Conforme reportagem do Correio Braziliense, os partidos chamados Centrão saíram fortalecidos após sucesso no primeiro turno das eleições municipais. O Centrão se tornou ainda mais importante para o presidente Jair Bolsonaro, cujos candidatos que declarou apoio tiveram baixo desempenho nas urnas. Partidos do bloco, como o PP, PSD, PTB, PL e Republicanos, acabam de eleger mais de 2 mil prefeitos. A partir de agora, além da sustentação dada ao governo no Congresso, o Centrão assumirá o controle de muitos municípios que podem servir de palanque para a campanha de Bolsonaro à reeleição, em 2022. Esse cenário pode abrir espaço para a frente partidária cobrar ainda mais espaço no governo, pressionando, inclusive, por uma reforma ministerial.
O cientista político André Pereira César, da Hold Assessoria Legislativa, destacou que, no primeiro turno eleitoral, houve um outro fator importante que pode deixar Bolsonaro ainda mais dependente do Centrão: o fortalecimento também do MDB, do DEM e do PSDB. Entre as 100 maiores cidades do país, os tucanos conquistaram nove; os emedebistas, oito; os democratas, cinco. O MDB também foi campeão em número de prefeitos eleitos no primeiro turno: 774.
“Esses resultados indicam que a reedição da aliança que deu suporte ao governo FHC tem condições de ocorrer na sucessão presidencial. Interesse e peso político não faltam aos três partidos”, avaliou André César. Ele frisou que conversas nesse sentido já vêm se desenrolando, com a participação de João Doria, do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), e de outras lideranças.
O cientista político observou que, diante de todo o cenário resultante do primeiro turno das disputas municipais, uma eventual cobrança por mais espaço no governo está, pelo menos, nos cálculos políticos do Centrão.
“Há dois partidos do Centrão que se sobressaíram nas urnas. O PP e o PSD, do ex-ministro Gilberto Kassab, podem ser mais importantes ainda e ganhar mais afagos de Bolsonaro. O PSD já tem o Ministério das Comunicações e o PP ocupa vários cargos estratégicos no segundo escalão do governo. Mas esses dois partidos, em especial, podem pedir mais, se tornar ainda mais relevantes e colocar o presidente contra a parede, dizendo: ‘olha, se você quer a reeleição, isso tem um custo’”, disse.
Dos partidos do Centrão, PP –– cujo principal cardeal é o senador Ciro Nogueira (PI), padrinho da indicação do ministro Nunes Marques ao Supremo Tribunal Federal (STF) ––, por exemplo, é o segundo colocado em número de prefeitos eleitos no primeiro turno (682). Na terceira posição vem o PSD (650) e, na sexta, o PL (345). Também tiveram bom desempenho o PTB (212 prefeituras) e o Republicanos (208). Ao todo, esses partidos conquistaram 2.090 municípios. Nas grandes cidades, o PSD é o campeão: triunfou em localidades cuja soma de habitantes equivale a 9,86% da população brasileira.
Derrotas em série
O presidente não viu nenhum dos vários candidatos que apoiou vencer nas capitais. No segundo turno, tem chances apenas com Capitão Wagner (Pros), que disputará a prefeitura de Fortaleza (CE) contra Sarto Nogueira (PDT). O pedetista é apoiado pelo pré-candidato à presidência Ciro Gomes, do mesmo partido.
A principal derrota de Bolsonaro foi em São Paulo, após a queda brusca de Celso Russomanno (Republicanos). Maior adversário do presidente e também pré-candidato ao Planalto, Doria sairá mais fortalecido com uma eventual reeleição do prefeito Bruno Covas (PSDB), que disputará o segundo turno contra Guilherme Boulos (PSol).
No Rio de Janeiro, Bolsonaro corre o risco de ver seu candidato, o atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), ser derrotado, no segundo turno, pelo ex-prefeito Eduardo Paes (DEM). E tem de conviver com outro sinal de enfraquecimento do bolsonarismo: o vereador Carlos (Republicanos), que há quatro anos foi o campeão de votos (106.657) para a Câmara Municipal, caiu para segundo lugar com 71 mil votos, ficando atrás de Tarcísio Motta (PSol), que recebeu 86.243 votos.