia de fornecimento está em boas condições. Nesta situação, muitas vezes outros países não têm outra saída a não ser comprar produtos chineses”, explica Jia Jinjing.

Além disso, a China não é mais uma fonte de mão de obra barata. Desde a adesão da China à OMC, o seu Produto Interno Bruto (PIB) per capita aumentou diversas vezes e agora supera US$ 10 mil (R$ 5,12 mil). Naturalmente, o aumento da renda também afeta a estrutura das exportações chinesas. Agora, a China começou a dominar a fabricação de produtos de maior valor agregado, e subiu na cadeia de valor global, acrescenta o especialista.

“Segundo o efeito Balassa-Samuelson, se a economia de um país e a sua renda per capita crescem, isso inevitavelmente conduz a uma moeda nacional mais forte. Afinal, à medida que a renda das pessoas aumenta, também aumenta a necessidade de produtos de alta qualidade, por exemplo, no setor de serviços. Nesta situação, tanto as exportações como as importações crescem”, esclarece Jia Jinjing.

Enquanto os produtos se tornam mais complexos, suas respectivas cadeias de fornecimento sofrem o mesmo efeito. As exportações chinesas estão se movendo gradualmente para outro nicho, o de produtos de qualidade. Portanto, a participação das exportações chinesas no comércio mundial vai aumentar, concluiu.

A entrada da China em novos acordos comerciais pode aumentar ainda mais a participação de seus produtos nos mercados mundiais.

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