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domingo 29 de novembro de 2020 às 07:15h

Bolsonaro foca em eleição da Câmara e escolha de um partido para 2022

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Depois de ter apoiado candidatos que foram derrotados no primeiro turno das eleições municipais, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se distanciou da segunda etapa do pleito e decidiu centrar esforços em duas frentes: a eleição para presidente da Câmara no início de 2021 e a escolha sobre qual o melhor partido político para pavimentar o caminho da pretendida reeleição.

A avaliação de assessores palacianos é que o envolvimento de Bolsonaro no primeiro turno trouxe resultados frustrantes, uma vez que apenas 13 dos 59 nomes referendados pessoalmente por ele em suas “lives eleitorais gratuitas” conquistaram um cargo eletivo.

Além do mais, um de seus poucos apoiados que passou para o segundo turno numa grande cidade, Marcello Crivella (Republicanos), no Rio, aparece nas pesquisas de opinião sem perspectivas de reverter a ampla vantagem de Eduardo Paes (DEM).

O resultado adverso reforça a necessidade de emplacar um nome próximo do Planalto na presidência da Câmara em 2021, ressaltaram auxiliares de Bolsonaro à Folha de S. Paulo.

A intenção do presidente é conseguir eleger o líder do PP na Casa, Arthur Lira (AL), e com isso ter um aliado de primeira hora no cargo.

Bolsonaro já expressou a presidentes de partidos que quer o parlamentar no comando da casa legislativa. Na última semana, ele conversou com pessoas próximas sobre o tema.

Embora seja um trunfo para o candidato poder usar a estrutura do governo para conseguir fazer promessas eleitorais, como facilitar a liberação de recursos, ser o nome do governo também traz problemas.

Isso porque a oposição na Câmara, que reúne cerca de 130 votos, terá papel decisivo na disputa.

Esse grupo tem preferência por um candidato menos alinhado ao Planalto. Por isso, Lira se equilibra entre o apoio do governo e o esforço para mostrar a esses parlamentares que não pretende seguir à risca a cartilha bolsonarista.

Com um aliado na cadeira de presidente da Câmara, o governo espera levar adiante não apenas votações da área econômica, mas algumas pautas conservadoras que possam ser mostradas como vitrine para o eleitorado em 2022.

Além da disputa pelo comando da Câmara, Bolsonaro precisará decidir a que partido se filiará no ano que vem.

Ele próprio disse nesta semana que deverá tomar a decisão em março. Caso a Aliança pelo Brasil não vingue —algo considerado provável por bolsonaristas— ele deve se filiar a outro partido.

Segundo relatos feitos por aliados, o fracasso nas urnas de nomes associados a Bolsonaro fez o presidente se convencer de que não pode chegar próximo a 2022 sem a estrutura de uma legenda.

Mas, se a necessidade de filiação é partilhada por aliados, não há consenso sobre qual partido deverá receber o presidente.

Integrantes do governo da ala mais moderada opinam que o presidente deve entrar em um partido já estruturado, como os do centrão. Ainda mais porque esse grupo teve resultado exitoso nas eleições municipais.

Há conversas em andamento com o PP, o Republicanos e o próprio PSL —agremiação com a qual Bolsonaro rompeu há um ano.

A ala ideológica, por sua vez, é a favor de que Bolsonaro vá para uma legenda menor, para manter o discurso de que ele não é um representante da chamada velha política.

Segundo assessores presidenciais, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), ambos filhos do mandatário, têm defendido essa linha de ação.

Esse grupo opina que o presidente deve ter ascendência sobre o partido, além da autoridade para indicar cargos na direção nacional e estaduais.

Partidos do centrão, como o próprio PP de Lira, têm caciques nacionais e estaduais consolidados que devem resistir a abrir espaços de comando para indicações de Bolsonaro.

Nos últimos dias, o foco dado por Bolsonaro na eleição da Câmara e na escolha de seu futuro partido ocorre no mesmo momento em que ele se distanciou do segundo turno das eleições municipais.

O mandatário avaliou que se expôs excessivamente ao chancelar nomes que não decolaram e que caíram no seu colo derrotas desnecessárias. Mesmo assim, ele expôs a aliados preferências no segundo turno.

Em São Paulo, como revelou a Folha, ele compartilhou mensagem crítica a Bruno Covas (PSDB). Dias depois, ele repetiu a estocada dizendo que Covas não votou nele em 2018, sugerindo que o tucano teria apoiado o PT —Covas afirma que anulou seu voto no segundo turno das presidenciais.

Isso foi refletido numa parcela de apoiadores do presidente que decidiu adotar a neutralidade no segundo turno, como fez Eduardo Bolsonaro.

No Rio, o presidente chegou a dizer que gravaria um vídeo para Marcello Crivella, mas se recusou a participar presencialmente de eventos de campanha, como queria o candidato.

Em live na quinta, Bolsonaro apareceu com um panfleto de Crivella em cima da mesa e disse aos apoiadores que eles sabem quem ele apoiou no primeiro turno e que iria ao Rio domingo para votar.

Fora isso, ele gravou vídeos para poucos candidatos, todos de cidades médias.

Em 25 de novembro, foi divulgado um vídeo em que ele declara apoio a Tião Bocalom (PP), que disputa a prefeitura de Rio Branco (AC). O nome endossado pelo presidente aparece com ampla vantagem nas pesquisas de opinião.

Bolsonaro também registrou uma mensagem de apoio a Roberto Naves (PP), que no primeiro turno em Anápolis (GO) recebeu 46,64% dos votos válidos. Ele enfrenta na segunda etapa Antonio Gomide (PT).

“Nós sabemos quem está do outro lado, qual o partido que está do outro lado. E do nosso lado nós temos o progresso, o desenvolvimento e o respeito à família”, disse Bolsonaro no vídeo.

Bolsonaro foi na mesma linha em mensagem de endosso ao candidato Capitão Nelson (Avante) em São Gonçalo (RJ). O nome apoiado por Bolsonaro teve 22,82% dos votos válidos no primeiro turno, contra 31,36% do petista Dimas Gadelha.

“Eu estou com o Capitão Nelson e peço a todos aqueles que possam nos acompanhar nessa jornada”, disse Bolsonaro no vídeo. “O outro lado, vocês sabem, é o PT. Dispensa comentários”.

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