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segunda-feira 23 de novembro de 2020 às 06:09h

Centrão avança, e esquerda perde espaço em cidades com mais auxílio emergencial

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Partidos do atual centrão ou que já fizeram parte do bloco ampliaram nestas eleições o controle de municípios que foram mais beneficiados pelo auxílio emergencial do coronavírus.

Somados, PP, PL e Republicanos (principais legendas do grupo hoje alinhado a Jair Bolsonaro), PSD (que costuma votar com o bloco, embora negue integrá-lo) e MDB (que já foi expoente do centrão, mas se distanciou) avançaram no primeiro turno e ocuparam principalmente o espaço de siglas de esquerda.

Levantamento feito pela Folha mostra que, no último domingo (15), as cinco legendas venceram 57% das eleições nos 200 municípios com a maior proporção de moradores atendidos pelo benefício. Até então, os partidos controlavam 41% dessas prefeituras.

O crescimento nas cidades do topo do ranking do auxílio emergencial foi maior do que o avanço registrado por essas siglas no cenário nacional. Em todo o país, os cinco partidos tiveram sucesso em 49% das disputas que já foram encerradas.

No total, as legendas passaram de 2.461 para 2.665 prefeituras nos últimos quatro anos —um aumento de 8%. Nos municípios mais atendidos pelo benefício, esse crescimento foi bem maior, de 39% (de 82 para 114 prefeituras controladas).

Essas siglas têm um histórico associado ao grupo convencionalmente chamado de centrão. São legendas com comportamento político fluido e que deram apoio a diferentes governos nos últimos anos —incluindo gestões do PT e a atual, de Jair Bolsonaro (sem partido).

PP, PL e Republicanos integram a base aliada do presidente —que obteve um aumento de popularidade nos meses iniciais de pagamento do auxílio. MDB e PSD declaram independência, mas apoiam itens da agenda do Palácio do Planalto.

No Congresso, esses partidos são peças-chave nas discussões sobre a reformulação de programas sociais em estudo pelo governo. O debate envolve desde propostas de prorrogação do pagamento do auxílio emergencial a uma expansão do Bolsa Família.

No balanço dos 200 municípios mais atendidos pelo benefício, o PP teve o maior crescimento. Subiu de 9 para 30 prefeituras. O único partido do grupo a perder terreno foi o MDB, que caiu de 34 para 28 —uma queda proporcionalmente menor do que a desidratação observada pela sigla no resto do país.

Já os partidos de esquerda recuaram nesse recorte. PT, PSB, PDT e PC do B controlavam 48 prefeituras e, agora, passaram para 34. A queda representa uma redução de 29% no espaço ocupado por essas siglas.

O maior derrotado foi o PSB, que perdeu o controle de 10 municípios. O PT caiu de 17 para 11 prefeituras. O PC do B ficou estável e o PDT avançou, de 9 para 11.

A redução do espaço da esquerda nesses 200 municípios foi ligeiramente mais intensa do que o declínio registrado nacionalmente pelo grupo. Em todo o país, os quatro partidos perderam 27,5% das prefeituras até agora. No ranking do auxílio, a diminuição foi de 29%.

Em Maetinga (BA), terceira colocada da lista, o PT perdeu o comando do município que governa há oito anos. O candidato petista à sucessão do atual prefeito foi derrotado por Dra. Aline (PL).

Já no município de Jitaúna (BA), o prefeito Patrick Lopes foi eleito pelo PDT em 2016. Ele trocou o partido pelo PP durante o mandato, disputou a reeleição e venceu.

Em outros casos, a prefeitura só mudou de mãos, mas dentro do grupo associado ao centrão. O PSD atualmente governa o município com a maior proporção de beneficiários, Severiano Melo (RN). O partido não lançou candidato, e quem venceu a eleição foi o Republicanos.

Além da esquerda, o centrão também avançou sobre espaços de outras siglas. O PSDB, por exemplo, caiu de 26 para 16 prefeituras, e o DEM passou de 16 para 14.

Os municípios com maior cobertura pelo benefício se concentram no Nordeste e nos recantos mais pobres de outras regiões. Esses locais registravam influência maior dos partidos de esquerda durante as gestões petistas no governo federal e foram onde Bolsonaro teve alguns de seus resultados mais fracos na disputa presidencial de 2018.

Nas eleições municipais de 2012, legendas de esquerda conquistaram 67 prefeituras —quase o dobro do número atual. Os dados mostram que a queda de desempenho desses partidos ao longo dos últimos anos se repetiu, portanto, nas regiões mais pobres do país, que eram parte de seus redutos eleitorais.

No litoral da Paraíba, o município de Conde entrou na estatística de desidratação da esquerda. Márcia Lucena, do PSB, tentou a reeleição, mas foi derrotada por Karla Pimentel, do Pros —legenda que também se alinha ao centrão.

Conde é o 88° do ranking proporcional de beneficiários do auxílio emergencial: 50,8% dos habitantes recebem o pagamento.

O município se fechou no início da pandemia do coronavírus. Com praias vazias e sem turistas, parte da população local perdeu uma fonte de renda. O auxílio emergencial amenizou parte desses efeitos, segundo moradores. Muitos reprovaram a gestão da prefeita.

“Ela [Márcia] não nos ajudou em nada na pandemia. E a gestão dela não olhou para os bairros onde moram os pobres”, disse o comerciante Severino Lima dos Santos, 54, que recebe o auxílio.

Eleitores de Conde atribuem a Bolsonaro o mérito do programa emergencial. Embora poucos relacionem a disputa local com a política nacional, alguns moradores, como Santos, enxergavam o PSB, coligado com o PT na chapa de Márcia, como adversário de Bolsonaro.

Pesaram ainda contra a prefeita o atendimento nas unidades de saúde no ano de pandemia e uma investigação de irregularidades quando ela integrou a equipe do ex-governador do estado Ricardo Coutinho (PSB).

Sem o auxílio a partir de janeiro, como determina o calendário de pagamento do governo, o comerciante Igor Martins, 51, prevê dificuldades financeiras no começo do próximo ano. “O turismo não voltou como antes e nem vamos ter o Carnaval, o que movimenta a cidade”, afirmou.

O ranking do auxílio emergencial aponta também que as taxas de reeleição nesses municípios ficou acima da média nacional. Nas 200 disputas, 69% dos prefeitos que disputaram um novo mandato foram vitoriosos. Em todo o país, esse índice foi de 63% no primeiro turno.

A esquerda teve um desempenho inferior ao dos demais partidos nessas disputas: 62% dos candidatos à reeleição de PT, PSB, PDT e PC do B nessas cidades tiveram sucesso. Nas outras siglas, a taxa foi de 70%.

Os 200 municípios com maior proporção de atendimento pelo auxílio emergencial somam 2,3 milhões de pessoas, mais que a população de Manaus. São cidades majoritariamente pequenas: pouco mais de um terço supera os 10 mil habitantes.

A Bahia é o estado com mais municípios (42), seguida de Pará (24), Piauí (23), Rio Grande do Norte (18) e Goiás (17). O Nordeste tem 64% das cidades dessa lista.

Em todos os locais, ao menos 47% da população estimada pelo IBGE recebem o pagamento do auxílio. Os cinco primeiros da lista têm uma cobertura que supera 100%. Em Severiano Melo (RN), o índice chega a 138%. Segundo o município, o excesso representa famílias que vivem em comunidades demarcadas em outras regiões, mas que são atendidas ali.

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